Giselle Melo é escritora, neurocientista, neuropsicóloga, psicopedagoda, psicóloga e professora.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Sempre com uma caneca de café com leite de soja! Depois uma xícara de café bem forte! Já desadormecida, e de posse de todas as minhas faculdades mentais, inicio as atividades. Quatro vezes por semana, isso pode incluir sábados e domingos, me exercito na academia. Três vezes por semana atendo na clínica e visito as escolas dos pacientes, o que não é nada rotineiro! Nos outros dias da semana, me dedico aos assuntos relacionados à carreira de escritora. Respondo e-mails, escrevo, busco inspirações, faço pesquisas, vou a lançamentos de amigos, visito lugares que possam enriquecer minhas ideias, entre outras coisas.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Ah, tenho! Gosto de escrever ouvindo jazz ou música dos anos 80, em concordância com o texto a ser elaborado. No âmbito geral, não sou uma pessoa noturna no que se refere a produções. Gosto de iniciar a escrita logo após o café da manhã e costumo ir até ao cair da noite.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Escrevo em períodos concentrados. Não consigo ter metas diárias. Além das tarefas burocráticas, administrativas e domésticas, do dia a dia, trabalho como psicóloga. Meu único compromisso diário é com a leitura. Leio todos os dias à noite. A leitura faz parte do meu “ritual do sono” que desenvolvi há décadas!
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Não acho difícil começar. Sempre faço um dossiê. Mas há momentos turbulentos durante a elaboração da narrativa. Às vezes, me deparo com minhas próprias vivências sobre determinado assunto. Neste momento, percebo a necessidade do distanciamento. Passado algum tempo, volto a escrever. Com relação à pesquisa, vou realizando-a conforme necessário. No meu primeiro romance, por exemplo, fiquei três meses pesquisando, mergulhada na cultura cigana para escrever um único capítulo.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Sinceramente, hoje não dou muita bola para essas ocorrências. Elas até acontecem, mas encaro como parte do processo. A procrastinação, por exemplo, aparece quando não estou gostando de uma determinada ideia ou quando minha mente confabula sobre possíveis cenas para o enredo. O medo, da não correspondência, é um sentimento que permeia a vida de todos os seres humanos na maioria das ações de vida. Se o sujeito souber como lidar com os seus fantasmas, em outras circunstâncias da vida que não seja a escrita, também o saberá ao se arriscar em um texto. Não tenho ansiedade em projetos longos. Minha ansiedade só se refere às respostas das editoras!
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Reviso vááááááááárias vezes! Aprendi com a minha orientadora literária, Stellla Maris, que o texto sempre pode ficar melhor, ser melhor e ainda bem melhor! Sim. Sempre peço a outras pessoas que leiam meus projetos literários. Minha mãe e a Stella são minhas juízas literárias.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Talvez esse seja meu entrave, se assim pode-se considerá-lo. Não consigo iniciar qualquer história que seja no mundo virtual. Inicio todas as minhas narrativas no meu moleskine e, somente, à lápis. Normalmente escrevo as primeiras páginas nele e depois parto para o teclado. Até porque, como neurocientista, sei dos benefícios da escrita à mão, por isso não faço questão nenhuma de abandoná-la.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Nunca parei para pensar nisso. Mas como você perguntou, fico aqui pensando… Tudo e qualquer coisa pode me motivar à escrita. Por exemplo, quando escrevi um dos meus infantis, ainda não publicado, o gatilho para a ideia partiu da minha indignação à notícia que ouvia no rádio do carro, enquanto dirigia. O meu primeiro romance, “Esconjuro”, brotou enquanto eu caminhava na praia e o vento murmurava. Por isso, sempre carrego um bloquinho e lápis na bolsa para qualquer pulsação literária.”
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Ao ler esta pergunta, ri. Não tenho tantos anos assim como escritora. Tenho sim, 23 anos como psicóloga infantil e juvenil e 30 anos como professora. Na verdade, desde muito cedo já escrevia. Minha mãe foi minha maior incentivadora, tanto que aos 12 anos de idade ganhei uma máquina de escrever da minha avó materna como presente de Natal (guardo-a com muito carinho em meu apartamento) para escrever minhas poesias. Mas logo ao entrar no Ensino Médio, no colégio Normal para a formação de professores, apaixonei-me pela Psicologia e nunca mais a larguei. Com isso, a escrita, apesar de me acompanhar diariamente em minhas agendas, ficou em segundo plano. O sonho de ser escritora foi retomado em 2015. Hoje, a escritora caminha lado a lado com a Giselle-psicóloga.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Sempre tive o sonho de escrever uma trilogia. No momento não me ocorre nenhum desejo literário ainda inexistente.