João Lanari Bo é escritor, autor de Cinema Japonês.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Sim, uma rotina típica de quem está inserido no mundo do trabalho… apenas uma maneira de segurar a onda e ir para o trabalho, seja aula ou burocracia.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Um dos picos é por volta das onze horas da manhã, mas também no final da tarde. A escrita dos textos sobre cinema que escrevo rende melhor a partir das dezesseis, dezessete horas. Se tem algum ritual, é o esquentamento com material de pesquisa, audiovisual ou escrito. Pela demanda de horários das minhas atividades, tenho que construir nas brechas, inclusive a preparação.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Procuro escrever todos os dias, mas às vezes não é possível. A meta vai se construindo com o adensamento do texto, o modo em que ele vai encorpando. Tem aí uma relação de prazer, identificar convergências e divergências no material e na expressão.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Compilação é um processo permanente, antes, durante e mesmo depois. Sempre é difícil começar, procurar o ponto certo, os temas e assuntos que são mais confortáveis para dar o salto. Este é um tópico bastante explorado pelos grandes autores, falar do processo de escrita: agora por exemplo me ocorre lembrar do Roland Barthes, da maneira como ele se referia a essa pulsão interior de escrita – uma boa referência.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Elas, as travas, estão presentes o tempo todo. Acho um processo parecido com a psicanálise: rever o tempo todo os fundamentos, circunscrever o núcleo de resistência, tentar desbaratar… não é fácil. Mas vale à pena.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Acho que revisão é permanente, várias vezes ao longo do processo. Não mostro para muita gente, falta de hábito ou preferência pelo risco.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Computador. Incontornável.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Acho que sim, um conjunto de hábitos – sempre ligados a percepções, vivências, memórias – que acabam por cristalizar ideias. Tenho a impressão que é o modo dominante.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar aos seus primeiros escritos?
Claro que muita coisa mudou, mas me reconheço facilmente nos textos que escrevi, desde os tempos de universidade, ficção ou sobre cinema. Isso sempre fornece uma sensação de continuidade.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Não tenho esse projeto ideal e não começado, os que tenho se constroem contemporaneamente. Já os livros, são inúmeros o que gostaria de ler, existentes ou não…