Fiori Esaú Ferrari é professor de Literatura e Língua Portuguesa, autor de Meu Campo (Penalux, 2017).
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Acordo sempre por volta das sete horas, olho a janela pela manhã, o modo como penso. Vejo os prédios que são aquilo que me sobrou das árvores. Fico imaginando o cigarro e já não fumo, a vontade de tragar pra começar o dia, o dia lentamente se construindo na cidade lá embaixo, órgão a órgão, seu corpo sobre nós. Resolvo um ou outro problema que teimou no pensamento, na madrugada. Escolho a roupa com que darei aula, sou professor de Língua Portuguesa da Prefeitura de São Paulo. Não acostumo saber do café que vou tomar, amargo, uma vontade de açúcar, nem como mais pão, sou de Itapetininga, mas aquela do mato que cresceu por entre as casas sem valor, do mato que encobriu a tinta e se faz tão antigo quanto o olhar das pessoas que se foram nas fotografias do início do século XX. Abro o celular, ato antes de qualquer coisa, meu pai aparece na tela de fundo, sua bicicleta, algumas pombas, a catedral de Milão de amparo e cenário, as pessoas do ano de 1950 passando apressadas, meu pai e sua bicicleta, a tinta da foto na tela moderna. Confiro as mensagens. Preciso voltar a fumar, sei que não vou. Sempre pela manhã penso em tragar a fumaça. Assim o dia começa, assim o dia vai me tragando.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Não, não tenho ritual. Ou se repito costumes, gestos, não me dou conta. Escrevo pela noite. Mas não é a noite que me marca, que me diz. É sim o tempo que sobra no apertado do dia. Talvez ganhe por conta do silêncio que o apartamento me dá a essa hora em que todos já se foram. Me parece, furtivamente, me parece, ouço máquinas de costuras, num outro plano que se parelha com o meu e se faz ranger, trabalham continuamente, as mãos escassas, rápidas, o barulho da roda, da engrenagem, a pontuação da agulha sobre o pano. Eu sou paralelo também, por isso, escrevo. Não tenho ritual, escrevo porque me desafogo, apenas isso.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Também não há uma lógica. Por vezes todos os dias. Períodos concentrados também acontecem. Mas estes são raros, e, se querem acontecer, me impossibilitam outras coisas, as aulas que tenho de dar, os horários que não permitem muita escolha. Não há metas. Não tenho alvos, não preciso qualquer medida e toda tentativa de vislumbrar uma obra é sempre o começo do meu fracasso. Nesse ponto, sou intuitivo. Mas mais por incompetência do que por saber planejar estratégias pra atingir um alvo. Penso em livros que desejo escrever, mas são como algo que passou desavisado. São apenas imagens que não articulo ainda por doer. Sou intuitivo de uma maneira rasa, bastante doméstica e, quando sento pra escrever, digo somente o que tem me consumido.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Escrevo com música. Porque a música me enuncia. Enuncia minha dor. Escrevo porque pronuncio. E a pronúncia é música do lugar de onde vim, das vozes que me ensinaram, das vozes que me povoaram. Me vasculho sempre. Encontro escombros também. A face do mundo, um dia, a face do mundo se aproxima, rústica, cheia de sulcos, cheia de rugas, de rios. Só sei grafar se mergulhar e muita vez, quando mergulho, já não tenho mais o que contar. Eu me retiro cotidianamente da escrita vencido, não costumo gostar do que escrevo (não estou gostando agora), mas é pra mim um princípio do mundo ser da água parte sua. Eu me (en)canto na umidade, a profundidade do leito, os falares das correntes, e sei que é a partir do parto que aprendi a palmilhar. Talvez daí, do exílio imposto, da linguagem como tentativa de dirimir distâncias e ao mesmo tempo de marcar estranhamentos, talvez daí eu tire o tema da poesia que escrevo. Então a poesia fica resistência. A poesia fica denúncia. Mas é sempre, é sempre um trabalho que falta, que não se completa.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Escrevo, mas não estipulo prazos. Quando faço, quando atuo no espaço, eu não espero. Claro que a ansiedade existe. Mas escrevo quando preciso. Fico em silêncio por semanas e não ouso reivindicar algum verso. Não me considero poeta, isso não é falsa modéstia. É somente constatação da madureza que vence o olhar da gente. Sou bastante comum, tenho a herança de Itapetininga, a palavra gestada nas suas ruas, nos espaços do vento que sempre me emocionaram, o vento foi que me ensinou as vogais, meu primeiro alfabeto a chuva disse, seus diferentes modos de chover, gosto de me reconhecer caipira tanto. Quando me calo por desânimo ou necessidade, lembro que os cavalos escreviam no pasto. Essa escola foi fundamento. Então, se tudo trava, é porque tenho que ouvir uma poesia mais franca, mais dinâmica, livre. Não é bucólica nem idílica. Ela pertence ao hoje, é ferida de hoje, principia hoje. Perguntam se parei. Então lembro do fogão a lenha, do fumo picado nas mãos de Antônio, dos modos de articular e se exprimir que encontram o chão, a terra, nos diminutivos em gerúndio… tudo já está posto, escrever é sinal de impotência. Surdamente respondo pra que não ouçam: não vão procurar o poeta que aqui não acham.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Tem vez que volto inúmeras vezes num poema. Tem vez que não quero e ele permanece do jeito que escrevi denunciando a minha incapacidade. Todos os poemas, algumas exceções existem, acabo postando na rede social. Lá me leem, gostam ou não. Volto aos poemas quando os quero num livro, organização difícil e, no meu caso, bastante inócua. Arrumo várias vezes, penso em peixes, em grãos, em cardumes, em colheitas. Penso sempre em populações retiradas à força dos seus locais, populações que carregam seu dialeto como marca e enfrentamento. Meus livros são publicados, saem como palavras que têm saudade.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Hoje escrevo apenas pelo computador. Não tenho problemas. Mas se há um desejo nisso tudo quero voltar ao lápis, ao arrasto da mão que também faz vereda no papel. Faz atalhos, faz trilhas. E trilhas são as linhas do mato.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Não retorno aos meus poemas com frequência. Teve uma vez, aos nove (?) anos, que escrevi um poema sobre uma igrejinha. Ela ficava sozinha no campo. Dizia alegrias e tristezas e o sino era sua boca. Pudesse manter aquela crença e frescor. Eu pus muito desgosto no estilo, agora não sei como melhorar. Mas não preciso. Estou hoje convencido de que é tão bom ver mulheres poetas dizendo com coragem e talento absurdo, poetas maiores mesmo, o papel da poesia. Pra eu voltar e dizer lá na solidão que eu tinha “ Fiori, olha, siga por esse vão, por esse espelho…” é bobagem. Sinto o tempo de ouvir e as poetas, assim mesmo, AS POETAS me ensinam e eu só posso agradecer.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Talvez escreva poemas místicos. Não creio e o divino não me pertence. Talvez escreva poemas tendo por base episódios bíblicos. Narrativas que me tiraram do mundo que eu forjei pra me proteger. Erroneamente, sei. Me tornei adulto quando deduzi que o ser humano contava histórias por uma questão de pertencimento e aceitação da finitude. Essa é minha única fé. O livro que ainda não existe é melhor que fique, que fique guardado.
Ao dar início a um novo projeto, você planeja tudo antes ou apenas deixa fluir? Qual o mais difícil, escrever a primeira ou a última frase?
Sempre a primeira frase, sempre a última, sempre o entremeio. A dificuldade em tempos tão difíceis parece que dobra. Eu penso a todo momento num verso, numa imagem, num poema. Fica assim como sina, e muita vez insuportável, essa de ter que parar logo ali pra anotar as palavras. Eu não planejo, planejando. Quando me sento é porque já doeu muito e se isso é planejamento, vá lá, planejo. Mas é um planejamento só porque eu preciso resolver a dor e o que sai é muito confessional, muito restrito a um espaço meu. Não sou intelectual (mas acredito que aquelas/es que tratam o saber com generosidade são hoje tão necessárias/os), não alcanço longe e prefiro ficar aqui. Do meu lugar eu mesmo me erro e cuido melhor das minhas feridas.
Como você organiza sua semana de trabalho? Você prefere ter vários projetos acontecendo ao mesmo tempo?
Não há uma organização. O que há é ficar tendo de cumprir aqui e ali as responsabilidades, o que não se pode deixar de fazer, obrigações, a escola e as aulas, a presença esperançada do meu filho, as coisas do costume, do dia-a-dia. Não tenho uma hora em que digo: agora paro tudo e escrevo. Não há como parar tudo e escrever vai ficando pro limite, vai ficando pro tempo do cansaço, depois do trabalho, pro espaço em que é preciso dizer sem concessão. Claro, estou pensando no próximo livro. É um projeto. Mas acordo cedo, a vida leva a gente, tenho de achar um tempo, revisar, reler, entregar pra uns que vão ler, dizer alguma coisa, vou corrigir e sei que os erros continuarão lá, após a publicação. E todo projeto parece que de nada valeu. Mas a gente faz, continua fazendo, continua fazendo…
O que motiva você como escritor? Você lembra do momento em que decidiu se dedicar à escrita?
Não sei se a coisa tenha a ver com motivação. Fosse assim não teria lançado meu livro após os 40. Nem acho que seja por algum tipo de perseverança. A perseverança me traz um sentimento um tanto cristão, de crença de que há uma recompensa depois de tudo. Não. Tudo é bastante aleatório. Escrevo porque é assim. Preciso. Não me preparei como escritor, não me reconheço como escritor, tenho uma aguda disposição de rir disso tudo e não dou muita trela pros que se levam a sério demais. Não houve algum momento em que decidi me dedicar aos poemas. Óbvio, seria mentiroso dizer que nunca me passou pela cabeça em me tornar escritor. Modéstia falsa. É hoje que isso não me quer dizer muita coisa. Desse modo. Porque, tenho de frisar, não sou acadêmico, não tenho método apurado e disciplina e escrevo porque me escapa, muitas lacunas, bastante ignorância, atenção sempre voltada à terra, ao gado, aos elementos que me emocionaram mais que os livros. Água, fogo. Certa raiva discreta dos livros que ensinam (mas sei que precisei deles também). Um amor profundo aos livros que são abertura. A ventania é abertura, entendem? A águas são aberturas… A gente não aprende a ler histórias. Inicialmente o que a gente aprende é a ouvir. E tudo conta histórias. O poder da escrita é tanto porque a sociedade conferiu status de sagrado a quem escreve e ao ato de escrita. Me parece. Então não somos mais as pessoas que escutam. E vemos, na tentativa de escrever, algo profundamente original como se tivéssemos alguma possibilidade de dizer o nunca dito. De inventar o nunca ouvido. Impossível. A escrita apenas atrasa o pensamento. A mão se arrasta, já disseram. No entanto, sem hipocrisia, estou preso a ela.
Que dificuldades você encontrou para desenvolver um estilo próprio? Algum autor influenciou você mais do que outros?
Não sei se encontrei um estilo. Lembro dos meus 18 anos, ao lado do hoje escritor atibaiense José Antonio Martino, na Faculdade de Letras. O que queríamos era exatamente resgatar uma voz muito particular que nos desse o efeito de uma obra única ou de uma manifestação escrita que nos identificasse como escritores. Falo do Zé porque foi de fato nesse período bastante intenso que soube querer escrever. E sempre tive no amigo uma confiança que nunca depositei em mim mesmo, no que toca a Literatura e o ato de escrita. Eu estranhava a Universidade de São Paulo. A Faculdade de Letras mais me calou do que outra coisa. Me ensinou, de fato. Mas as conversas que tínhamos, ainda que muito ingênuas, ficaram aqui como uma espécie de território à parte, longe do vozerio da metrópole. Uma descontração em meio aos afazeres do adolescente que ficava adulto e não tinha vontade de deixar as ruas que quando menino brincava, o silêncio das suas noites, as grandes jabuticabeiras que beiravam o quintal da sua casa, em Itapetininga. Devo a ele (ao Zé!) muito do incentivo em publicar. Não sei mesmo se encontrei um estilo ou se tudo que tenho é um pastiche mal-ajambrado de soluções que encontrei. No entanto, é inegável que existe a busca de ter um modo muito seu, muito próprio de dizer as coisas, e, junto a isso, o desejo de construção de um artefato artístico. Posso citar muitas/os autoras/es que me influenciaram e influenciam inda hoje. Tudo me marca. Só sempre acho que o autor maior em que eu sempre me amparo é o jeito de falar do povo. Não como imitação. Mas como voz de fundo que me dá o ritmo e certo olhar. Eu sou marcado de chão. Do chão dos meus. Olho pra terra onde nasci e encontro palavras, um movimento de falar e organizar a sintaxe da vida. A escrita formal em que me expresso é muito de algo emprestado, não eu. Então tento aproximar essa coisa tão particular, que é minha formação mais empírica, com o geral, com o universo da tradição artística, precisamente da tradição escrita, poética. Acabo produzindo aquilo que não me parece nem uma nem outra coisa. Gosto muito da prosa de Ruth Guimarães em Água funda. Essa preciosidade da Literatura. Sou feliz quando me aproximo das suas palavras, me sinto em terra minha ao me abraçar a essa voz que tanto me orienta e tanto denuncia. A escrita dela é da ventania que eu tinha dito na resposta anterior. No mais, como não citar as/os poetas que acompanho com reverência, que leio diariamente? Lubi Prates, Sândrio Cândido, Nydia Bonetti, Marceli Andresa Becker, Déa Paulino (do lugar que eu vim), Amanda Vital, Ingrid Carrafa, Roberta Tostes Daniel, Paulo Gonçalves, J. A. Castro, Ana Farrah Baunilha, Wanda Monteiro, Laís Araruna de Aquino, Carlos Orfeu, Alberto Bresciani, Luanna Belmont, Seh M. Pereira entre outras/os e com certeza cometo injustiça por conta das peças que a memória prega. A prosa de Conceição Evaristo ou Maria Valéria Rezende… Tanta gente que me diz o Brasil e me mostra o caminho, a luta.
Você poderia recomendar três livros aos seus leitores, destacando o que mais gosta em cada um deles?
Silêncios prEscritos: estudo de romances de autoras negras brasileiras. Ed. Malê. De Fernanda R. Miranda. Pra mim, esse livro já tem jeito de pra sempre, de pedra fundamental. O livro trata, como o próprio nome traz, da análise das obras de oito autoras negras brasileiras: Maria Firmina dos Reis, Ruth Guimarães, Carolina Maria de Jesus, Anajá Caetano, Aline França, Marilene Felinto, Conceição Evaristo e Ana Maria Gonçalves. Questões como a colonialidade, o patriarcado, o racismo são certeiramente abordadas onde a denúncia é apenas mais um dos aspectos excelentes que o livro carrega. É uma obra de crítica literária, é importante frisar isso. A autora domina seu campo de ação e não titubeia em apontar as categorias de pensamento que afirmam o racismo, o machismo e o sexismo que determinam o cânone literário no Brasil herançado da escravização. Inclusive acerta em cheio ao apontar sem medo os momentos de erros, de preconceitos, do racismo, do patriarcado, subjacentes à crítica (naturalmente das/os autoras/es analisadas/os por ela) sociológica, literária, produzida na academia. E traça um caminho da arte pra sociedade. A questão do silenciamento em maior ou menor grau dessas escritoras que bem recebidas na época da publicação dos seus romances não conseguiram emplacar uma carreira literária digna do seu talento. Desde já sei que é obra obrigatória. Fernanda R. Miranda é uma intelectual daquelas da ventania e das águas. De grande porte e que, pra nossa sorte, leremos por muito ainda.
A grande morte do conselheiro esterházy é um livro desconcertante. Ed. Penalux. Do Alberto Lins Caldas. No que pude abarcar, e quando se lê um livro assim não tem porto que o aguarde, nem conforto que o ampare, temos ali o fascismo, as crenças cegas, os hábitos arraigados e sem questionamentos, a solidão, a nossa solidão, última forma de representação humana. Temos também a loucura como curso de cura e denúncia, a vida frágil dos que sucumbem à intensa exposição à violência do poder. Mas o que mais me impressiona é o modo como Caldas trabalha com a linguagem. Ao lermos, somos condenados à prisão que o narrador vivencia sem perceber. Só entramos num romance desses cientes de que encararemos nosso próprio encarceramento, fruto das escolhas que a sociedade faz, que fazemos, que aceitamos. A repetição da expressão como uma mantra, “os duzentos e setenta e dois dias da morte do conselheiro esterházy”, a insistência de uma maneira de ultrajar a língua, a língua que também nos é herança da colonização e por isso mesmo da violência, a consciência em desmontar provocativamente aquilo em que se ampara o romance que é sua língua de origem. Um romance que não fala do Brasil mas é profundamente brasileiro e profundamente universal.
Do mesmo modo, ao fim da ceia. Ed. Penalux. Do Paulo Gonçalves. Não me sinto competente pra comentar poetas, tampouco tenho competência pra ter comentado os livros acima. Abro uma exceção pro Paulo por conta de que sua poesia me toca demais pelo talento e pela identidade que tenho quanto à terra, aos espaços que atua, às personagens que aparecem criando um microcosmo que me impressiona, Maria da Fé e a vontade de morrer. A lógica outra, sintática, a que descobre o poeta nas cores que produz, no espaço de sua cidade, do roçado e de sua formação, a ironia e o trabalho intenso em nos apresentar novas formas de expressão… O exercício de um modo de dizer muito particular, sem perder o norte de que faz poemas, e articulando lugares na linguagem que promovem um espelhamento dos lugares do sentimento. A dor, a aceitação da morte (e a insistência em viver), o amor, a perda, a alegria, a bebida e os bares, tudo se articula com a linguagem criando o estranhamento e o prazer, próprios do trabalho poético. Na mão de um grande poeta como o Paulo, temos enfim poesia.