Gustavo Matte é escritor.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Como eu trabalho em casa, acordo a hora que der. Não tenho horários matinais, muito menos uma rotina organizada. Mas a primeira coisa que eu faço quando toca o despertador é pegar o celular e dar uma navegada na internet, ver as notificações das redes sociais etc… Depois bate uma culpa e passo o resto da manhã me sentindo angustiado por ter perdido tempo com bobagem. Preciso mudar isso.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
“Trabalho” a qualquer hora. Até dormindo, porque frequentemente me inspiro nos meus sonhos para escrever algumas coisas. Ritual, nenhum.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Escrevo quando alguma ideia se torna insuportável dentro de mim. Isso quer dizer que escrevo o tempo todo, no primeiro pedaço de papel que encontrar pela frente, ou no bloco de notas do celular, porque qualquer pequeno relâmpago mental que me acomete já me dá uma sensação de epifania (sou muito impressionável). Daí, fico com aquela coisa de que não posso esquecer a “ideia genial” e saio anotando.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Não faço pesquisa. Pelo menos, até hoje, nunca fiz. Eu vou escrevendo com uma noção precária de onde quero chegar, e deixo o texto meio que ir me dizendo o que quer e o que espera de mim. Acho uma violência contra si mesmo ter um trabalho literário fechado demais, porque aí tu acorda com vontade de escrever outra coisa e vai fazer o que?, obedecer a uma ordem disciplinar auto infligida pra escrever do jeito planejado? Não, prefiro deixar o livro aberto para que nele caibam todos os meus caprichos e as minhas esquisitices diárias. Já tenho que me disciplinar bastante pra fazer os trabalhos que pagam as minhas contas. Mas, tá… Na verdade, preciso me corrigir: a pesquisa existe, sim, o tempo todo, em cada momento que eu vivo, mas ela não é uma “pesquisa formal”, se é que dá pra me entender. Eu tô sempre vivendo como quem quer descobrir alguma coisa, e isso acaba redundando na minha escrita. Minha pesquisa é essa. Minha escrita é uma pesquisa constante, mas extremamente volúvel e diletante.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Não, isso aí eu não sinto não. Acho que o meu jeito de lidar com a escrita, mais descompromissado, como eu descrevi ali em cima, acaba impedindo que esse tipo de sentimento me acometa. Só a parte de não corresponder com as expectativas – isso me incomoda bastante. Pode parecer contraditório mas, mesmo que eu não me leve tão a sério quando tô escrevendo, ou mesmo que eu tente ser mais “desprendido”, sou bastante exigente com a qualidade da escrita – ou pelo menos com o que eu julgo ser “qualidade”, essa palavra tão difícil de enquadrar…
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Ah!, isso sim! Reviso horrores, e umas revisões bestas, tipo revisão gramatical, revisão pra ver se não tem cacofonia, enfim, revisão no nível da frase mesmo, do estilo frasal, sabe?, o que no fundo tô começando a me convencer que é bobagem. Tô achando que preciso dar mais atenção pra revisão da estrutura do romance e tals… Não que eu não pense nesse aspecto, mas eu geralmente costumo considerar ele pronto depois que… bem, depois que tá pronto. Já as frases, tidas em si, parece que nunca ficam prontas…
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Olha, eu escrevo no que tiver na minha frente. Não faço muita distinção. Mas o texto final é sempre no computador.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Boa pergunta. Acho que vêm dos meus questionamentos diários sobre a minha vida, a vida em geral, a cidade de onde eu vim, o Brasil… Ah, sim: e muita coisa também vem de Oswald de Andrade.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Eu tive muita pressa pra publicar meu primeiro livro. Sabia que ele ainda não tava pronto, que tinha várias coisas malfeitonas ali que eu podia melhorar, mas tava tão ansioso querendo ver o troço na rua que botei pra publicar de qualquer jeito mesmo. Acho que eu teria mais cuidado com isso, com essa ânsia, se eu pudesse fazer diferente.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Cara, tem tanto livro que já existe, e que eu queria ler, mas que não tenho tempo, que acabei nunca pensando num livro que eu gostaria que existisse, mas não existe. E o projeto que eu quero fazer, mas ainda não comecei, é segredo. Não vou contar porque senão alguém me rouba a ideia.