Jean Garfunkel é um poeta que canta, um cantador que toca, um tocador que escreve, um escritor que lê.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Café preto, cigarro e duas horas de leitura na cama.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Gosto de trabalhar de manhã, por volta das dez, quando a cabeça está descansada.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Nunca consegui ter uma rotina de escrita diária. Posso passar meses em silêncio ou ócio criativo, e desembestar frenético escrevendo cinco ou seis horas seguidas durante dez ou quinze dias.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Como trabalho com poesia, meu processo de escrita é muito variável. Estou sempre caçando “borboletas temáticas”, para minha coleção de estranhamentos e espantos. O frescor do pensamento emocionado é o que starta minha verve.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Quando empaco, descanso inerte e angustiado, feito um veleiro na calmaria, à espera da próxima lufada de vento.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Reviso o poema a cada verso durante a escrita. Falo, refalo, decoro, mastigo, rumino, regurgito, cuspo fora e não desisto até me dar por vencido. Aí mostro pros pitaqueiros de plantão. Minha mulher e meus poucos amigos palavreiros na frente dos quais arrisco a me despir quase sem pudor. Quando eles não gostam me abespinho, reconsidero, não raro reescrevo.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Nunca escrevo rascunhos à mão. No computador sim.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Da leitura, sempre. E de casos que me contam. Sou muito fofoqueiro, embora saiba guardar segredos.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Ao longo dos anos fui ficando mais confiante e paciente ante os percalços. O grau de exigência também aumentou.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Gostaria de fazer um poema épico infantil, mas ainda não consegui nem chegar perto. Só vislumbro. Quanto ao livro idealizado, não sei, nunca pensei nisso. Nesse meio tempo continuo relendo Grande Sertão: Veredas, do Guimarães Rosa. Acho que este é meu livro ideal.