Idalia Morejón Arnaiz é escritora e professora de literatura latino-americana da Universidade de São Paulo.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Em la actualidad, mi día comienza con café y cigarro, y con café y cigarro todavía paso a la etapa de revisar los e-mails, pues casi todas las cosas significativas de mi vida, hoy, dependen del e-mail. Armo proyectos con amigos que viven en otros países, tengo una intensa vida intelectual em un espacio que se ha reorganizado virtualmente, al que comparecen las palabras de amigos que dejamos de ver en el momento más intenso de la juventud. Respondo los que puedo en el acto. Reviso la información compartida en las redes sociales, actualizo las páginas de mis proyectos, leo lo que puedo en ese momento. Detrás de mi mesa de trabajo hay una ventana. Matías, mi perrito shih tzu, se acomoda allí a tomar sol y a ver el movimiento de la calle. Siempre que quiere bajar, o subir, lloriquea lo suficiente como para irritarme. No es un buen momento para escribir. Viví una época, sin embargo, aquí en São Paulo, en que conseguí hacerme de una rutina para escribir que siempre privilegió las mañanas. Fue durante los años dorados de la posgraduación. Dorados porque tenía una beca y pude comprarme una buena computadora, adquirir libros, viajar a congresos y, en consecuencia, conocer otros lugares, otras gentes. La beca cubría todos mis gastos para investigar y vivir. Entonces mantenía la rutina de escribir por las mañanas y después del almuerzo, como en horario de oficina, pues organizaba mi tiempo y garantizaba mi tranquilidad en función de la rutina de Javier, mi hijo, que entonces era un niño.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
No tengo hora mejor o peor. Necesito silencio y que mi cuerpo se encuentre dispuesto, permanecer concentrada, sentada en el mismo lugar, sin distraerme. Si estoy escribiendo nunca atiendo el teléfono. Escribir es un acto secreto. A veces escribo algo en el celular y al mismo tiempo converso con Javier. Es casi un proyecto lo que estoy haciendo, se trata de escribir una serie de poemas en los que incluyo lo que estoy viviendo en ese momento. Después tardo mucho para dejarlos con la forma y el ritmo y el tono que he encontrado para expresarme.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Un amigo escritor, autor de más de diez novelas, me dice siempre lo mismo: reserva el tiempo que puedas, media hora al menos, todas las mañanas. Siempre que pude le reservé a la escritura y a la lectura, mis mañanas enteras. A mi llegada a São Paulo la situación era lamentable, todo se alineaba contra el tiempo de la escritura. Daba clases y más clases de español en colegios, empresas, escuelitas de idiomas, alumnos particulares a quienes encontraba en cafés y bares, plazas y laboratorios, bancos, en sus propias casas o en la mía. Un desorden de horario y de rutina que me esforzaba por seguir armando alrededor de la atención y los cuidados que necesitaba mi hijo. Escribía cuando tenía un poco de lucidez, en una libreta, con bolígrafo, en los autobuses. Tenía el hábito del cuaderno, a pesar de que había destrozado todos los que había escrito en Cuba, incluyendo mis diarios. En cuanto pude comprar mi propia computadora comencé a crear mis archivos digitales, y hasta hoy continúo escribiendo directamente en la computadora, en el celular, o antes de dormir, en un cuaderno, ya en la cama. Esto es, siempre que el cuerpo se dispone. Para momentos de mucha angustia he vuelto a llevar cuadernos. A veces los reviso y voy armando poemas que paso a la computadora.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
El trabajo académico consume mucho de mi tiempo, pues también tengo que dedicarme a la investigación, que es otra forma de escritura con la cual me identifico cada vez menos, por tanto, se me hace cada vez más difícil, no es una escritura libre.
Preciso formular uma questão, que envolve uma série de leituras e de inquietações, é o momento do diálogo com os pares, onde é preciso ser responsável e coerente, criativo e inteligente. Enquanto faço as leituras, também faço anotações num caderno. Para entrar na escrita tenho que achar, como os repentistas, um pé forçado, tenho que achar uma deixa, uma entrada que considero deve ser sempre uma marca da personalidade do autor. Não digo que eu consiga algo semelhante, porém, há escritores que dizem o que tem para dizer na primeira linha, e o resto é acompanhamento da melhor qualidade.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Lido mal quando se trata da escrita acadêmica, pois tenho prazos. Já na escrita ficcional e de poesia me sinto a vontade, me dou todo o tempo de que preciso e raramente aceito uma colaboração por encomenda, a menos que já tenha algo pensado com antecedência. De fato, já recebi propostas para escrever livros sobre temas de interesse para um público amplo e nunca consegui desenvolvê-los pois um projeto longo dessa natureza é um desgaste que, no meu ver, o dinheiro não compensa. Minha ideia do que é a literatura não condiz com a necessidade de corresponder às expectativas de ninguém. Não sou uma escritora profissional.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Sempre deixo os textos de molho, volto a eles depois de passado um tempo, volto a deixá-los de molho, e assim por diante, até que considero que já estão prontos. As vezes compartilho o processo da escrita com algumas pessoas, mas geralmente é algo que faço sozinha. Especialmente quando se trata de poesia.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Trabalho diretamente no computador, faço anotações no celular, e sempre tenho vários cadernos de anotações. Também tenho um arquivo pessoal que reviso e do qual me alimento muito. Documentos pessoais, fotografias, cartas, citações de outros autores, comentários escritos à margem dos livros que leio.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Minhas ideias vêm da minha experiência de vida e, também, das vidas alheias, coisas que observo ou que escuto. A criatividade, para mim, está ligada tanto ao consumo da literatura, das artes, mas especialmente às experiências de vida; também presto muita atenção à linguagem coloquial, às letras de música. Mas preciso sempre que essa criatividade seja alimentada por um certo estado de espírito, por alguma motivação que geralmente surge do mal estar, da insatisfação, do distanciamento que tento manter com a mundo a minha volta e com meu passado.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Toda vez que olho para os manuscritos de poemas de juventude gostaria de me desfazer deles. São poemas que nunca publiquei nem publicarei. Na verdade, eles já são o que restou de tudo o que fui despejando. Porém, eles são a prova de que eu consegui achar minha própria voz. Se pudesse voltar à escrita dos meus primeiros textos publicados, sem dúvida melhoraria algumas coisas. Mas não muito. O que já está dito e feito faz parte do que hoje sou.
Que projeto você gostaria fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Sou supersticiosa com os projetos. Não falaria de algo que ainda nem sequer comecei, então não vou dizer os títulos desses futuros livros. Mas tenho dois projetos para realizar quando puder. Um está relacionado aos escritores homens que foram fundamentais na minha visão do mundo, como ser humano. O outro está ligado à cultura material, à roupa. Agora trabalho nesse segundo projeto e, paralelamente, comecei a desenvolver um terceiro projeto muito ligado ao presente, a uma experiência de vida muito intensa pela que estou passando e que vem a completar o que já escrevi em outros livros. De outro lado, se trata de um livro que prometi a um amigo que escreveria, ou seja, ainda é um livro em fase de resolução afetiva. Respeito à segunda questão, eu só tenho procurado pelos livros que eu sei que existem e que ainda não li; gosto de ler livros indicados por amigos, livros que eu não sabia que existiam. Isso é gratificante, é fraterno, cria um vínculo com outra pessoa que passa pelo amor à leitura, à literatura.