Fernando Ferrari Filho é professor titular do Departamento de Economia e Relações Internacionais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Há anos costumo levantar às 6h30, inclusive nos finais de semana. Ao acordar, tomo um café light e, quando não tenho aulas pela manhã, jogo tênis das 7h30 às 9h. Costumo chegar na FCE/UFRGS às 10h. Quando tenho aulas, geralmente segundas e quartas pela manhã, chego às 8h.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Para lecionar e preparar as aulas, via de regra, utilizo as manhãs e as tardes. Nelas dedico, também, tempo para a produção de artigos; todavia, não há uma rotina específica para eles. Às vezes, escrevo durante as madrugadas, principalmente se quero cumprir os prazos estabelecidos por mim ou por terceiros. Costumo escutar Beatles, jazz (Miles Davis) e Beethoven quando escrevo.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Geralmente a elaboração de um texto me demanda cerca de uma semana, entre algumas leituras específicas, coleta de dados e a escrita propriamente. Os dois últimos livros que eu organizei me demandaram, cada um, cerca de dois meses, sendo que ao aproximar-se o deadline para entregar o texto para a editora, trabalhar nas madrugadas tornou-se uma rotina.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Leituras prévias, coleta de dados macroeconômicos e inspiração. Como há muitos anos tenho escrito sobre teoria (pós)keynesiana, macroeconomia de estabilização e políticas econômicas, a transição pesquisa-escrita é natural.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Quando escrevo um texto visando sua publicação em um periódico internacional de excelência em minha área, tais como Cambridge Journal Economics, Journal of Post Keynesian Economics, Review of Keynesian Economics e Journal of Economic Issues, ocorre, sim, um receio de que ele não seja aprovado pelos referees e, portanto, frustre as minhas expectativas. Mas isso faz parte.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Geralmente escrevo, leio e releio. Não costumo encaminhar meus textos para outros colegas e economistas lerem. As críticas e sugestões ficam por conta dos referees. Quando os textos têm coautores, naturalmente há uma troca de ideias, sugestões etc.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Demorei muito para me adaptar à tecnologia computacional, pois sou um tanto jurássico. Hoje em dia, porém, escrevo diretamente no computador. A despeito de ter me rendido à referida tecnologia, meu domínio sobre ela se restringe ao Word, PowerPoint e Excel. Fazer gráficos? Nem pensar; no máximo elaborar tabelas.
De onde surgem suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Elas de certa forma estão consolidadas pelo fato de que há anos venho pesquisando nas áreas (pós)keynesiana, macroeconômica e conjuntura econômica, seja nacional, seja internacional. Não cultivo hábito algum para me manter criativo, se é que o sou.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de sua tese?
Meu primeiro trabalho de “fôlego” foi a dissertação de mestrado. No doutorado comecei a elaborar textos para serem publicados em periódicos. Eu diria que tanto a dissertação quanto os primeiros textos publicados foram trabalhos passíveis de revisão de estilo de texto, ideias e argumentos. A partir de minha tese de doutorado, em meu ponto de vista, tais pontos não são uma “dor de cabeça”, principalmente porque há 26 anos venho escrevendo papers, capítulos de livros e livros (são quase 130 publicações).
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Um projeto que eu sempre quis fazer e, finalmente, realizei foi escrever e organizar um livro sobre meu pai. Ele foi iniciado e terminado nos cinquenta anos de falecimento dele, em 2013. O livro se chama “Fernando Ferrari: ensaios sobre o político das mãos limpas”. Um livro que eu gostaria de ler e não existe? Talvez as minhas lembranças, que, naturalmente, não devem ser interessantes para terceiros.