Geraldo de Fraga é jornalista e escritor pernambucano.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Quando não tenho história na cabeça leio, pesquiso, procuro me inspirar. Quando a ideia vem, tento manter uma rotina para não perder o foco, nem o embalo. É importante não ficar muito tempo longe da história para não se afastar daquele universo e se perder no enredo.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Pela manhã para mim é melhor, por conta do meu horário de trabalho formal. Não tenho algo que possa se chamado de ritual, mas estar só e em silencio é essencial.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Não estipulo uma meta de quanto escrever por dia, mas é bom se manter sempre trabalhando na história. Se você inicia um conto e fica três ou quatro dias sem mexer nele, é como se a ideia se dissipasse um pouco. É preciso manter-se focado.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Começa sempre é o mais difícil, pois é preciso pensar bem sobre como a história será iniciada, em que ponto da trama vamos inserir logo o leitor, que personagens serão apresentados primeiros. Eu procuro fazer uma espécie de “guia”. Eu sempre anoto a ordem em que os fatos devem se descritos no conto, antes de começar a narrativa.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
É uma parte difícil. Com o passar dos anos, resolvi que só começaria uma história que já estivesse 100% pronta na cabeça. É muito frustrante iniciar uma narrativa e não completa-la. “Medo de não corresponder às expectativas” eu não tenho, sou muito seguro do que consigo ou não escrever. Como autor de contos nunca participei de projetos longos. Tenho alguns em mente, espero que consiga vencer a ansiedade.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Reviso o quanto for preciso, depende da complexidade do texto. Sempre que possível, eu peço sim para outras pessoas lerem meus contos, antes de torna-los públicos. Principalmente se forem leitores com senso crítico. Alguns amigos que escrevem também me enviam os seus, é quase uma parceria.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Só escrevo algo à mão, se eu tiver uma ideia inspiradora e quiser guarda-la com urgência, naquele momento. No ônibus, por exemplo. No mais, tudo é no computador.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Sou um consumidor voraz do gênero que eu escrevo, pesquiso o tema o tempo todo, leio muitos autores fantásticos e assisto a vários filmes e séries. Com esse bombardeio de informação, a inspiração surge. Mas não pretendo copiá-los e sim subvertê-los. Aí é só filtrar e ver o que realmente pode ser interessante de colocar no papel.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Olho para meus primeiros contos e vejo um vício típico dos jornalistas que se iniciam na literatura. São textos onde não há refinamento, todas as informações são colocadas juntas, numa sequência muito lógica, como em uma reportagem. Com o passar do tempo, me livrei disso. Mas eu não diria algo a mim mesmo, faz parte da evolução do autor.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Tenho dois projetos na gaveta. Um romance que une horror e comédia e se passa no Recife, começando na época do natal e chegando até o carnaval. O outro é uma coletânea de contos com vários autores, mas sobre um mesmo tema. O “livro que eu gostaria de ler e ele ainda não existe”? A biografia de Rubem Fonseca.