Henriette Effenberger é escritora.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Acordo sem despertador, mas meu dia só começa mesmo depois de duas xícaras de café preto e dois cigarros.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Para criação literária, trabalho melhor à noite, quando há menos interferências externas. Para revisão e enxugamento de textos, no período da tarde.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Não tenho nenhuma disciplina com relação à literatura. Mesmo quando estou trabalhando em romances, não me imponho metas ou qualquer tipo de horário. Também sou pouco concentrada, normalmente trabalho com facebook e páginas de e-mails abertas para dar uma olhadinha de vez em quando. Até tirei o som de mensagem do WhatsApp para não cair em tentação de ficar olhando cada vez dá sinal. Algumas vezes passo horas seguidas num texto e em outras o deixo abandonado por dias.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Eu diria que é praticamente intuitivo. Eu sento e escrevo e vou pesquisando à medida em que os assuntos que estou abordando me tragam dúvidas ou eu precise de mais elementos para escrever. Tenho sim dificuldades em iniciar a escrita se pesquisei muito o assunto, pois o texto sempre me parece um tanto artificial ou sem emoção. Tenho pesquisas prontas para um romance há mais de cinco anos. Escrevi parte dele e o abandonei. Vou recomeçar quando as pesquisas estiverem mais introjetadas e eu não precise consultar as notas a todo momento.
Via de regra, como disse anteriormente, vou pesquisando à medida em que estou escrevendo, então a transição é praticamente imediata. Para escrever um conto, por exemplo, se não me for dado um tema, sento na frente da tela em branco sem ter ideia do que irá sair dali. Os primeiros parágrafos são para eu me localizar e experimentar caminhos. Não é raro eu deletar ou reescrever os primeiros parágrafos após o conto tomar corpo.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Se por qualquer motivo a escrita trava, abandono o texto por um período e não me martirizo por isso. Fica lá, marinando, e um dia qualquer o retomo. Sou de procrastinar, principalmente quando há um prazo determinado para entregar, deixo para os últimos minutos. Não costumo atrasar nos prazos, mas entrego sempre em cima da hora. Com relação às expectativas, não sou de alimentá-las, escrevo e mando para o mundo. Se o universo acolher a minha escrita, ótimo. Se não, tudo bem também. Muito possivelmente por não viver da literatura, escrevo porque me dá prazer e, nesse caso, a opinião do outro não tem um peso tão grande. Mas é evidente que gosto de receber críticas positivas e sentir que o que eu escrevo tocou o leitor. Mas não é um aspecto que me angustia. O problema de trabalhar com projetos longos é a procrastinação, nunca a ansiedade, para mim, é claro.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Difícil mesmo é sentir que o texto está pronto. Não tenho ideia de quantas vezes o reviso. Muitas. Se escrevo dez páginas em dois dias, por exemplo, levo semanas para considerá-las prontas. Sim, normalmente peço a alguém para revisá-los antes de publicá-los (com exceção deste formulário… risos)
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Escrevo tudo diretamente no computador. Acho que até esqueci como se escreve à mão. Antes do computador usava a máquina de escrever. Sou excelente datilógrafa.
De onde vêm suas ideias?
Não faço a menor ideia. Da vida. Um ato qualquer meu ou de terceiros, uma palavra, uma imagem, uma notícia de jornal, uma matéria de tevê. Um passarinho pousado no fio. Não acredito que haja uma única fonte inspiradora. Costumo dizer que imagino que uma ideia, um poema, um tema esteja vagando no ar. Quem está com o radar apontado para aquele lugar no momento escreve um texto, compõe uma música, pinta um quadro. E dependendo da qualidade técnica de cada pessoa, a obra, seja qual for, será de boa ou má qualidade.
Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Absolutamente nenhum. A não ser o que acredito que todo escritor faz, prestar atenção nas pessoas e nas coisas ao redor dele.
O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Eu diria à Henriette adolescente: “insista!”
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou?
Escrever uma peça teatral ou um roteiro para cinema.
Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Um livro de algum historiador sério que no século XXII explicasse o retrocesso humanístico do século XXI.