Isabela Sancho é poeta e desenhista.

Como você organiza sua semana de trabalho? Você prefere ter vários projetos acontecendo ao mesmo tempo?
Preciso visualizar tudo o que me proponho a fazer no espaço de uma semana, então costumo utilizar uma agenda simples. Essa organização funciona para mim, pois tenho sempre vários projetos acontecendo ao mesmo tempo: entre meus trabalhos autorais de escrita e ilustração, também trabalho com ilustração e design para autores e editoras, além de preparar e oferecer oficinas de escrita e leituras críticas. Com a agenda, consigo ver as brechas de tempo entre tarefas e compromissos que combinei comigo e com o outro, e como posso utilizar essas brechas para avançar até onde quero em cada projeto.
Ao dar início a um novo projeto, você planeja tudo antes ou apenas deixa fluir? Qual o mais difícil, escrever a primeira ou a última frase?
Começar pelo planejamento seria rígido demais para mim – eu não conseguiria enxergar o essencial naquilo que está me conduzindo enquanto sentido artístico. É preciso que algo criativo flua primeiro, para que depois eu possa buscar uma estrutura preliminar para esse material.
Cada frase – não importa se é a primeira, a última ou alguma do meio – me traz igual dificuldade para ser escrita.
Você segue uma rotina quando está escrevendo um livro? Você precisa de silêncio e um ambiente em particular para escrever?
Escrever um livro faz parte da minha vida, então faz parte também da minha rotina e se intercala com todas as coisas que faço. Atualmente, tenho um cômodo onde escrevo, desenho, leio. Ele é silencioso e dá de frente para duas árvores. Mas também escrevo em meio ao ruído, ao movimento e em espaços imprevistos – a criação também escapa à rotina.
Você desenvolveu técnicas para lidar com a procrastinação? O que você faz quando se sente travada?
Não entendo adiamentos criativos como procrastinação. Aquilo que crio para meus próprios livros, o faço por responder a algum sentido íntimo que, se está momentaneamente distanciado de mim, está mais vivo em outra direção – que também me diz respeito de maneira psíquica e, quem sabe, futuramente artística.
Não costumo me sentir travada, mas às vezes me vejo afastada da escrita. Quando começo a sentir sua falta, escrevo.
Qual dos seus textos deu mais trabalho para ser escrito? E qual você mais se orgulha de ter feito?
Por serem poemas sequenciados em narrativas, as escritas dos livros “A depressão tem sete andares e um elevador” (Editora Penalux, 2019) e “Olho d’água, espelho d’alma” (publicação em breve pela Editora Folheando) me exigiram mais. Também são livros de imagens poéticas que me acompanharam por dez anos de pensamento até se tornarem escrita, e por isso aqueles pelos quais sou mais afeiçoada.
Como você escolhe os temas para seus livros? Você mantém uma leitora ideal em mente enquanto escreve?
Os temas surgem a partir de imagens que me impactam, capturam e permanecem comigo por anos. Não busco leituras específicas para escrever, mas às vezes me surpreendo com a vinda de livros quase perfeitos para o momento, e que não necessariamente têm a ver com o tema. Às vezes, evocam um tom.
Em que ponto você se sente à vontade para mostrar seus rascunhos para outras pessoas? Quem são as primeiras pessoas a ler seus manuscritos antes de eles seguirem para publicação?
Após uma primeira versão completa e revisada do texto, posso compartilhar com uma ou duas amigas escritoras, para conhecer suas impressões e ver se reverberam em alguma mudança para mim.
Você lembra do momento em que decidiu se dedicar à escrita? O que você gostaria de ter ouvido quando começou e ninguém te contou?
Lembro de um momento específico, na adolescência, em que escrevi um primeiro texto que me pareceu diferente de todos os outros que havia feito antes: era uma semana em tinha lido “Perto do coração selvagem”, de Clarice Lispector, escutado um álbum do Radiohead e ouvido uma amiga me contar sobre o “teatro do absurdo”. Fiquei perplexa e maravilhada com todas essas coisas, e tentei criar algo que também surpreendesse a mim mesma.
Algo útil a ouvir quando se começa é que um texto tem elasticidade para se transformar múltiplas vezes no tempo, não precisando vir certeiro de primeira.
Que dificuldades você encontrou para desenvolver um estilo próprio? Alguma autora influenciou você mais do que outras?
Passei muito tempo insistindo em uma prosa que me parecia turva, alusiva, estranha, até entender que aquela dificuldade, na verdade, era uma tendência imprevista em escrever poesia. Demorei a cogitá-la. Então, conheci os livros de Sylvia Plath e Anne Sexton.
Que livro você mais tem recomendado para as outras pessoas?
Não há um livro que eu recomende em geral, mas livros que sugiro conforme algo que percebo em cada pessoa. Os últimos foram “Cristal”, de Paul Celan, “Hibisco roxo”, de Chimamanda Ngozi Adichie e “da poesia”, de Hilda Hilst.