Israel Alves é escritor.

Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Meu dia nunca começa. Eu sou um vampiro. Um vampiro brasileiro. Brincadeira… Minha rotina é chata: eu acordo, vejo meu celular, levanto, escovo os dentes, preparo um café e saio para caminhar. Às vezes, quando não caminho, ando de bicicleta.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
De noite. Com certeza… De noite as coisas acontecem e eu me sinto mais disposto para escrever. Ritual? Não… Eu escrevo quando preciso vomitar alguma palavra…
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Escrevo todos os dias por causa da profissão. Sou copywriter. Mas, para além da profissão, costumo escrever quase todos os dias. Não tenho uma meta.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Meu processo é a vida. Eu vivo e depois escrevo. É como se apaixonar, entende? Você precisa fazer algo em relação ao sentimento. É bem difícil. Escrever dói demais. É muito custoso ser sincero, não é sempre que a gente consegue…
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Precisamos saber o momento de parar. João Cabral conseguia esperar. Dizem que ele era capaz de guardar um poema na gaveta por um bom tempo até encontrar o pedaço que faltava. Não tenho medo de não corresponder às expectativas alheias. Não no âmbito pessoal…
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Reviso algumas vezes. Mas só depois de muito tempo. Deixo meus textos guardados, talvez até escondidos. Eu gosto da sensação de ler alguém que já não existe mais. É como aquela coisa do rio de Heráclito, sabe? Isso acontece bastante comigo. Eu leio e depois reviso. Mas não reviso o sentido, a essência, reviso a grafia, por exemplo. Dependendo da situação, eu mostro sim.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Eu acho que a tecnologia modifica o nosso jeito de escrever. Usar o celular, o computador ou um pedaço de papel e caneta são coisas totalmente diferentes. Atualmente, estou escrevendo bastante no papel. Gosto da minha letra!
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Sei lá. Acho que ninguém sabe. As ideias são acidentais. Elas ajudam a corporificar nossas vivências por meio da imaginação e da memória. Tenho o hábito de me apaixonar. Cultivar paixões é uma forma de se manter ativo…
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Meu processo de escrita continua o mesmo… Eu preciso provocar a escrita, preciso viver.
Eu diria a verdade… Que as coisas só pioram com o tempo!
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Gostaria de escrever algum filme, tipo os do Korine, só que brasileiro. Seria bem legal poder ler a biografia do Philipp Mainländer… Acho que ela ainda não existe. Ele foi um discípulo de Schopenhauer e apologista do suicídio.