Ivy Menon é poeta.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Eu me levanto às seis da manhã. Sou totalmente diurna. Acordo ligada numa tomada de mil e oitocentos volts. Moro na zona rural e optei pelo mínimo necessário como estilo de vida. Então, caio da cama, com a chaleira no fogão para um café, absolutamente essencial para minha sobrevivência! E leite na caneca. Uma omelete (de ovos caipira). Café, com leite, e ovos fritos são vida.
Levo os netos na escola e, quando retorno, costumo voltar para debaixo dos cobertores, com o notebook no colo, para ler as mensagens, os e-mails e zanzar pelo Facebook. Leio as notícias publicadas na noite anterior e as primeiras da manhã, porque durmo antes das vinte e duas horas. Às vezes, escrevo de manhã, especialmente se estou desenvolvendo algum projeto. Corrijo poemas e contos. Revejo os escritos. Nada muito denso ou sério.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Embora eu seja diurna, acho que escrevo melhor no começo da noite. Até às vinte e uma horas, porque, depois disso, eu morro de sono. Não tenho ritual algum de preparação para escrever. Sou desorganizada, inclusive mentalmente. E meio instintiva. Intuitiva. De repente, posso escrever muito, às duas da tarde. Ou passar três meses sem uma linha sequer.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Escrevo quase todos os dias, mas não tenho horários certos para escrever. Dependo também da rotina da casa. Tenho dois netos/filhos em idade escolar, por isso estou presa aos horários deles. Meta diária para escrever, apenas quando elaborando algum artigo ou projeto especial, porém no dia a dia não me fixo em metas.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
O começo normalmente é mais difícil. Quando a gente tem o insight, a ideia inicial e consegue colocá-la no papel (no Word), o restante vai fluindo. Costumo, depois da pesquisa, ainda que seja acessando os arquivos das minhas lembranças, passar um tempo “administrando” as informações. Relendo as anotações ou os textos, livros, autores escolhidos. Brinco que pareço o Tio Patinhas em sua sala de preocupações, a andar em círculos, quando estou na fase de elaboração do pensamento, antes de começar ou continuar o texto. Se tiver uma cerveja gelada, do lado do computador, o processo fica mais rápido. (risos)
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Um horror, tudo isso. Li que o maior medo do Mário Quintana era que seu último poema fosse “tão ruinzinho quanto o primeiro”. Ora, se o grande Quintana sentia medo de escrever besteiras, imagina eu! Sou minha maior crítica. Acho tudo o que escrevo horroroso e sem valor algum. Depois de alguns meses, releio e até consigo gostar deles, os coitadinhos dos meus escritos. Penso: “e não é que ficou bonitinho, mesmo, como fulana me garantiu”. Preciso sempre da avaliação e da afirmação de pessoas especiais, como a Ângela Zanirato, grande amiga, a Ivonete, minha irmã e a Sarah, minha filha, para ter coragem de publicar os poemas no Face, acredita? O próximo livro, só quando um crítico literário me disser: “pode publicar que é bom”.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Há bem pouco tempo, publicava tudo sem revisão. E tinha MUITOS erros. Passei vergonha por isso. Agora, reviso umas cem vezes. E ainda encontro erros. Compartilho meus textos com pessoas nas quais confio, por saber que me dirão a verdade: se têm erros ou se preciso mudar alguma coisa, antes de publicá-los. Aliás, ressalto que sou muitíssimo grata à boa vontade deles em me ajudar. Eu também costumo ler o que eles escrevem e dar minha opinião a respeito, além de fazer uma pequena e primeira revisão gramatical, inclusive.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Eu amo o computador. Não tenho manuscritos, exceto algumas raras anotações de algum pensamento muito especial, se estiver na rua, por exemplo. Eu uso agenda impressa para lembrar-me das atividades diárias. Nela, anoto pensamentos especiais e, uma vez por ano, rascunho um poema. Fiz datilografia, curso de telex. Usei a IBM elétrica e a eletrônica. Fui repórter e redatora em jornais. Trabalhei em assessoria de imprensa. Depois, vieram os primeiros computadores, já na Justiça do Trabalho, em 1994. Eu brigo com os programas novos e fico muito brava, mas sempre os venço. Aprendi a driblar o computador para usá-lo a meu favor.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
As ideias e a inspiração vêm da vida. Da dureza do coração do homem. Do sofrimento. Das dores da humanidade. Do nascer e do pôr do sol. Do rio que corre. Da borboleta. Das formigas. Dos passarinhos. Do invisível. Do zum-zum-zum da praça de alimentação do shopping. Do chope com amigos. Do desconhecido. Do corriqueiro. Da solidão. Da companhia. Da chegada. Da partida. Da morte. E até do amor. Tudo que me rodeia ou que eu imagino que tenho conhecimento/informação, pode se tornar matéria prima ou inspiração para poesia, contos, crônicas e romance (este último, apenas em fase de projeto).
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
As mudanças são a única constância na vida de um escritor, a meu ver. Não há como ser estanque. A criação é o mover das águas. Aqueles círculos concêntricos que as pedras criam quando atiradas na água (como Quintana tão bem os descreve). Então, acredito que cresci muito. E mudei muito. Para melhor. (risos)
Se eu pudesse voltar no tempo, diria a mim mesma: “Ivy, por favor, leia mais ainda. E não tenha tanta pressa de publicar. Espera amadurecer. Reveja, reavalie, questione e, só então, publique”. E, ao mesmo tempo: “não seja tão dura consigo mesma. Confie mais em si. Manda bala, menina!”
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Pretendo escrever um romance. E, ao menos, começá-lo ainda este ano. Talvez publicar um livro de contos e um de poesia que já tenho prontos.
Gostaria de ler um livro sobre a história do universo (criacionista) romanceado, cheio de conceitos filosóficos, teológicos, físicos, genéticos, químicos, biológicos, matemáticos… e visto “de cima para baixo”… será que existe e não sei? (risos)