Izabela Romanoff Paiva é cientista política, doutoranda na Universidade de Coimbra.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Medito, tomo banho e faço a primeira de algumas muitas xicaras de café. Emprego entre trabalho com assessoria política, organização de aulas e esta fase específica da pesquisa – estou a poucos meses de entregar minha tese de doutorado – entre 12 horas e 16 horas diárias.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Não há melhor horário, mas para que eu possa me concentrar adequadamente: nada de internet, celular, ou qualquer outra forma de interação, conversas, uso de redes sociais, etc. Várias são as pesquisas que apontam que a cada geração a capacidade de concentração tem diminuído o que estaria diretamente relacionado à quantidade de estímulos cibernéticos, então prescindo ao máximo.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Aos domingos delimito cronograma semanal do que devo ler, pesquisar, escrever. Sigo o cronograma, mas, se ao ler uma tese me deparar com bibliografia de interesse, realizo adaptações ou mudanças. Com alguma cautela e tendo a deadline em consideração. Tempo de estudo nunca é perdido, mas no mundo dos prazos para ontem prejudica a produtividade. Discussão sobre produtividade a parte, é importante classificar o que é leitura de aprofundamento, ou seja, pano de fundo, e as leituras específicas, para não negligenciar o objeto de pesquisa.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
É aí que a divisão, quando possível, entre “pano de fundo” e “objeto específico” me auxilia mais. Considero fundamental já ir organizando alguns tópicos em um mesmo documento para não acumular leituras.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Tento me conceder prazos praticáveis, o que me ajuda a não travar, procrastinar ou ficar ansiosa. A autossabotagem é uma velha conhecida dos pesquisadores, tento mantê-la a uma distância confortável. No meio acadêmico críticas são “bom dia”, algumas para agregar e outras nem por isso. É filtrar pois, afinal, a tese é sua, não precisa se sentir um lixo por não ter incluído à bibliografia do projeto um artigo de um autor de um país longínquo que saiu ontem e em uma língua desconhecida. Aliás, se alguém “aconselhar” algo do gênero, apenas sorria e siga, a pessoa em questão provavelmente nem se preocupou em ler seu trabalho, então retribua a gentileza não se preocupando com ela.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
O suficiente para traduzir o supracitado artigo em muitas línguas, preciosismo é um defeito que tento contornar há tempos.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Terrível, mas o elementar para a vida acadêmica me dedico a aprender, em geral com algum atraso, mas sim.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
O texto não mente, então é bom que esteja bem embasado, do contrário, é melhor nem escrever. Quem gosta de ler e escrever e pode se dedicar a isso, lerá e escreverá sempre que possível, um dia sem ler e escrever é um dia incompleto para mim.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Que ninguém começa lendo Dostoiévski ou escrevendo como Shakespeare. Que se você entender alguma coisa sobre este mundo inevitavelmente entenderá também que faz muito mais sentido desenvolver um estilo próprio do que ficar se espelhando no improvável.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Quero um pós-doutorado, mas antes tenho algo mais ou menos complicado para finalizar. Gostaria de ter tempo para ler coisas que já existem, parte considerável delas já se encontra em alguma estante em casa, inclusive, nomeadamente livros sobre modificações no mundo do trabalho, robótica e neurociências.