Flávia D’Angelo é escritora de prosa erótica.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Não suporto acordar cedo, somente por algum compromisso. E como boa aquariana, rotina não faz parte da minha vida. Tento evitar, mas o cigarro, desculpem, é sagrado.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Escrever para mim é um desabafo, uma catarse. Sou notívaga e adoro o som do silêncio da noite. Não digo nenhum ritual, a vontade vem sem dia ou hora marcados. Quando a vontade aparece, viro noite nas linhas rs.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Dizem que para ser poeta se deve escrever diariamente e ler muito. Por isso não me considero uma. Escrevo quando preciso expurgar, ficando dias sem escrever. Não digo regras, nem as conheço. Apenas jogo no papel o que naquele momento me gritar sair.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar?
Como você se move da pesquisa para a escrita? Acredito que pesquisei apenas para escrever uns dois poemas que me pediram. Tenho facilidade para escrever, vem e na hora começo. Uma cena, uma foto, uma desilusão, e pronto. Sem pensar me vejo escrevendo.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Não passo por isso pois escrever para mim é necessário, é esvaziar o peito, é dividir comigo o que incomoda. Consigo montar um texto em pouco tempo, acredito que o fato de não me importar se irá agradar, ou, como já dizia o grande Maiakóvski: “Eu não forneço nenhuma regra para que uma pessoa se torne poeta e escreva versos. E, em geral, tais regras não existem. Chama-se poeta justamente o homem que cria estas regras poéticas”, apenas escrevo em um estilo que foi amadurecendo, por mim, não para satisfazer ou agradar.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Nunca reviso, posso cortar uma coisa ou outra, mas penso que o que me vem no momento é o sentimento real do que quero dizer. Verve pura. Escrevo e publico. E não costumo mostrar a ninguém.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Engraçado. Minha filha diz que não sou poeta, e realmente não sou rs, pois não escrevia no papel. Não faço rascunho, o texto vem naquele momento e eu escrevo, acredite, no celular. Nem no note gosto. Algumas vezes amigos me falavam uma palavra, numa mesa de bar, e me pediam para criar um poema. Pegava um guardanapo e escrevia. Mas com certeza, raro de acontecer rs.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Por não ter a obrigação de escrever, acredito que liberdade de me expressar como e quando quero ajuda. Passo meses sem escrever. Não por vontade, mas preciso me afastar um pouco. E uma imagem, uma frase, um pedaço de uma música, uma recordação… pronto, visualizo o texto na cabeça e na hora faço um poema, prosa, o que tiver vontade. Já fiz textos para projetos de amigos poetas, gosto de desafios. É direcionado. Mesmo assim me isolo e uma pequena palavra constrói todo o resto. Sem inspiração ou vontade, não escrevo. Gosto desta liberdade.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Acredito que meu estilo se transformou gramaticalmente, mas o conteúdo do que escrevo amadureceu. Gosto mais do que faço agora. A experiências, dores, decepções tiveram grande papel nessa mudança. Comecei a escrever numa mesa de bar após uma briga com um ex. Ele publicou e todos gostaram. Tentou me ensinar regras, mas escrevo o que sinto, não fico uma semana montando um poema, procurando sinônimos para parecer mais intelectualmente escrito. Acredito que muitos se identificam com meus textos pois leem realidade. Se não sangra não me serve.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Quem sabe no futuro consiga fazer um monólogo e um curta. Sem desmerecer os poetas, mas hoje em dia qualquer um paga para publicar um livro. Independente do que pensa ser literatura. Por isso não quero livro. No momento não consigo pensar em um livro que gostaria de ler. Tem uma turma jovem que mostram seus textos pra dizer o que acho. Alguns sensacionais. Mas não querem publicar. Ainda exista uma discriminação contra poesia marginal que amo. A poesia elitista, algumas pra mim sem sentido, sem tocar fundo, são mais respeitadas pelos críticos literários. Sei lá, quanto menos entendo o sentido ou mensagem de um poema, mais sucesso faz. Mas, quem sou eu pra julgar.