Felipe Sali é escritor, autor de Mais Leve que o Ar.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Eu tento manter uma rotina, ajuda a não me desesperar durante o processo criativo. Normalmente, acordo às 8h50 e tomo um café assistindo algum desenho animado do Star Wars. Às 9h30 começo a escrever. Só deixo para responder e-mail e conferir redes sociais depois do almoço, quando o meu ritmo diminui. A única exceção para a rotina é quando pego ritmo e escrevo madrugada adentro.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Ao contrário de 99% dos escritores, trabalho melhor de manhã, antes do almoço. Quando preciso produzir mais, acordo mais cedo ao invés de dormir mais tarde. O problema é que muitas vezes eu entro num ritmo de escrita que fica difícil de quebrar e só então me afundo na madrugada. O pior horário é o da tarde, com certeza. Não tenho nenhum ritual, mas ouço muita música, normalmente, trilhas sonoras de filmes que me ajudam a entrar no clima da história.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Todos os dias, exceto finais de semana. A meta são duas mil palavras por dia. Muitas vezes passo, outras tantas nem alcanço, mas gosto de saber que a meta está lá.
Quando o prazo de entrega do livro se aproxima, costumo apertar o passo para ter um bom tempo para a reescrita. Aí a meta dobra. Mas, de qualquer forma, escrevo todo dia. Não saberia o que fazer nos dias em que não estou escrevendo.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Conheço autores que têm dificuldades de começarem livros, mas terminam tranquilamente. Comigo é o contrário, começar é fácil, uma festa, difícil é segurar o fôlego até o final. É um processo extenso e dolorido, muitas vezes. Escrever um livro não é, necessariamente, prazeroso. Envolve muito sofrimento.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Lido mal. (risos) Recentemente tive crises de ansiedade que me impediram de trabalhar por quase um mês. É um desafio, mas o amor pelos livros ajudam a superar.
Tenho um problema sério com as redes sociais. Eu só existo como autor por causa delas, foi o onde o público me descobriu e tudo que tenho devo a elas. Mas, ao mesmo tempo, não quero passar tempo demais nelas, então tenho sentimentos mistos. Costumo usar um aplicativo para bloquear a internet e me impedir de entrar no Twitter em determinados horários do dia em que devo me concentrar no livro.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Não sei, talvez umas dez vezes. Tenho um grupo de amigos autores que sempre me ajudam. São os primeiros a lerem meus livros, muitas vezes, o primeiro rascunho mesmo. Quando são textos para o Wattpad, é um fluxo só: escrevo e posto. Depois, vou revisando ao longo dos dias.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Eu só pego na caneta para autografar os livros depois que já estão impressos. Meu processo inteiro é digital. Quando não uso o computador, estou fazendo anotações no celular. Já escrevi capítulos inteiros no smartphone, no tablet.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Você precisa se cercar de coisas que te estimulem criativamente. Bons livros, boa música, bom whisky. Também é importante ser curioso, conversar com pessoas diferentes, frequentar lugares diferentes da cidade, ouvir histórias de estranhos na rua. Tenho pena de autores que não pegam o transporte público, lá é repleto de boas ideias. E largue o celular um pouco, o seu cérebro precisa de um tempo de ócio para processar as informações que recebe e conceber algo novo.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Eu me tornei mais metódico, com mais técnica. Agora sei o caminho que preciso percorrer e não fico me perdendo como acontecia antes. A técnica literária é importante e me ajudou. Ela me ensinou a encontrar a minha voz e colocar no papel sem perder tempo com besteira. Recomendo sempre que novos autores estudem técnicas.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Quero escrever uma graphic novel, seria a realização de um sonho. Também gostaria de escrever uma série de livros em que não soubesse como vai terminar e eu pudesse colocar todos os elementos que me influenciar, de todos os gêneros até criar uma farofa literária. Seria divertido. Agora, não consigo imaginar em um livro que eu queira ler que alguém muito genial em algum lugar do mundo não escreveu ainda. Graças a Deus.