Gabriel Sanpêra é roteirista em formação e articulador cultural.

Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Eu acordo muito cedo e isso me ajuda muito em meus processos. Estou de pé geralmente às 7h e corro pra janela. Para ver a cidade e tomar um café.
Após isso eu tento me atualizar sobre as notícias e tomo um enorme copo de café.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Eu trabalho melhor nas quintas e sábados.
Deveria ser o contrário, porém no meio da semana percebo que minha mente está digerindo muitas coisas e expurgando outras também.
Eu possuo uma mesa de trabalho para os compromissos do universo CLT e tenho uma mesa para escrita. Nela eu guardo meus elementos essenciais de escrita: O álbum de fotografia da minha bisavó, que me dá inspirações para meus escritos. Mapas mentais que utilizo quando quero criar o espaço onde ocorrem estórias.
A fotografia é um elemento sempre presente em meus espaços de trabalho. Seja ela de um membro familiar ou encontrada em algum processo criativo.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Não possuo uma meta de escrita diária. Acredito muito que o bloqueio criativo não é um elemento presente para corpos diaspóricos. Pois em África, se pensa muito na pausa como um momento de cura e observação.
Então gosto de escrever semanalmente, porém posso passar duas semanas sem escrever e isso está ocorrendo de forma mais tranquila nos dias de hoje.
Já me cobrei muito em ter uma meta semanal e diária de escrita e vejo hoje que essa ansiedade possui um pé no mercado editorial e suas pressões.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Eu possuo um processo ligado a memória e observação.
Possuo um álbum de fotografias que ganhei de minha bisavó. Descobri recentemente que ela escreve neste álbum, nas partes de trás e estou em um processo de descoberta dentro destas anotações.
Então escolho uma fotografia e realizo um escrito recontando o que ocorreu numa outra perspectiva. A perspectiva de um observador que possui ligação ancestral e/ou familiar com os fotografados.
Também gosto de retirar inspirações visuais. Então, recorro muito a vídeos e curtas de cinema também.
Acredito que o escritor é um antropólogo.
Eu inclusive li em uma revista que o artista é funcionário público e que sua obra está sempre em serviço.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Como disse anteriormente. O medo de não produzir já foi um elemento de tensão.
Observava colegas postando todos os dias e ficava com certa ansiedade.
Será que devo postar com foto?
Será que devo investir mais em divulgação?
Será que meu blog está bacana?
Vejo que isso me causou muita ansiedade e hoje tento lidar com meu processo criativo de forma que eu sinta meu tempo respeitado.
E nisso, digo que posso passar semanas sem escrever, porém acredito que o escritor, o artista não se desliga quando está em observação. E isso faz com que escrever se torne parte do processo absorvido.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Não mostro para outras pessoas.
No início tinha uma pressa enorme em já publicar na internet e acabava por não revisar.
Lembro de ser chamado por um amigo de Escritor de Facebook, e ele tinha me dito que o novo poeta do busão seria o escritor nos corredores da internet.
Acredito que a revisão é muito importante. Também não dou descrédito para uma publicação com erros ortográficos.
Pois isso diz mais sobre a formação de nossa língua e a imposição de uma normalidade linguística. Do que sobre capacidades.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Eu escrevo muito em meu celular.
Meu primeiro livro foi escrito todo em meu telefone pois não possuía computador.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Sim.
Eu sou um tanto nostálgico e repetitivo quanto as minhas referências.
Sempre que estou desanimado ou alegre demais recorro a uma playlist que criei e nela possuo textos, vídeos, clipes musicais e filmes que me inspiram.
Inclusive uma curiosidade é que sou fã de teasers. Adoro ver teaser de festival e coleciono os que gosto. Me inspira muito.
Coleciono também muitas fotografias que gosto de observar para fazer estudos.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Eu acredito que me ancorei demais no que o mercado acredita ser o ideal literário. Isso me afastou no início, em conhecer referências que estavam bem próximas e na mesma cidade.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Eu possuo uma pesquisa literária que quero transformar em livro que fala sobre comemorações de aniversário.
É um complicado de poesias e fotografias de família que tenho carinho e por isso não consegui ainda concluir este processo.