Iatamyra Rocha Freire é poeta negra.

Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Eu tenho rotina, acordo bem cedo, geralmente as 05:00 da manhã, e costumo fazer minhas orações matinais, enquanto cuido do meu jardim, que nomeei de pequena floresta urbana, pois tenho várias espécies de plantas, habitando um mesmo espaço, tenho plantas ornamentais, frutíferas, ervas, tubérculos, e horta, nesse processo sinto como reflete o dia no meu olhar, fico imersa nesse ambiente, meditando, e processando conflitos interiores, depois preparo meu café, meu banho de ervas, e sento para escrever meu primeiro poema do dia, antes de sair para cuidar do meu neto de 01 ano e quatro meses.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Para mim o melhor momento do dia para escrever é a noite, quando o silêncio, e a solidão me dizem o que atravessa meu peito, geralmente escrevo nós intervalos das minhas leituras diárias, preparo um chá, tomo outro banho de ervas para relaxar, e vou para cama, é lá que tudo se derrama dentro dos meus versos.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Eu escrevo um pouco todos os dias, e tenho meta sim, preciso ter escrito pelo menos um poema para o meu livro(primeiro livro solo, em construção), embora que muitos poemas no processo de revisão, eu descarte, e costumo atualizar minhas redes sociais com algum poema inédito.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
O meu processo de escrita para o livro, é baseado simultaneamente em escrevivência e pesquisas, apesar de ser um livro de poemas, haverá nele recortes da minha pesquisa sobre lendas ancestrais Iorubá, que Irão permear todo o livro, a minha pesquisa é epistemológica, há embasamento nela de alguns respeitáveis sites sobre o assunto, apesar do meu conhecimento empírico.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Lido de forma bem sofrida, tenho tendência de procrastinar algumas coisas, e não quero que minha escrita, absorva esse péssimo hábito, e tenho bastante medo de não corresponder as espectativas sim, por isso esse processo é doloroso.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Reviso de forma obstinada, algumas vezes aparo até depois do poema publicado nas mídias, em relação ao livro em construção, vou sim elencar algumas pessoas para ler antes dele pleitear a vida em alguma editora.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Geralmente eu escrevo direto na telinha, raras são as vezes em que escrevo nós caderninhos, só se não estou em casa, é que uso desses artifícios, e minha relação com a tecnologia é ótima, estou escrevendo nas redes sociais há mais de dez anos, e uso computador para escrever há 20 anos, costumava criar blogs naquela época, em que precisava criar do zero, e mantenho ainda o hábito de escrever no meus blogs pessoais, vez ou outra.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Minhas ideias são basicamente escrevivências, questionamentos interiores, filosóficos, e também políticos, é como se eu fosse um filtro, que necessita de experimentar as impurezas, para poder nascer água limpa, assim é minha escrita, minha escrita negra, que também consegue água potável em situações de deserto.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Mudou muita coisa, o processo de amadurecimento, e de despertar da consciência negra, ou seja o ato de me reconhecer como tal, como uma mulher negra, preta, modifica naturalmente todo o modo de criação dos poemas, agora com mais respostas do que perguntas, sou uma mulher negra hoje intelectualmente ativa, ciente de toda dor e de toda cura, e com posições firmes no meio social e político.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
O projeto que gostaria de fazer é de elaboração de escrita criativa para crianças do ensino fundamental, em escolas periféricas, e também de espaços verdes e hortas na comunidade que me circula, e o livro que gostaria de ler acredito que já foi escrito, um dia ele cairá nas minhas mãos.