Fernanda Medeiros é escritora, artista, psicóloga, mestranda em Ciências ambientais.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Minha rotina matinal é banho e café. Saio de casa cedo pois trabalho como Psicóloga numa comunidade no Município de Petrópolis, cumpro 8 horas de trabalho por dia na rede pública.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Trabalho melhor na parte da tarde e a noite. Não tenho nenhum ritual de escrita. Escrevo o tempo todo, faço anotações em guardanapos e gravo áudios no celular quando a ideia chega e não tenho como escrever.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Eu gostaria muito de ter uma meta diária mas não tenho. Meu processo criativo é bem caótico. Por um lado é bom porque são muitas ideias mas por outro é ruim porque nem sempre consigo concatenar tudo e dar forma ao que criei. Minha atuação é também nas artes plásticas, fotografia, vídeo poema, arte colagem manual, pintura, arte conceitual, enfim, eu crio em diversos suportes e me sinto uma artesã de palavras porque tudo é linguagem. Toda expressão comunica algo, as palavras estão nas linhas, no espaço, no silêncio e nas entrelinhas. Às vezes sinto que as letras estão dançando ou saltitantes e há momentos que elas são barro e eu as moldo.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Meu processo é bem intenso e fluido e honestamente não passa por uma pesquisa. Eu simplesmente escrevo inspirada por algum elemento que eu vi ou por algum sentimento meu naquele momento. Não é difícil começar graças a Deus. Onde encontro mais dificuldade é organizar todos os textos, crônicas e poemas em um livro.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
O medo não corresponder às expectativas até me visita mas não senta no sofá nem no banquinho da sala. Eu estou constantemente escrevendo porque é minha forma de desaguar no mundo, é algo genuíno em mim e por isso eu não fico dando ideia ao medo do que vão pensar mas, se eu dissesse que ele não me visita eu estaria mentindo. Sobre a procrastinação te confesso que é meu maior obstáculo porque faço muitas coisas então acabo deixando os livros para depois. Novas ideias e textos surgem e lá vou eu em outra direção mas a meta é concluir alguns livros e publicar.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Aprendi com um colega ator e diretor que seria interessante escrever livremente e depois ir retirando o excesso ou seja, as palavras que são desnecessárias. Faço dessa forma e dá super certo. Meus escritos diários com fotos, artes, fragmentos e video poema não mostro para ninguém a não ser que seja um texto para uma revista, um artigo, um projeto aí eu peço a avaliação de alguém.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Eu uso muito o computador justamente porque as palavras surgem numa rapidez que preciso arrumar uma forma para que elas encontrem seu lugar. Sinto que é natural como mencionei acima é como uma dança quase que com vida própria ou um trabalho manual onde eu sou a artesã. Faço várias anotações em rascunhos e adoro escrever em guardanapos para eternizar os momentos seja numa cafeteria ou restaurante.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Minhas ideias vem da vida (alegrias e tristezas) , da natureza, dos detalhes, enfim, é inspiração Divina. Alguns acontecimentos e ideias já me remetem à uma possível cena que poderia ser um filme. Me vejo com diálogos e cenários como se eu fosse uma roteirista (quem sabe um dia). Creio que eu seja criativa porque vejo a vida de forma poética. Vejo beleza e poesia nos detalhes por isso surgem os versos e até mesmo as músicas que componho. Os hábitos que cultivo não estão focados em me tornar criativa mas creio que eles me ajudem. Já é da minha natureza ver e viver a vida com atenção e contemplação, acolher o caos, sentir os aromas e as cores, valorizar o sol mas também amar as tempestades. Gosto de estar apaixonada pelo que faço, acredito no amor e na paixão e isso também me inspira muito. Porém, a dor, a tristeza também tem o seu lugar em textos repletos de sentimento, isso é fato.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
O que mudou foi realmente a forma que passei a me colocar no mundo. Eu comecei a ter muito contato com as artes, a produzir, criar e pesquisar sobre arte, isso ampliou ainda mais meu lado criativo. Passei a unir a fotografia à escrita e dar voz às imagens. Aprendi a acolher o que vem e da forma que vem e então trans-formar, isso me fez mais livre e creio que as ideias foram vindo de forma natural porque encontraram passagem para chegar e fluir. O que eu diria à mim mesma seria: Fê, amplie seu mundo, vá ver mais artes e viajar. Seja você mesma, permita-se ser autentica.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Estou com alguns projetos iniciados, vão desde fotos para exposição até livros de artista. Os textos, fragmentos poéticos e crônicas estão em andamento mas como eu surjo com mais e mais ideias, fica difícil concluir cada uma delas, mas em breve serão publicados. Eu quero muito ler os livros que estou para publicar com colagens, fragmentos, histórias e sentimentos sinceros, dos mais caóticos aos mais equilibrados, da montanha russa à tranquilidade de deitar numa rede na varanda e ver as montanhas.