Fátima Aparecida Teves Cabral Bruno é professora de Língua Espanhola na Universidade de São Paulo.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Em geral, primeiro cuido de mim mesma, esse tipo de rotina como escovar os dentes, tomar o café da manhã etc. Depois a sequência do dia depende de se é dia de eu dar aula ou não de manhã, se tenho outros compromissos profissionais e pessoais ou não. Então, posso dizer que a única atividade rotineira, primeiro é cuidar de mim mesma, me preparar para o restante do dia.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor?
Trabalho melhor pela manhã, mas também trabalho ao longo do dia, inclusive à noite. Tudo depende da agenda do dia (aulas, reuniões, orientações de pós-graduação e graduação, escrita acadêmica etc.).
Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Não, não tenho um ritual, mas no geral para preparar um texto preciso ler, pensar, anotar, pesquisar. Para escrever seja lá que gênero for não há uma ordem fixa de atividades; pelo menos nunca me dei conta de que houvesse.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados?
Tudo depende da agenda diária, semanal ou mesmo mensal. No entanto, posso dizer que prefiro escrever um pouco todos os dias.
Você tem uma meta de escrita diária?
Não, mas sei que preciso de bastante tempo para escrever. Gosto de ler e reler o escrito. Assim vou refinando e tentando finalizar.
Como é o seu processo de escrita?
Como comentei anteriormente é um processo lento. Não consigo escrever às pressas. Às vezes preciso criar uma distância do texto para voltar e (re)organizá-lo. Durante a distância faço coisas várias: pessoais, (re)leituras. Aí me aproximo e acrescento ou corto partes.
Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar?
Às vezes sim, às vezes não. É mais fácil começar a escrever quando já se conhece bastante o tema; por exemplo, quando já dei várias aulas sobre um determinado assunto fica mais fácil. Quando é a primeira vez que vou escrever sobre um assunto a dificuldade é maior. Nem sempre começo pelo começo, quer dizer, não começo pela introdução. Se vou escrever um artigo científico, às vezes é melhor começar pela fundamentação teórica ou ainda pela metodologia. É uma montagem; por isso, muitas idas e vindas e (re)leituras.
Como você se move da pesquisa para a escrita?
O movimento, em geral, vai do oral para a escrita. A partir das anotações de pesquisa, das novas e velhas ideias que, no meu caso, têm características do texto oral em anotações, bilhetinhos para mim mesma, começo a estruturar o tema na modalidade escrita. Parto também de uma observação da composição textual (artigo científico, unidade didática etc.), isto me ajuda a estabelecer as partes e por qual delas começar (como já comentei anteriormente).
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
O medo existe, mas decidi que devo ter paciência comigo mesma. Se o trabalho fica travado há várias hipóteses para que isso aconteça: falta pesquisa, reflexão ou descanso. Hoje vivemos no mundo das urgências e escrever não se deve fazer às pressas, é um trabalho que requer tempo, pelo menos para alguns. Sobre não corresponder às expectativas, aprendi que, nem sempre, vou corresponder às expectativas e agradar a todos.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos?
Não faço as contas, mas como disse anteriormente, várias vezes, por partes. Quando me dou conta de que estão prontos, leio pelo menos mais umas três vezes, mas em dias diferentes para tentar não deixar passar nada.
Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Nem sempre, depende do texto. Por exemplo, se é um artigo científico que fará parte de uma coletânea, o/s organizador/es do livro irá/ão fazer a leitura, então, não é necessário pedir para outra pessoa ler.
Como é sua relação com a tecnologia?
É boa, nem sempre a compreendo, mas procuro aprender, não brigo com ela.
Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Desde sempre no computador. Também uso o celular e um caderno para fazer anotações, já que as ideias são fugazes; muitas vezes aparecem quando me deito. Por isso, o caderninho ou o celular têm que estar por perto. Já aconteceu de eu não anotar logo e depois me esquecer daquela ideia tão bacana.
De onde vêm suas ideias?
De diferentes fontes: vivências com outras pessoas, das leituras, observações, das aulas etc.
Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Não, não há hábitos. Penso que é importante ter a mente e os ouvidos abertos e um olhar atento que não seja excludente.
O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de sua tese?
“Você fez a coisa certa! Não pulou etapas, escreveu uma dissertação de mestrado e depois a tese. Valeu a pena passar pelos dois ciclos. Foram longos anos (9 e meio), mas a qualidade da pesquisa compensou o investimento”.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou?
Quero começar uma segunda tese para a livre-docência. A escrita não foi iniciada, mas já tenho a ideia e as pesquisas já começaram.