Gil Luiz Mendes é escritor e jornalista.

Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Começo o dia muito cedo por conta de uma insônia crônica que persegue desde muito tempo. Então é normal que eu comece o dia antes mesmo do sol nascer. Por esse motivo tenho muito mais tempo para fazer as coisas sem muita pressa. É momento de ler, escrever e resolver os afazeres domésticos.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Costumo funcionar melhor de manhã bem cedo. Quando estou em processo de criação de algum livro gosto de escrever nas primeiras horas do dia, geralmente começando as quatro da manhã e indo até umas sete. Nem tem muito ritual, mas uma rotina de reler tudo o que escreveu até o ponto que parou, para só depois continuar uma história, tentando seguir um roteiro que já está meio preparado, mas que não precisa ser necessariamente algo que trave a criatividade, mas que guie um eixo lógico da narrativa.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Todos os dias não, mas não passo mais de uma semana sem escrever uma crônica ou esboçar um conto novo. Quando estou em processo de produção de um livro tento ser mais disciplinado, mas também não me coloco tantas metas. Escrita sob pressão nem sempre dá bons resultados.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Nasce com uma ideia de história, nem sempre muito bem definida, mas tendo um bom mote já dá pra pensar alguma coisa. A medida que a história vai tomando forma, ela toma caminhos que nem sempre são aqueles que tive na ideia inicial. Gosto de trabalhar com várias possibilidades dentro da mesma ideia. Escrevo primeiro na terceira pessoa, depois passo para a primeira ou pela perspectiva de outro personagem e no final vejo qual funcionou. Começar uma história é a parte mais fácil, depois acho que vai complicando. Fazer um o clímax do texto e dar um final que surpreenda e cative o leitor não é algo tão simples. A pesquisa é o cotidiano. Coisas que acontecem bem perto da gente e nem sempre damos tanta importância. Sou um bom ouvidor de histórias e conversas alheias, quase sempre vem daí as ideias para escrever. Geralmente junto muitas histórias que ouvi de pessoas diferentes ou fatos que vejo para ter ideia para as coisas que eu escrevo.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Procrastinação faz parte do jogo. O Gay Talese diz que todo escritor está sempre em busca de algo que o faça parar de escrever. Então não tem muito como fugir. Nesses momentos de autoengano eu procuro continuar pensando nas histórias e tomando notas para outros desfechos da trama. Não tenho essa de não corresponder as expectativas. As minhas nunca serão correspondidas por mim mesmo e não tenho como controlar a expectativa alheia. Claro que quero que o maior número de pessoas goste do que escrevo, mas não dar para saber se isso vai acontecer sempre. Sou ansioso por natureza. Assim que termino de escrever algo já quero publicar, e depois de publicar já quero entrar em um projeto novo. As ideias não param e quero colocá-las todas no papel e apresentar. Isso não é bom. Tenho procurado dar um respiro pra mente e fazer as coisas com mais calma.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Há pessoa em que confio muito os meus textos e a opinião deles é muito importante. Nem sempre são pessoas do meio literário, algumas são leitores comuns e se pra eles o que escrevo está fazendo sentido, percebo que estou num bom caminho. Costumo reler muito o que escrevo e é um processo de revisão permanente, mas há um momento que você tem que desapegar e deixar o texto seguir, senão ele vai viver em uma eterna edição. Mesmo depois de publicados, releio o que fiz para perceber onde acertei e onde posso melhorar em escritas futuras.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Ando sempre com um bloco de notas e caneta para anotar as ideias e motes para textos. Com o passar do tempo a memória não passa a ser tão confiável e, sinceramente, tenho boas ideias quando estou bêbado, por isso é preciso anotar. Passo para o computador quando já tenho uma ideia de roteiro na cabeça e faço um pequeno esboço do que pode entrar na história. Personagens, locais, cenas, situações. E só depois começo a escrever a história.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
As ideias vêm de todos os lugares, mas principalmente da rua. Retirar os fones de ouvido e perceber o que as pessoas falam dentro do ônibus, no bar, na fila do supermercado. São nesses lugares que estão as boas histórias que com uma dose de criatividade podem ficar ainda melhores. Adoro ouvir uma conversa descompromissada pela metade e imaginar como aquela situação pode ter acabado. Para manter a criatividade acredito ser importante ler muito e todo tipo de literatura. Até aquela que você nem é tão fã, mas isso ajuda a entender processos de escrita que podem favorecer na hora de contar a sua história.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Conhecimento se adquire sempre, então é normal que a escrita melhore com o tempo. A forma que eu me relaciono com meus textos e seus personagens mudou bastante. Acho que tenho mais carinho por eles atualmente. Se eu pudesse voltar aos primeiros escritos eu diria que é preciso ter mais calma. As histórias nem sempre tem tanta pressa para ganhar o mundo.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Ideias para livros tenho bastantes. Mais os dois próximos são de contos. Um próximo projeto será uma coletânea com outros escritores para retratar o Carnaval pernambucano e já estou escrevendo um livro sobre histórias de separações, divórcios e outras desventuras amorosas. Quero ler o livro que o Paulo André Moraes está fazendo sobre o início da Chico Science & Nação Zumbi e o movimento mangue.