Henrique Levy é poeta.

Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
O meu dia inicia-se enquanto toda a casa dorme, exceto os gatos que me seguem, mal me levanto. Após um café, sento-me e leio poemas soltos de diferentes autores. Ler poesia é a minha forma de orar…
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
A escrita de poesia não é um trabalho. Sinto-a como uma dádiva, um impulso do qual não se pode, nem se quer fugir. Escrever romances, crónicas ou ensaios é diferente, obriga-me a ser mais racional. Quando escrevo em prosa, tenho dúvidas, o que não acontece com a escrita de poemas… esses, antes de serem passados para o papel, há muito que se encontravam registados em imagens mentais, surgidas em vários momentos do dia e também durante o sono.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
A escrita não se impõe, acontece! Por vezes, há períodos longos em que não me surge a imagem de um poema, nem inspiração para começar ou continuar um romance… nesses períodos, também sou feliz!
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Não faço qualquer tipo de pesquisa. O que escrevo surge na alma, como um impulso de amor, uma necessidade de paz, um contributo para repor a harmonia no mundo, ou melhor, nas sociedades humanas.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Nunca fiquei parado em frente de uma folha de papel em branco, sem saber o que lá inscrever… Se pego num lápis, é porque o poema já há muito foi inscrito na minha mente, no coração e na alma.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Nunca faço a revisão de textos poéticos. Normalmente, peço a uma amiga, que os leia e faça sugestões estéticas, morfossintáticas ou fonológicas. Com a prosa é diferente, revejo várias vezes o texto, apesar de também me socorrer da mesma amiga e do editor para uma aturada correção e revisão do texto.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Todos os textos são escritos primeiramente a lápis sobre uma folha branca, só mais tarde os passo para o computador. Não guardo nenhum rascunho. Todos conhecem o mesmo fim, a lareira da sala onde nos aquecemos no inverno.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Para se ser criativo é necessário ter tempo para a contemplação, para amar, para conviver com a Natureza e com a alma, atenta ao amor e à compaixão. Normalmente as melhores ideias surgem-me quando estou no mar ou a escalar um vulcão. A ilha de São Miguel, nos Açores, onde vivo, é toda ela uma fortíssima fonte de inspiração poética, bem como o amor que me liga ao meu marido e a todos os Seres com os quais partilho a vida!
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Faria tudo igual, eu gosto muito da pessoa que fui nos pretéritos, a que hoje sou e molda a que encontrarei no futuro. Como escrevo a partir do lugar onde sou, não mudaria nada, absolutamente nada! Diria que os textos são fruto da realidade por mim vivida naquelas idades e por isso estão muito bem assim…
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Não tenho nenhum projeto de escrita. Escrever não é, para mim, um projeto, mas uma emergência a que tento corresponder com muita ansiedade de chegar ao fim, apesar disso, tenho entre mãos, há vários anos, um romance que gostaria de ter inspiração suficiente para terminar.
Não há nenhum livro por escrever que gostasse de ler. Tenho o grande desejo de ouvir bardos africanos a contar histórias numa língua que conheça, sem tradutor.