Helena Tabatchnik é escritora, mestre em Teoria Literária, autora de “Tudo que eu pensei mas não falei na noite passada”.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Sim, porque tenho uma criança em casa. Atualmente costumo tomar café da manhã com meu filho e depois tiro um tempo no celular para responder mensagens e escrever no Facebook, que é por onde escrevo agora, durante a pandemia.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Na verdade escrevo no meio da correria do dia-a-dia. Minha vida não é muito tranquila, mas meu inconsciente é workaholic. Ele sussurra o tempo todo no meu ouvido e eu vou anotando enquanto faço feijão etc.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Não tem regra no meu caso, varia muito.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Minha escrita normalmente não envolve pesquisa. Vou anotando no celular mesmo os textos que me vêm à tona praticamente prontos (Inconsciente, seu lindo!) e me valho de muitos Ready Mades: anoto diálogos, printo conversas de Whatsapp, arquivo e-mails… E quando compreendo que livro se formou ali, arrumo tudo no laptop. Me divirto muito.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Não conta pra ninguém, mas nunca me aconteceu.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Reviso pouco, normalmente enquanto estou escrevendo já faço isso. Alguns textos podem ser mais difíceis e exigir algumas versões.
Nesse momento escrevo ao vivo no Face, as NOTAS DE CONTENÇÃO, que espero virem um livro depois, então não dá tempo de mostrar. Mas quando estou escrevendo um livro mostro pra muita gente. Tanto para minhas amigas mais próximas quanto para meus amigos escritores, “gente que acredito, gosto e admiro”.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Minhas ideias vêm da elaboração de traumas, basicamente. Da tentativa de transformar uma vivência em experiência.
Hábitos acho que não tenho, nunca pensei em me manter criativa. Só fico de ouvido bem atento a tudo que se passa ao meu redor. Minha cabeça não para, adoraria que ela tivesse botão de liga/desliga.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Meu primeiro livro, Tudo que eu pensei mas não falei na noite passada, foi lançado pela Hedra em 2014, mas escrevi há uns dez anos. O que eu diria pra mim seria, Você é uma escritora excelente, seu livro tem um ponto de vista importante, ele vai esgotar duas edições e será valioso para muitas mulheres e alguns homens, as pessoas que você mais admira já estão te reconhecendo, então corra atrás disso e PARE COM ESSE COMPLEXO DE IMPOSTORA.
Como você pode ver, o que mais mudou de lá pra cá foi minha autoconfiança.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Olha, não costumo ter projetos. Vou escrevendo a partir do que me vem do mundo e da minha trajetória. Agora escrevo as NOTAS DE CONTENÇÃO pelo face porque estou em quarentena e porque o Tudo que eu pensei mas não falei na noite passada (esgotado) ia ser reeditado pela Nankin junto com meu segundo livro, Do amor e outras brutalidades. Era para ter saído precisamente esse mês, mas isso foi antes de o mundo parar. Como me vi uma escritora sem livro, e como há um grande trauma mundial que todos estamos vivendo, passei a escrever nas redes sociais.
Sobre o livro que eu gostaria de ler, acho que não conseguiria imaginar. Mas eu gostaria muito de ter lido meus próprios livros aos dezessete anos. As coisas poderiam ter sido mais fáceis no caminho para a vida adulta.