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Como escreve G. G. Diniz

12 de janeiro de 2021 by José Nunes

G. G. Diniz é editora, escritora de ficção especulativa, e co-criadora do sertãopunk.

Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?

Não começo o dia de nenhuma maneira em especial. Acho que minha rotina é tomar uma meia hora para ficar deitada sem fazer nada para colocar a cabeça no lugar.

Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?

A tarde e a noite são meus períodos mais produtivos do dia; de manhã estou muito sonolenta e faço tudo muito devagar. Sobre ritual de preparação de escrita, não tenho nada complexo. No máximo eu reviso as anotações que tenho sobre o que pretendo escrever (e se não tiver feito nenhuma anotação, faço antes de começar).

Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?

Escrevo em períodos concentrados. Gosto de rascunhar tudo o mais rápido possível, então quando tenho algum projeto em andamento escrevo muito todo dia, até acabar. Mas depois que acabo, me dou o tempo que eu precisar para descansar. Às vezes, passo meses sem escrever. Isso acontece em geral depois de rascunhos de romances, que demandam muita energia.

Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?

É um processo bem simples e direto. Eu não tendo a fazer pesquisa para as minhas obras: em geral as ideias surgem baseadas em conhecimento que eu já tenho. O que faço é anotar a mão o planejamento, porque escrever à mão me força a pensar sobre o que estou escrevendo e assim eu acabo pegando erros na fase do planejamento. Mas não sou muito detalhada no planejamento: tenho uma ideia geral sobre o enredo, os personagens e o cenário, e o resto vou pensando enquanto vou escrevendo o rascunho. Por essa razão, eu busco começar a escrever o mais rápido possível depois de ter uma ideia mais ou menos completa.

Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?

Não sei se lido muito bem. Eu não sou procrastinadora, se planejo escrever uma coisa, eu só sento e faço. Porém o medo de não corresponder as expectativas tende a me paralisar, em especial se eu estou escrevendo a obra já sabendo que ela vai ser publicada. Eu me dou um tempo para processar o sentimento (o que me faz parar de escrever por uns dias) e depois eu volto ao ritmo normal.

Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?

Depende do texto. Alguns já surgem quase prontos, outros não. Para obras mais curtas, geralmente eu preciso de um rascunho e umas duas revisões. Para obras mais longas, eu demoro até quatro rascunhos para chegar à versão final, e perco a conta das revisões. Em geral eu mostro para amigos cujo senso crítico eu confio.

Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?

O planejamento e anotações faço à mão, mas rascunhar é sempre no computador. No Word, mais precisamente. Existem softwares de escrita como o Scrivener, mas acho que eles me distraem e eu não consigo manter o foco tão bem como quando escrevo apenas no Word.

De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?

Minhas ideias vêm basicamente do tipo de coisa que eu quero ler, mas não encontro, ou não encontro fácil. Eu escrevo em primeiro lugar para mim mesma. Para manter a criatividade fluindo, eu gosto de manter um hábito constante de leitura, e um hábito constante de escrita também. Criatividade é como um músculo, e criar é uma maneira de exercitá-lo. Eu não escrevo todos os dias, mas mantenho um fluxo mais ou menos constante de projetos.

O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?

Acho que finalmente entendi que planejar muito antes de escrever não funciona para mim. Não sou uma pessoa que é capaz de prever como as coisas vão funcionar antes de começar. Meu planejamento é mais um norte, um direcionamento, e não um roteiro para seguir fielmente. Para a Gabi do passado eu diria só para ter menos pressa para publicar. As primeiras coisas que a gente escreve não são tão boas, e tudo bem escrever coisas que nunca vão ver a luz do dia. É importante não apressar o processo de amadurecimento.

Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?

Gostaria de ler um romance sertãopunk, mas ninguém publicou um ainda. Ainda. Começar eu já comecei…

Arquivado em: Entrevistas

Sobre o autor

José Nunes (@comoeuescrevo) é doutor em direito pela Universidade de Brasília.

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