Helder Maia é escritor, graduado em Letras – Inglês pela Universidade Federal do Ceará.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Procuro escrever três horas por dia. Uma hora e meia de manhã cedo e uma hora e meia à noite. Quando o trabalho não permite escrever pela manhã, procuro fazer as três horas à noite.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Gosto de trabalhar no período da manhã, quando a mente está mais descansada e ativa. Não possuo nenhum tipo de ritual: sento e começo a trabalhar. O importante é evitar as distrações, especialmente a internet. Se começar o dia olhando os e-mails, vendo a interação das postagens do Facebook e Instagram, dando uma olhada nas notícias do dia, quando vou ver, já perdi um tempo precioso.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Acho importante escrever todos os dias, não só para manter o hábito, como porque isto cria em você uma vontade de continuar escrevendo. Uma ânsia, por assim dizer. Mil palavras por dia é o ideal para ter uma boa produção, mas nem sempre é possível por conta de obrigações profissionais ou familiares.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Não faço muita pesquisa já que a maioria das minhas histórias, que se passam no campo do terror e suspense, não exigem. Em projetos maiores, como novelas ou livros, costumo fazer uma escaleta (uma pequena descrição de cada cena da história, do seu começo até o fim). Em projetos mais curtos como contos, geralmente tenho apenas a ideia geral e saio escrevendo. A história começa a se apresentar conforme vai sendo escrita, quase como se fosse psicografada.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Me sinto privilegiado, pois até hoje não tive problema com travas ou bloqueios criativos. Posso até não ter muita ideia do que vou escrever ao sentar, mas quando começo a digitar a história vai surgindo.
À noite, no momento de escrever após um dia de trabalho, costumava decidir que estava cansado e ia assistir a um filme ou episódio de uma série. No dia seguinte vinha o arrependimento e a autocondenação por não ter sido disciplinado e não ter produzido nada. Hoje, felizmente, tenho conseguido focar na escrita e manter uma rotina consistente. Aí, quando termino minha meta de escrita diária, me dou o direito de me premiar vendo algo.
Não costumo me pressionar pensando se as pessoas vão gostar ou não do meu trabalho. Faço o meu melhor, produzindo uma história que me agrade. Se ela me agrada, acredito que irá agradar alguém.
Faz bastante tempo que não trabalho em um longo projeto, já que estou focando em contos no momento. Meu livro A Origem do Caçador levou dois anos para ser escrito. Acredito que o importante seja não lançar logo o material antes de que se esteja completamente satisfeito com ele, apesar da costumeira ânsia de ver logo seu trabalho publicado.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Após terminar a escrita, costumo fazer duas ou três revisões do texto no máximo pois sei que, se continuar revisando, sempre acharei algo novo para modificar.
Tenho dois amigos que são meus leitores beta e que me ajudam com suas observações. O feedback deles é muito importante para corrigir algum problema de clareza ou lógica no texto, assim como para acatar sugestões que possam deixar o texto melhor.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
No computador, com certeza. Pois se torna muito mais fácil de editar o material no momento em que se está escrevendo. Além do que dispensa a trabalhosa digitação posterior de manuscritos. As máquinas de escrever, apesar de terem seu charme, não são práticas.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
As ideias surgem de todos os lugares: uma reportagem na TV, uma conversa com amigos, livros, filmes. Procuro sempre acompanhar as notícias nos jornais, pois a realidade costuma ser mais chocante e bizarra que a ficção, e uma grande fonte de inspiração.
Às vezes uma ideia surge aparentemente do nada enquanto se está tomando banho ou fazendo algo e lhe parece interessante o suficiente para ser escrita.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Acho que cada trabalho escrito representa um novo aprendizado. Tendo aumentado recentemente a constância da minha escrita, observei que minhas histórias costumavam ser muito curtas, diretas ao ponto. Agora busco trabalhar mais o clima e ritmo das cenas, buscando fazer com que o leitor as vivencie. Assim como trabalhar melhor a apresentação dos personagens, em busca de criar uma empatia dos mesmos com o leitor.
Sobre os trabalhos antigos, creio que diria a mim mesmo que buscasse ampliar o escopo da história, a explorando o melhor possível, ao invés de apresentar uma versão mais simplória desta.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Não há nada que pensei em escrever que de fato não o fiz, mas estou ansioso para dar prosseguimento a um projeto que estou rascunhando chamado Diários do Serial Killer. Será uma série de contos que serão publicados como se fossem partes de um diário, cada um dando continuidade à história de um serial killer contada em suas próprias palavras. A ideia surgiu por conta do sucesso do meu conto Conselhos de um Serial Killer, que é, de longe, meu trabalho mais popular na Amazon. Então o mesmo serial killer de Conselhos aparecerá em Diários.
Gostaria de ler um livro que de fato me assustasse, que me desse medo de verdade. Ainda não cheguei a ter esta experiência com a literatura, apenas em alguns raros casos com obras audiovisuais, como os filmes REC e Sobrenatural, assim como na série de TV A Maldição da Residência Hill.