José Teófilo Nunes é escritor.

Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Eu sempre agradeço aos deuses quando acordo. Depois da função do café da manhã, um mergulho, umas tragadas verdes e o dia começa. Havia uma academia de musculação entre essas vírgulas, mas depois da pandemia essa tarefa permanece suspensa.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Eu gosto de escrever pela manhã até o fim da tarde; faço intervalos entre esse período para recarregar as energias, nada programado, o corpo e a mente solicitam. A minha única preparação é fazer tudo o que tenho que fazer antes de sentar em frente ao computador, preciso estar livre de qualquer desatenção para as ideias fluírem.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Eu tento escrever todos os dias, mas não tenho uma meta de escrita diária, quando fico sem escrever, ou estou sem projeto ou estou preso em determinado ponto da história ou por estar longe do meu ambiente de trabalho.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
A ideia surge como uma cena de filme traçando uma macro visão da história; geralmente eu visualizo o início e o fim, os protagonistas surgem nesse momento, a decupagem da história aparece quando estou escrevendo, assim como as outras personagens e as pesquisas que se relacionam com o universo imaginado. O começo não é tão difícil, pois geralmente tenho uma imagem clara da cena que vai ser descrita. O miolo é um pouco mais complicado, pois vão surgindo lugares e pessoas que até então não sabia que existiriam.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Tento escrever todos os dias, mas não me cobro por isso. A ansiedade aparece nos momentos em que a narrativa trava por uma ideia que não se sustentou ou pela falta de cadência nos parágrafos. O mercado literário no Brasil para autores desconhecidos é muito difícil, por isso não nutro muitas expectativas quanto ao sucesso do trabalho, mas fico feliz quando recebo elogios de algum leitor sobre o livro.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Muitas vezes, eu não consigo passar para o próximo capítulo se o anterior não for revisado. Depois do livro finalizado, eu reviso algumas vezes antes de enviar para um revisor. Eu mostro o trabalho finalizado para duas pessoas, meu marido e minha irmã.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Faço tudo no computador, anotações, genealogia das personagens, pesquisas, áudios que gravo no celular de ideias que surgem em momentos inesperados, mas tenho ao lado do computador um cadernos de rabiscos que uso de vez em quando aparecem palavras ou pensamentos relâmpagos.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Sou formado em artes cênicas; o cinema, o teatro, a literatura, a música, a pintura, tudo alimenta o gênero no qual me identifico como escritor – policial, suspense, mistério e dramas psicológicos.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Aprendi a dispensar os supérfluos da narrativa, desapegar de certas ideias que insistem em permanecer nas linhas, mas acho que não houve uma mudança significativa nesse processo.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Tenho um projeto com meu grande amigo multifacetado Marco Bravo para roteirizar para o cinema o meu primeiro livro “Tumulto em Noites de Blackout”, mas ainda estamos nos primeiros passos. O livro que gostaria de ler e ainda não existe é sobre a extinção do “bolsonarismo” no Brasil e do presidente, um ser abjeto que ocupa um lugar que nunca deveria ter sido seu.