Janaina Tokitaka é escritora de livros infantis e juvenis e roteirista.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Minha rotina matinal é bem caótica. Eu acordo entre seis e meia e sete da manhã. Meu marido, (que também é roteirista) me faz um pão na chapa, que eu como com a minha filha de três anos, no sofá, enquanto respondo aos e-mails de trabalho pendentes e ela vê Pocoyo. Ela vai para a escola lá pelas oito, e só então começo a escrever o que quer que seja.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Estranhamente, de manhã. Entre 8h e 11h da manhã meu cérebro funciona muito bem. É quando eu encho minha xícara de café de novo e já começo a martelar o teclado, sem pensar muito. Mas eu nunca precisei de rituais pra escrever. Entendo quem precisa, de verdade, mas a minha rotina de mãe de criança pequena é tão complicada que se eu acrescentar mais um passo no meu dia-a-dia de escritora eu não conseguiria cumprir nem uma entrega, quanto mais as cinco simultâneas que geralmente tenho que cumprir toda semana. Eu tenho uma única mania: gosto de escrever sozinha. Até consigo escrever com gente olhando, em cafés, produtoras e tal, mas honestamente acho meio esquisito.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Um muito, todos os dias – mas quando estou cumprindo outras funções, como ilustrar ou ler roteiros da equipe pra dar notas, eu prefiro condensar os períodos de escrita ao máximo. O resultado é bem melhor se tenho seis horas seguidas para escrever do que se eu tenho que picar estas mesmas seis horas no meio de outras atividades.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Não acho difícil, mas eu sou clinicamente ansiosa. Então, quando eu sinto que posso escrever, já saio correndo e digitando o que me vêm à cabeça logo de uma vez – depois edito com calma, claro. Não me entenda mal, eu sou bem criteriosa e adoro pesquisar – mas quando finalmente sinto que estou pronta pra começar, não tem nada que me impeça, nem as travas e inseguranças que todo mundo tem.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Eu faço terapia! Fora isso, a maternidade me obrigou a gastar menos espaço mental com esse tipo de coisa, que antes me paralisava muito mais. Hoje em dia eu tenho pouquíssima ansiedade com projetos longos – ao contrário, eles me trazem calma e um sentimento de permanência e rotina. O que acontece é que eu preciso me organizar financeiramente, caso eles sejam pessoais, como a minha Graphic Novel. Apesar dela já ter editora, contrato formalizado e etc, é uma empreitada tão longa que não haveria advance no mundo capaz de cobrir todo o tempo de trabalho.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Depende do trabalho – como roteirista, o tempo possível – uma ou duas leituras. Livros exigem uma revisão um pouco mais cuidadosa. Tenho alguns leitores teste e sempre agradeço muito as críticas e sugestões de todo mundo. É difícil me deixar chateada ou ofendida, acredito mesmo que se a pessoa gastou tempo elaborando aquela crítica, ela deve ser levada em consideração. Se eu vou acatar ou não, daí são outros quinhentos, mas considero todas.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Eu gosto muito de coisas analógicas, mas escrevo no computador, que nem todo mundo. No google docs, mesmo, pra não perder se o HD queimar. Recomendo o software Scrivener – é meio caro, mas ajuda muito a organizar pesquisa e oferece formatações diversas, de roteiro à romance ou publicação científica.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Da observação da vida e de outras histórias. Eu gosto de manter na minha rotina pelo menos uma atividade criativa livre, sem nenhuma obrigação de tratá-la uma profissão extra. Cozinhar, fazer cerâmica, desenhar sem compromisso, qualquer coisa do tipo. Esse movimento de precarização do trabalho faz com que a gente queira transformar qualquer coisa em fonte de renda, mas, correndo o risco de soar como a escritora de livros infantis que sou, repito que é importante manter um espaço pra atividades lúdicas na vida.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Hoje em dia eu sofro menos e não acho que minhas ideias são tão únicas e especiais assim. Se uma já foi feita ou não deu certo, paciência, parto para a próxima. Não diria nada, porque quando eu comecei não gostava de ouvir ninguém, mas acho que essa fase é um passo chatinho mas importante na formação do escritor.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Quero escrever um livro de terror. Até já ensaiei começar, mas não sei muito bem pra onde ele vai ir. Gostaria muito de ler um livro sobre as mulheres na história da música. Será que já existe e eu não conheço?