Jaqueline Conte é jornalista, escritora infantojuvenil e poeta, mestra em Estudos de Linguagens.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Em casa, começamos nossa rotina às 6h30, porque nossa filha estuda pela manhã. Depois que ela está na escola, sempre que posso, caminho com a nossa cachorra, Vênus, e já sento ao computador, onde, hoje, passo a maior parte do dia, entre atividades de trabalho, estudo e escrita.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Bem cedo ou depois das 22h30, quando a vida ao redor está mais tranquila. Apesar de ter trabalhado como jornalista em redação, com interrupções contínuas, barulhos de toda sorte, agitação total, hoje gosto de poder escrever sem interrupções, seja os textos acadêmicos, seja escrita a trabalho, seja projetos de literatura. Gosto de ter tempo para mergulhar no texto, mas não tenho nenhum ritual específico de escrita.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Não tenho meta diária. Quando se trata de literatura, a poesia não tem data nem hora; quando é prosa, em geral escrevo em períodos concentrados.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
A poesia é um ente que me permeia. Não tenho um processo para ela, ela é que me processa. Todo dia. De alguma forma. Assim, poemas nascem quase sempre: depois que observo algo na rua; com uma imagem que vejo pela janela; a partir de uma observação feita pela minha filha; observando as crianças, em geral, que são seres poéticos por natureza; lendo um livro; vendo uma exposição de arte; olhando para as nuvens. Como diz a Glória Kirinus, fazer poesia é se colocar em risco de metáfora. Estou sempre em risco de metáfora. Sempre que vem uma ideia ou poema pronto na minha cabeça, eu anoto, onde quer que eu esteja. Tento concentrar as anotações no “Notas” do celular, e depois passo para arquivos no computador de mesa.
Quando se trata de prosa, anoto as ideias da mesma forma. Depois, vou escrevendo aos poucos. Nunca tenho um roteiro pronto. Nunca penso: vou escrever uma história assim, em que vai acontecer isso e isso e vai terminar desta forma. Começo a escrever a partir de uma ideia ou de um personagem e deixo esse personagem me levar. Digamos que eu me coloque em risco de história. Conforme vou escrevendo, a história vai se construindo na minha cabeça. É uma coisa meio mágica esse começo. Depois, é claro, é muito trabalho de releitura e de aprimoramento, para chegar a um texto de que eu me orgulhe.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Isso acontece com a escrita acadêmica, que tem prazos e muitas vezes parece que nunca vai terminar. Há fases de procrastinação, há fases de ansiedade enorme e há fase de determinação, porque você tem prazo e quer fazer um trabalho de excelência. Acontece de tudo um pouco. E, como tudo na vida, é questão de dar foco e prioridade.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Os textos literários reviso muitas vezes e mostro para, pelo menos, três pessoas, antes de encaminhá-los para publicação. Gosto de ter diferentes olhares sobre os textos. Isso nos enriquece, permite ajustes finos e também conhecer as diferentes interpretações que nossas palavras podem alcançar.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Poesia escrevo em todo tipo de lugar. No papel que esteja na frente, na mão, no “Notas” do celular. Na primeira oportunidade, passo para o computador, porque ali fica tudo organizado.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Estar vivo é andar entre ideias. É preciso apenas estar aberto e olhar para o mundo com olhos de ver. Ajuda muito observar a natureza, fruir diversas formas de arte, reparar nas crianças, fazer perguntas para os outros e para si, colocar-se no lugar de outro, cultivar pessoas que te sejam inspiração e que te tragam sintonia.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Hoje tenho mais tempo para pensar na escrita. E isso ajuda muito. Mas não diria nada. Cada fase da vida é um processo a ser respeitado. A maioria das pessoas evolui com o tempo. Nós também. Aceitar o que você foi e tentar ser sempre melhor é uma forma de ser feliz.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Nossa, tenho muitos projetos. Gosto de fazer coisas diferentes. Meu primeiro livro é de poesia para crianças; o segundo é uma novela infantojuvenil; o terceiro será um conto, com conteúdos extras na web. Tenho um projeto de poemas que foram musicados lindamente pelo Ronald Magalhães, que acabamos de inscrever na Lei de Incentivo à Cultura e que está bárbaro; tenho projetos com poesia e fotografia; projetos com poesia e moda. Projetos individuais e coletivos. Enfim, a vida nos oferece diferentes caminhos na estrada do literário e sou curiosa por natureza; gosto de me reinventar sempre.