Jacques Fux é escritor, autor de Nobel (2018).
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Gosto de escrever bem cedinho. Acordo ansioso, cheio de ideias. E o trabalho começa bem animado. Escrevo quase durante o dia todo, porém em torno de duas páginas. Não mais que isso.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Sempre cedo. Acordo às cinco da manhã, tomo meu café, banho e começo a escrever, ler, pensar no que estou desenvolvendo.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Quando estou escrevendo um livro, sim. Todo dia, inclusive feriado e fim de semana. Não posso parar. Digo que preciso me livrar das palavras. É um período de muita angústia.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Ao longo do caminho, novas ideias vão surgindo. Você tem uma vaga noção do que quer fazer, de onde quer chegar. Mas ao ler, pesquisar, escrever, conduzir a narrativa, tudo começa a mudar. E isso é muito bom. Você não sabe aonde vai chegar… mas tem que trabalhar o suficiente para chegar lá!
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Quando estou desenvolvendo um livro, me censuro e policio muito. Você tem que acordar e ficar na frente do computador até conseguir produzir suas duas páginas. É isso ou nada. E a coisa quase sempre dá certo. Porém, depois de um projeto finalizado – quando digo finalizado quero dizer depois das mais de trinta reescritas – aí é muito difícil pensar em outro projeto. É uma dor danada. Estou nesse processo agora. Não consegui ainda voltar e concentrar em um novo projeto. Esse talvez seja o pior período – o da ressaca intelectual.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Muitas e muitas vezes. Exaustivamente. Mostro para uma amiga em quem confio. Ela é bem cruel, mas escuto muito suas opiniões. A parte da reescrita é a mais gostosa do livro. É como lapidar um diamante bruto. Retirar o diamante da montanha é doloroso – e é nesse momento que a coisa pode ir para o brejo – mas depois de retirado, aí as reescritas são bem prazerosas.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Tudo no computador. Sou tão angustiado e ansioso que não consigo escrever no papel. Eu acabo não conseguindo ler o que escrevo.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Sempre da leitura e das pesquisas acadêmicas. Gosto muito de ler teses de doutorado.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de sua tese?
Acho que aprendi bastante, mas precisei ter percorrido o caminho que percorri. Acho legal ver o que me tornei, mas acho que tenho muito, muito, muito ainda a aprender e sobretudo a ler. Tem tantos livros maravilhosos que ainda não li…. e há tantos outros que quero e preciso reler.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Eu quero abraçar o mundo! Queria ler os livros no original – no russo, no iídiche, no hebraico, no alemão…. e queria conseguir escrever literatura de qualidade em outras línguas…