Gian Amato é jornalista.

Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Rotina lembra tédio. É mais um mantra: ler versões digitais dos principais jornais logo de manhã. Também pego qualquer um dos livros que esteja lendo e procuro terminar ao menos um ou dois capítulos.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Escrevo a todo momento e em qualquer lugar se for preciso. É o melhor da profissão, que exige desprendimento. Nunca tive dificuldade para trabalhar em meio ao frenesi das redações, dos saguões de hotéis ou de aeroportos, seja qual for o fuso horário. Filtrar o que acontece em volta e ter olhos só para o texto nestas condições é o meu ritual.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Escrevo todos os dias sem meta diária. Como o jornalismo é imprevisível e requer um nível de alerta permanente, o ato de escrever é contínuo.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Procuro construir um grande esboço do texto na minha cabeça. Completo o que vi, ouvi e senti com muitas pesquisas, checagens, entrevistas, conversas com editores, amigos, especialistas e referências na literatura, música e cinema.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Começar é a única maneira de evitar o adiamento.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Muitas. Revisar é cortar. Seleciono e aperto o delete com desapego. Os editores leem e revisam os textos antes da publicação.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
É ótima: quando cansamos um do outro, entramos em modo não perturbe. Não consigo escrever à mão, porque é lento, não entendo minha letra e as anotações se perdem com o tempo. Sou adepto do bloco de notas digital e simples.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Não tenho uma única fonte de ideias, mas há dois hábitos que não dispenso. O primeiro é a leitura. Leio tudo ao meu alcance e anoto nem que seja uma palavra. O segundo é ouvir mais do que falar.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Se fosse possível voltar no tempo, faria uma entrevista comigo mesmo em busca de autoconhecimento.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
A vida na Terra é repleta de possibilidades e prefiro deixar que apareçam. Mas para não ser chato, vou dizer que ando pensando muito no monte Paektu. Vale para as duas perguntas.
* Entrevista publicada originalmente em 7 de agosto de 2020, no comoeuescrevo.com (@comoeuescrevo).