Frederico de Holanda é professor titular aposentado da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Não tenho, varia. Mas, em geral, levanto, tomo um cafezinho cafeinado (o único do dia, depois tomo descafeinados…), faço a bicicleta ergométrica, alguns exercícios de musculação, daí tomo um chocolate e vou para o computador colocar a correspondência digital em dia. Depois da correspondência, ataco o que porventura esteja escrevendo ou outras atividades.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Pela manhã, sou um bicho diurno, mas não tenho um ritual específico.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Não tenho meta alguma. É ao sabor das circunstâncias. Mas quando enfrento um novo artigo, trabalho intensamente durante o maior tempo possível, até terminá-lo.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Não compilo notas. Vou direto às fontes, bibliográficas, documentais ou resultados de pesquisas empíricas, e parto daí para o texto.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Não tenho ansiedade, me dou o tempo necessário.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Revisões variam. Normalmente, deixo os textos “dormirem” um pouco. Quando volto a eles em geral há o que cortar, mas pode haver também algo a acrescentar, uma referência esquecida, uma ideia correlata de outro autor que já havia lido e que me escapou… Sim, temos um grupo estruturado de pesquisa e mostro ao pessoal versões preliminares. Em geral incorporo sugestões recebidas.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Há anos escrevo diretamente no computador. Não faço quaisquer rascunhos à mão.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Das pesquisas empíricas que realizo (ou realizamos, no âmbito do grupo de pesquisa que coordeno), de leituras que deflagram novas reflexões sobre temas antigos, de uma provocação oriunda de um tema de um congresso ao qual gostaria de ir, de um convite para participar de uma coletânea de textos (em periódicos ou livros) etc.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de sua tese?
Enxuga, enxuga, enxuga… Minha escrita era muito menos elegante. Há um divisor de águas no livro Arquitetura e urbanidade – antes escrevia de um jeito, passei a escrever de outro, em grande parte devido a uma parceria com um mestre do vernáculo, Ademir Araújo Filho, que me ajudou muito na elegância e concisão da escrita. Anos mais tarde, outro divisor de águas: o livro 10 mandamentos da arquitetura. Agora, o esforço é para fazer da linguagem algo mais palatável a um público mais amplo.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Não penso em escrever mais um livro autoral. Disse o que queria sobre arquitetura, e não sou um escritor de ficção. Talvez organize mais um livro com textos diversos de parceiros de pesquisa – alunos ou colegas docentes. Gostaria que existisse um livro que explicitasse aspectos ainda obscuros da arquitetura ou do cinema – os livros que conheço ou são rasos teoricamente, ou são rasos empiricamente. Uma junção das duas coisas no mesmo livro – profundidade teórica e empírica – ainda não existe, particularmente no que concerne à Estética da Arquitetura. Entretanto, mais recentemente, meus esforços estão mais direcionados ao Cinema que à Arquitetura.