José Carlos Vieira é jornalista, editor do Correio Braziliense.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Vida de jornalista é uma corrida só. Tomo conta de três editorias no Correio Braziliense: Cultura, Cidades e Revista do Correio. No meio desse turbilhão de informações, aprendi que um escritor não pode ficar esperando “um santo baixar” para começa a produzir. Sim, trabalho com palavras todos os dias e seleciono algumas para colar no papel branco das minhas emoções. A partir daí, vem o processo de lapidação e testes. Para crônicas, um ritmo. Poesia, outro… e assim por diante. Importante: o olhar poético não se perde no meio dessa correria.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Às vezes, acordo de madrugada, com o texto quase pronto para ser registrado na página. Outras vezes, uma boa música e um vinho estimulam a uma viagem escrita. Invejo poetas como Manoel da Barros, Drummond, que preparavam um tempo (normalmente manhãs, bem cedinho mesmo) para a criação literária. Não consigo. É tudo misturado. A decantação vem mais tarde.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Sou anárquico (não sou exemplo para ninguém), prefiro ser aquela antena captadora de emoções, que depois as armazena nas gavetas mentais e, em algum momento não predeterminado, começa a conectá-las. Há dias em que não durmo pensando na melhor estrutura para um poema. Desgastante, às vezes.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Ler, ler, ler… sem parar. Depois de muito ler, escrever, escrever. Depois de escrever, reescrever, reescrever até as pontas dos dedos reclamarem nas teclas do computador. Isso! Escrever rima com dor!
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Tenho uma ótima relação comigo, sei das minhas limitações e das minhas qualidades como escritor. Correspondo ao cara que me imaginei na juventude, aos escritores que me formaram durante todo esse tempo. Adoro minhas brigas internas e minha coerência literária. Mas estou sofrendo com um romance que comecei a escrever há 9 anos e que ainda não o concluí. Por estar “brigado” com o personagem principal.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
A palavra é um espelho para quem escreve e para quem lê. Dependendo do meu estado de espírito, amo o meu texto. Em outro momento, o odeio. Para quem lê, serve o mesmo amor e ódio.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Em qualquer plataforma. Do guardanapo ao bloco de notas do iPhone.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Respeito muitos os livros que escrevi no passado. Cada um tem um motivo, uma razão de existir. Mas não curto ficar relendo o que já foi publicado. Está feito, está mundo. Vamos às novas conquistas…
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Quero fazer as pazes com o personagem que protagoniza o livro que comecei a escrever. Ou não.