João Mendonça é escritor.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Acordo, tomo uma xícara de café e depois faço o que mais gosto: caminhar. Adoro ficar suado, ver as pessoas na rua e sentir o sol. Ando sem camisa justamente para curtir mais os raios solares e o clima de Salvador geralmente é muito agradável. São as caminhadas que me fazem ter uma boa concentração para começar o meu dia.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Trabalho melhor logo depois de caminhar a antes de dormir. Muitos textos do meu último livro de crônicas (Quando A Luz Do Sol Desaparecer Nada Vai Se Alterar No Universo) foram feitos nas madrugadas. Gosto do silêncio, mas, às vezes, ouço música. Tenho uma estação de rádio preferida e, em alguns momentos, escrevo ao lado do aparelho de som. Depende do dia e meu ânimo varia pedindo música ou não.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Tento escrever todos os dias, mas há ocasiões em que não consigo. Tenho o hábito de nunca deletar o que escrevo, mesmo que eu ache que o texto não é bom. Eu acho isso muito importante. Quando escrevi meu segundo livro (O Sol Partido) eu comecei o livro depois de resgatar um texto esquecido que eu nem dava mais importância. Às vezes o que não parece bom na época, torna-se interessante depois que se analisa com menos envolvimento.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Eu nunca fiz pesquisa e nem tenho o hábito de tomar notas do que vejo. Até já tentei andar com um bloquinho, mas quando a cena me toca na rua, me afeta de um jeito tão particular que a nota torna-se desnecessária. Não esqueço.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Eu curto esses momentos e muitas vezes eles são longos. Posso ficar até alguns meses sem escrever. Não sei o que acontece e não tento descobrir. Quando demora muito de me sentir confiante, arrisco alguma coisa e vou tentando aos poucos, até começar a produzir novamente. Há também períodos de muita fertilidade e às vezes esses momentos também se prologam por meses.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Eu reviso muito pouco e decreto que o texto está pronto rapidamente. Sinto uma grande necessidade de mostrar o que produzo para outra pessoa, mas isso é bem complicado. Não pode ser qualquer pessoa e, muitas vezes, a pessoa que julgamos ideal para ler um determinado texto pode estar com outras coisas para fazer e não tem condições de dar um feedback satisfatório. Eu sinto uma necessidade grande de mostrar o texto, mas aprendi a me conformar que muitas vezes isso não é possível.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Escrevo somente no computador, apesar de não dominar essas novas tecnologias. Se eu dominasse tudo que está aí disponível como domino o word deixaria de ser quase um analfabeto digital.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Caminhar, conversar com pessoas, observar o dia a dia e tomar uma cervejinha num bom boteco. Esse último item é de extrema importância.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Não me lembro mais como eu escrevia há 15 anos. Nem dos métodos nem das ideias.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Eu queria escrever o livro que crio todos os dias nas minhas caminhadas. O problema é que depois de uma hora, quando eu termino de andar, o livro se encerra abruptamente e eu só volto a lê-lo na caminhada do outro dia. Assim, penso em fazer uma trilha até Aracaju caminhado com um gravador e narrar o livro para mim mesmo até ele se encerrar de verdade. Ao chegar no destino, alugo um quarto numa pousada e transcrevo o áudio para o papel.