João Paulo Bachur é professor do mestrado em direito do Instituto Brasiliense de Direito Público (Brasília).
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Minha rotina matinal é de exercícios físicos e de cuidado com meus filhos pequenos; então isso dificulta bastante reservar uma parte do dia – especialmente as manhãs – para a escrita. Além disso, as rotinas não devem ser camisas de força, elas funcionam dependendo de sua estrutura familiar, seu estilo de vida e do que você está escrevendo. Em meu trajeto, alternei momentos de escrita profissional sob pressão, escrita acadêmica como bolsista em dedicação integral e escrita acadêmica paralela à atuação profissional. O importante é encaixar na rotina um período em que você possa se desligar das redes sociais e do celular para trabalhar com constância por umas quatro ou seis horas.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Aproveito os momentos em que a casa está silenciosa, às vezes nos finais de semana pela manhã ou à noite, ou então janelas durante a tarde entre um compromisso e outro. Como não tenho o dia todo para escrever, tem que funcionar assim! Como ritual, costumo colocar o celular no silencioso, fazer um chá ou um café, nada de comida nem música. Inicio relendo as últimas páginas escritas, para aquecer. Daí vou mexendo aqui e ali, parágrafos novos vão se formando. Depois de uma hora assim, começa a fluir.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Sem meta de escrita diária. Isso não cabe mais na minha rotina familiar. Tinha essa meta durante o pós-doutorado na Alemanha e funcionava (duas páginas por dia, considerando 200 dias no ano). Já tive também meta de carga horária: 20 horas semanais no doutorado, o que equivalia às tardes de sábado e domingo, e algumas horas à noite alguns dias por semana. Quando se está escrevendo um trabalho de fôlego, é importante ter metas desse tipo para não se distanciar muito do texto. Para artigos, prefiro concentrar o trabalho em um final de semana, alguma coisa assim.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Em geral é a escrita que dita o ritmo da pesquisa. Óbvio que, no começo de qualquer trabalho, é a leitura o insumo principal. Mas a partir de um certo ponto você precisa focalizar a leitura e isso só vem com a escrita. É a redação que te joga de novo na biblioteca para buscar aquilo que seu texto está te demandando.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Constância. Se você se habituar a escrever rotineiramente, verá o texto se formando aos poucos. Isso dá confiança de que você vai chegar no final.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Reviso o texto inúmeras vezes. Reviso até conseguir ler o texto uma vez, do início ao fim, sem mexer uma vírgula. Quando chego nesse ponto, o texto pode ser submetido.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Tudo no computador. Acho prático ter tudo no Dropbox, em arquivos eletrônicos, grifados, fáceis de localizar. Não gosto da ideia romântica de lápis e papel, como se a escrita fosse algo metafísico que dependesse do seu estado de espírito e de uma inspiração sobre-humana. Escrita é trabalho. Então, quanto mais prático, melhor.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Só consigo escrever quando estou lendo. No momento, passo por uma inflexão em minha produção acadêmica – migrando da teoria social para pesquisas empíricas com foco no Brasil, algo que nunca fiz e sobre o qual tenho muito pouca leitura. Então estou totalmente perdido, lendo um monte de coisas aleatórias, clássicos e contemporâneos, pra ver se consigo achar um rumo. Tenho uma intuição, claro, mas pra começar a escrever algo novo tenho que ler muito ainda. E leio muita literatura. Essa é a principal fonte. Há passagens de Philip Roth que são mais inspiradoras que clássicos de sociologia, por exemplo.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de sua tese?
Acho que ganhei em objetividade e capacidade de síntese. Menos é mais em quase tudo na vida, e na escrita também é assim. Na tese, acho que gostaria de ter menos apego a textos escritos e mantidos. Poderia ter deletado mais.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Escrever literatura. Mas não sei se consigo. A conferir.