Gérson Werlang é músico, escritor e professor nas áreas de Música e Letras na Universidade Federal de Santa Maria.

Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Geralmente, acordo cedo, leio ou escuto um pouco de música enquanto preparo o café e só depois vou ao trabalho. Como também sou músico, a rotina depende do projeto criativo em que estou envolvido num determinado momento. Música e literatura têm processos (não gosto da palavra, uso por falta de um termo melhor) criativos diferentes, os caminhos são outros. E também dependem do que se está trabalhando, se é uma canção, música instrumental, etc. Também para a literatura, depende: romance e poesia têm momentos criativos completamente diferentes, senão opostos.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Gosto de escrever pela manhã, e se um livro está no processo final, passo a maior parte das manhãs envolvido na leitura, escrita e reescrita. Mas não tenho um ritual, no momento mais criativo, do surgimento das ideias, elas podem ocorrer em qualquer hora e lugar.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Escrevo um pouco todos os dias. Geralmente tenho vários projetos simultâneos, e cada um tem seu tempo de desenvolvimento. Não adianta, na minha opinião, querer forçar o tempo de um romance, uma novela. Eles têm seu próprio período criativo, de maturação. Nos projetos que estão num ponto de escrita mais direta, de realização do que já foi pensado, geralmente eu gosto de trabalhar em um capítulo por dia. Mas isso depende da forma do livro. No Wilde em Berneval trabalhei assim, pois eram cartas, na forma de um diário, funcionava bem. Mas em outro projeto com capítulos mais longos ou uma narrativa mais alongada, isso se torna difícil de manter.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Geralmente tenho a ideia e já começo a escrita. Depois, passo à pesquisa. Acho fundamental esse sopro de inspiração que dá início a alguma coisa. Não sou um planejador compulsivo, nem obsessivo. Gosto de algum grau de planejamento, mas considero a liberdade de ações dos personagens e o não completo planejamento de enredo elementos fundamentais para uma narrativa orgânica. É mais difícil escrever assim, mas tanto o processo quanto o resultado são mais prazerosos. Preciso viver o romance para escrevê-lo. Simplesmente ter uma ideia e colocar no papel, sem essa vivência, seria uma experiência completamente vazia de sentido para mim. Se me envolve, diverte e encanta, pode vir a provocar a mesma sensação no leitor. Se isso não acontecer comigo, dificilmente provocará uma reação significativa numa terceira pessoa.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
O romance é uma corrida de longa distância. É preciso guardar oxigênio, estar bem preparado, e não perder o foco. Demorei muito a escrever e publicar o Wilde, mas a sensação de conseguir terminar a contento dá uma força muito grande. A sensação que eu tenho é que eu terminei uma longa e fascinante corrida, quero tomar fôlego e correr de novo.
Quanto ao medo de não corresponder às expectativas, é algo que, em minha opinião, só pode ser parcialmente resolvido com a autoconfiança no que se escreve e no cuidado na escrita.
Com relação à ansiedade, se você vai trabalhar em um romance, é impossível realizar um bom trabalho sem dominá-la. Há tantas nuances e a atenção pode se dispersar em tantos focos diferentes que torna-se impossível finalizar um romance sem concentração e calma.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Reviso muito. Mostro pouco.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Geralmente ideias, rascunhos e inícios são à mão. Depois vou transcrevendo para o computador e ali desenvolvo a história.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Tenho muitas ideias, mas elas me alimentam por sua própria força. Quando sinto que algo merece ser contado, produz um efeito mágico sobre mim. Não há um hábito exatamente, como estou sempre ligado, acho que já se transformou em um vício.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Creio que estou no início. E ao mesmo tempo estou mais adiante. Como demorei a publicar, evitei alguns erros pelos quais as pessoas geralmente passam quando publicam muito cedo. Em verdade, comecei minha carreira literária publicando poesia, e evitei publicar ficção muito cedo. Se eu fosse voltar ao escritor iniciante que um dia fui, e que evitava a pressa em publicar, eu diria: faça exatamente isso, não tenha pressa.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Estou procurando, quando encontrar, certamente será meu próximo projeto. Depois que estiver pronto eu aviso.