Jacqueline Souza é escritora e professora.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Na verdade, meu tempo é bem ocupado. Não comentarei somente da minha manhã, mas da minha rotina de trabalho. Pela manhã, faço tudo com pressa, entretanto paro um pouco para o meu café, o qual não dispenso por nada no mundo. Enquanto isso, verifico meus e-mails e redes sociais. Depois vou para o trabalho. Estou na área da educação como Professora Coordenadora do Núcleo Pedagógico da Diretoria de Ensino Leste 4, o que me confere uma rotina bem puxada, faço acompanhamentos com visitas às Unidades Escolares, reuniões diversas, formações de professores coordenadores das escolas, cursos, além da construção e validação dos cadernos do aluno e validação das avaliações da aprendizagem em processo da Secretaria da Educação. Ufa! Em suma, um grande aprendizado. À noite dou atenção para minha família e para o trabalho voluntário.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Sinto-me mais à vontade à noite. Às vezes, a inspiração chega durante a madrugada. Já perdi boas histórias por não querer levantar para escrever, achando que pela manhã iria me lembrar.
Quanto à preparação da escrita, em alguns momentos, preciso do silêncio para liberar a imaginação, em outros, a música me inspira. Depende muito do meu dia e do meu humor. Não tenho rituais para preparar a escrita, porém necessito de ter um bom café para a inspiração…
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Quando eu trabalhava meio período, tinha a tarde livre para me dedicar à escrita e para pesquisar sobre o assunto a ser abordado. Hoje isso é um pouco complicado. Infelizmente não tenho o tempo que gostaria de ter para escrever. Como trabalho 40 horas por semana, fica difícil ter uma rotina de escrita. Às vezes, deixo para o fim de semana.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Meu processo de escrita é bem simples, basta me isolar no outro quarto da casa ou na sala, no silêncio ou ouvindo músicas, que a história vem. Vou escrevendo e escrevendo…
O começo é um pouco difícil de ser colocado no papel. Uma vez tive de fazer o início quando já estava bem adiantada na história. Quando me proponho a escrever, simplesmente as imagens vêm à minha mente como um filme e vou descrevendo rapidamente para não perder nenhum detalhe. Imagino o cenário, as personagens como se estivesse fazendo parte da história. Percebo cada detalhe. Às vezes estou tão mergulhada que se alguém me chamar, vou demorar a responder. Aprendi a me concentrar assim no Ensino Médio. Tive uma professora de redação que dava o tema e queria que todos entregássemos para ela rapidamente, então me fechava em mim mesma, como se o som dos colegas não me perturbasse e escrevia…
Ao escrever um conto, por exemplo, consigo em um dia. O meu livro A lenda do bebê-demônio demorei bastante, porque pensava muito em como proceder para realizar algo com muitas páginas. Fiz muitas pesquisas sobre o período da Inquisição, li “Malleus Maleficarum – O martelo das bruxas” para saber como as mulheres consideradas bruxas eram presas e o que acontecia a elas. Vi diversos documentários sobre o assunto. Deu muito trabalho, no entanto, uma satisfação muito grande em aprender mais e deixar meu leitor com a certeza de que busquei muitas informações para deixá-lo a par de tais acontecimentos terríveis da época.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Com relação às travas da escrita, diria que antes de iniciar o livro, fiquei dois anos pensando como faria tal coisa. Permaneci procrastinada, com medo de enfrentar um projeto longo e me perder no caminho. Tive medo das críticas e obviamente de não corresponder às expectativas das pessoas e principalmente às minhas.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-lo?
Inicialmente eu escrevia e corrigia, passava muito tempo nos detalhes. Levei meus escritos para os meus familiares lerem comigo, querendo a opinião deles, que gostavam, obviamente. Resolvi perguntar aos meus alunos do Ensino Fundamental e do Ensino Médio, o que eles achavam do meu texto. Ficaram ávidos pela história. Um deles me disse para seguir escrevendo e depois corrigir. E não é que ele estava certo? Quando o livro estava pronto, pedi para o meu marido ler, depois minha mãe e minhas sobrinhas. Como eles gostaram, tive coragem de enviar às editoras.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Sou das antigas, gosto de escrever utilizando cadernos, folhas de almaço, até guardanapo, afinal a história pode vir à cabeça num restaurante (tento evitar). Faço muitos rascunhos, mudo tudo, conserto aqui e ali. Depois de uma boa revisão, vou digitando no computador, ainda assim, imprimo para corrigir e retorno ao computador.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Busco sempre ler muito livros, assistir a documentários, filmes e pesquisar bastante sobre diversos assuntos no tempo livre. As ideias vão surgindo e coloco-as no papel rapidamente para não esquecê-las. Tive uma infância com dois contadores de histórias: meu pai e minha mãe. Digo, com certeza, que influenciaram demais a minha imaginação e a minha criatividade. Cada vez que reuniam meus irmãos e eu para a contação de histórias, era um momento único que nos fazia viajar em mundos encantados. Sofri influências de muitos autores como: Edgar Allan Poe, Emily Brontë, Lygia Fagundes Telles, Machado de Assis, Antoine de Saint-Exupéry, Stephen King e outros, além dos diretores de filmes: Alfred Hitchcock, Steven Spielberg etc.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
O que realmente mudou no meu processo de escrita ao longo dos anos? A maturidade, os estudos, as pesquisas e a forma de ver o mundo e as pessoas ao meu redor. Sou muito observadora, gosto de “ler” as pessoas, consigo penetrar no íntimo delas e saber o que se passa com elas. Isso me ajuda muito.
Se eu pudesse voltar ao início da minha escrita, evidentemente, faria alguns ajustes. Sempre tem algo para ser mudado. Tudo é um aprendizado.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Na verdade, quero dar continuidade a um projeto que iniciei o ano passado aqui em São Paulo, que é o “Festival Cultural de Sampa”, realizado na Fábrica de Cultura Parque Belém. Durante o festival tivemos várias atrações como bandas, artistas plásticos, academia de Kung Fu e Judô, dança do ventre e cigana, Yôga, curta-metragem, conversa com escritores. Este ano pretendo fazer novamente esse festival, só preciso de um espaço para realizá-lo, pois haverá um momento para os escritores venderem e autografarem seus livros. Adoraria ter parcerias para tal intento.