Joana Monteleone é escritora.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Começo meus dias vindo para a editora Alameda e sentando em frente ao computador. Resolvo os problemas mais urgentes do dia e começo uma revisão. Quando me sinto inspirada, começo a escrever ou a fazer pesquisa.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Escrevo melhor pelas manhãs. Gosto da sensação fresca de acordar e começar a escrever. Mas isso acontece raramente. Geralmente, começo a escrever depois do almoço.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Escrevo todos os dias – o que não significa que eu acabe logo os textos. Tem artigos que demoram anos, senso constantemente reescritos e retrabalhados por causa de novas pesquisas. Percebi, durante o mestreado, que essa escrita diária é super importante pra esquentar os motores – mesmo que uma parte seja deletada depois, algumas ideias sempre ficam. Fui jornalista por um tempo, tendo inclusive me formado na faculdade de Jornalismo da PUC/SP, isso me deu desenvoltura e prática de escrita. Por isso, a ideia de escrever todos os dias faz muito sentido pra mim.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Não faço compilação de notas. As notas surgem da necessidade do texto, não são escolhidas antes. Tenho um processo meio complexo que a pesquisa, a teoria e o texto são escritos mais ou menos ao mesmo tempo, um alimentando o outro. Gosto de sempre ler teoria e a partir da teoria, tenho ideias sobre o que quero escrever. Depois começo uma pesquisa básica e a partir daí, sigo com o texto. É dele que vão sair novas necessidades de pesquisa e de teoria. É um pouco complexo, pois parece sempre que o texto está inacabado, mas acaba dando certo no final. Ao mesmo tempo, isso me permite focar realmente nas necessidades do texto, sem me enveredar pelos meandros de pesquisas que não serão utilizadas no texto final. Claro, acabo topando com documentos que não são utilizados, mas tento realmente focar no tema do texto que estou escrevendo. Geralmente, esses documentos dão ensejos e ideias para outros artigos e textos.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Aprendi como jornalista a ter foco. É preciso pensar no se está escrevendo. Colocar metas diárias de escrita é fundamental. Só assim você tem controle sobre o texto. A pesquisa é fundamental na história, mas ela tem que estar delimitada ao tema do texto em que se está trabalhando. Não adianta muito fazer um monte de pesquisa e não escrever sobre o que se pesquisou. Gosto muito de livros teóricos e de livros de outros historiadores – como Robert Darnton ou o Peter Gay, por exemplo. Ler seus livros me inspiram a escrever melhor e a fazer pesquisas interessantes.
O trabalho acadêmico é denso e complexo. Não é todos os dias que você está com vontade com desejo de escrever. Muitas vezes, nos deparamos num beco sem saída. Nesses dias, costumo gostar de dar voltas no centro de São Paulo. Andar na multidão me acalma e me dá ideias. Ver coisas diferentes, vitrines, pessoas, cenas cotidianas nas ruas, no meu caso, é muito estimulante. Volto renovada e com mais vontade de escrever.
Outra coisa que gosto de fazer quando estou sem inspiração é ler literatura ou poesia. Sem perceber, ler bons livros me inspira a escrever. Geralmente esses livros que leio são aleatórios, ou seja, não têm a ver com o texto que estou escrevendo. São apenas bons textos, escritos de maneira interessante. Preto muita atenção a frases e palavras. Por isso, que acho que me deixo inspirar tão facilmente.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Eu reviso algumas vezes. E sempre mostro para meu companheiro, Haroldo Ceravolo Sereza, antes de publicar.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Odeio escrever à mão. Acho que até travaria se tivesse que escrever a mão. Adoro tecnologia e sempre escrevo no computador. Gosto de organizar arquivos em detalhes então sempre sei aonde está um texto. Gosto dessa ideia de organização dos arquivos e textos.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Como disse, ler outros autores me inspira e me mantém criativa. Isso vale para os de literatura e os de teoria. Gosto demais de ler outros historiadores e faço isso com frequência. A pesquisa em documentos também nos mostra muitos caminhos.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Reescrever, reescrever, reescrever. Aceitar sugestões e mudanças. Reler o texto em voz alta. Todas essas dicas funcionam sempre. E ler. Pensar nas palavras e em como foram agrupadas em ideias.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Estou começando um novo projeto sobre História da Alimentação. Percebi, com meus alunos, que faltava um livro sobre Fontes e Métodos sobre História da Alimentação então resolvi escrever um. Já organizei a estrutura do livro e estou terminando o primeiro capítulo, sobre Livros de Receitas. Mais ou menos me preparo pra escrever o segundo, sobre Menus.