Heloísa Estellita é professora da Escola de Direito da FGV-SP, doutora em Direito Penal pela USP.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Acordo naturalmente muito cedo, não ando nem cinco metros sem minha primeira xícara de café e então leio alguns jornais selecionados, online, claro.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Sempre trabalhei melhor perto da manhã, entre 7 e 14h. Mas pode acontecer de ir até tarde da noite, quando estou muito envolvida com um tema.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Depende do tema e da meta. Temas muito complexos demandam períodos concentrados, às vezes muito longos, como aconteceu comigo, recentemente, para escrever meu último livro: só foi possível escrevê-lo porque estava longe do Brasil por longos períodos de tempo. Temas menos complexos permitem dedicação em parcelas.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Um processo um tanto caótico (como imagino que seja o da maioria das pessoas). Mas, de uma forma geral, há uma ideia inicial, a leitura do material mais importante e, então, o início da escrita, que vai sendo completado com mais leitura e revisões constantes do texto. É um vai-e-vem que parece que não acabará jamais…
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Organizo as demandas por prazo ou prioridade. Melhor seria até dizer que “tento organizar”. Como há demandas de última hora, pareceres, aulas, artigos etc., não é essa uma tarefa fácil. Mas, em suma, acho que dar o pontapé inicial é importante. Às vezes, dou o pontapé inicial em algum texto que está “pedindo” para ser escrito e o salvo para continuação no futuro.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Reviso muitas vezes, muitas; e, sim, mostro a mais de uma pessoa antes de publicar. Tenho a sorte de ter um grupo de amigos-juristas que realmente fazem uma leitura crítica dos meus escritos e considero isso um privilégio.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Amo tecnologia. Sempre no computador. Eventualmente tomo notas, mas no meu tablet com caneta eletrônica.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Elas vêm da conjunção entre a realidade e a literatura. Muitas vezes, lendo um artigo, lembro de um caso interessante, e vice-versa, e aí vem a ideia e a vontade de pesquisar e escrever. Há tantos tópicos interessantes sobre os quais pesquisar e escrever… Mantenho sempre uma lista dos itens sobre os quais gostaria de escrever e, como disse acima, muitas vezes salvo um arquivo já com as primeiras linhas.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de sua tese?
Aprendi que a dedicação exagerada aos temas introdutórios é perniciosa e parecia ser uma técnica de “procrastinação” pelo temor ou ansiedade em enfrentar os temas centrais e, portanto, mais difíceis dos meus trabalhos. Gastava muita energia e tempo nesses temas e, depois, quando era hora de enfrentar o tema central, ou não tinha mais prazo ou não tinha energia. Mudei isso radicalmente nos últimos anos. Procuro dedicar a maior parte do meu tempo de escrita ao tema central do trabalho, seja ele um livro ou um artigo.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Há diversos projetos que gostaria de fazer e, a dizer a verdade, quase todos já iniciados nos tais arquivos em que guardo minhas ideias. Ali há artigos e também livros que já venho escrevendo no decorrer dos cursos que dou na GV. Oxalá um dia saiam da pasta “texto em construção” para a pasta “publicados” (risos). Depois que pude ter acesso à literatura alemã – muito importante na área do direito penal -, há mais livros que estou louca para ler do que tempo de vida para fazê-lo. Na verdade, acho que a questão seria oposta: você terá tempo de existência para ler tudo o que já existe? Acho que não. (risos)