Jéssica Reinaldo Pereira é historiadora, escreve sobre terror no blog Fright Like a Girl.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Eu geralmente me levanto, faço café, como alguma coisa e me sento na frente do notebook. Então, organizo minha agenda para o dia, vejo quais aulas eu preciso fazer (estou fazendo pós-graduação e alguns outros cursos) e preparo meus horários.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Eu sinto que trabalho melhor no período da manhã e final da tarde. Geralmente das 9h às 12h e das 16h às 19h. Mas leio melhor no final da noite, antes de dormir (mesmo que parte do meu trabalho seja ler, pois sou revisora, digo leitura por fora, para pesquisa e para produção de conteúdo). Não tenho um ritual, eu só me sento e penso no que preciso ou pretendo escrever, se tem alguma pauta aberta nos blogs que escrevo, se quero iniciar uma pesquisa nova ou algo do tipo.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Não tenho meta, mas escrevo todos os dias. Se não for conteúdo para algum lugar, eu pego alguma ideia que anotei anteriormente e tento trabalhar com ela. Apesar de não ser autora de ficção, quero bastante tentar, então tenho escrito algumas coisas e guardado, como exercício.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Eu não tenho tanta dificuldade no processo de escrita. Durante a monografia da graduação eu aprendi a sentar e despejar tudo que precisava no Word, ou em algum papel, ou onde quer que seja, e depois organizar isso da forma que me parecesse melhor. Eu procuro ler tudo que preciso antes de começar a escrever. Enquanto leio, anoto coisas importantes (tenho uma quantidade assustadora de cadernos e blocos de rascunho), e só depois começo a pensar no que vou escrever. Em exceção com alguns textos dos blogs, que eu me sento e escrevo porque já refleti bastante sobre o assunto, eu costumo seguir esse caminho: leitura, leitura, anotação e depois escrevo.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Olha, o medo é enorme e me trava bastante. Sinto que eu poderia fazer muito mais se não tivesse tanto medo de errar. Mas tenho aprendido a lidar melhor com isso. Tenho amigos que sempre estão de prontidão para me lembrar que eu não preciso ter medo, que eu sei o que eu estou fazendo e que as coisas vão dar certo, que eu preciso confiar mais. A ansiedade é outra coisa que sempre atrapalha. Às vezes queremos tanto que o projeto fique pronto, que esquecemos detalhes e informações importantes no meio do caminho. Então, eu respiro fundo, vou anotando coisas que acho que precisam ser escritas no texto, pontos que não posso me esquecer, e continuo escrevendo. Sobre a procrastinação, quando eu começo um texto eu continuo nele sem muita dificuldade. Se eu sinto que preciso parar, tomo uma água e retorno em seguida.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Duas vezes, geralmente. Escrevo, leio e releio. Como a produção de conteúdo pros blogs costuma ser meio rápida, geralmente não mando pra ninguém, só envio para minha editora ou envio direto pro meu próprio blog. Mas, quando há algo incoerente, tenho amigos que me avisam e eu consigo consertar rápido. Meu único trabalho de ficção até hoje, que ficou pronto e eu resolvi publicar, foi uma flash fiction e eu mostrei pra uma amiga pra perguntar o que ela achava. Só depois de refletir demais eu resolvi publicá-la em algum lugar. E aí entra novamente o medo de não corresponder às expectativas. Muita gente me fala para tentar ir para a ficção, e eu tenho feito um esforço nisso, mas tenho bastante medo de cometer algum erro catastrófico.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Apesar de não me dar muito bem com a tecnologia no geral, eu sempre escrevo direto no computador e torço para que dê tudo certo. Minhas anotações são feitas no que eu tiver por perto: bloco de notas do celular, caderneta, guardanapo de papel. Se eu acho que preciso me lembrar daquilo até o rascunho do Twitter serve.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Geralmente não. Eu produzo muito conteúdo para terror, e assisto um filme de terror por dia para um projeto, então isso mantém minha criatividade bem fresca. Coisas que acontecem naturalmente no dia a dia, como conversas com amigos, eu sempre anoto alguma coisa. Tenho um aplicativo no celular que ele dá cenários aleatórios para prática de desenho, e eu utilizo isso para praticar a escrita também (o app é gratuito para android e se chama What to draw).
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Apesar de ainda ser muito ansiosa e muito medrosa, eu consegui adquirir um pouco de confiança no processo. Consigo ver melhor a totalidade do processo, mas consigo também dividi-lo por partes sem pirar. Paciência, respiro fundo, compreendo o que pode estar faltando e não tenho vergonha de pedir opiniões sobre o que poderia tornar o texto melhor.
Se eu pudesse voltar à escrita da minha monografia eu diria: vai com calma, você não precisa correr com isso, separa melhor esses temas que você tem muita coisa pra escrever.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Eu quero muito escrever terror infantil. É algo que quero começar logo e torço muito pra dar certo. Eu realmente não sei. Todas as vezes que um livro me surpreende muito (e muitos me surpreendem) eu penso “nossa, esse livro é um livro que queria ler e achava que não existisse”, então, eu só aguardo a surpresa mesmo.