Fabio Baptista é torcedor do São Paulo Futebol Clube e acredita que ainda voltará a viver tempos de glória. Um otimista incorrigível.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Em geral começo pensando “p¨*@ que p@%1&, não acredito que esse despertador já tá tocando, meu Deus… nunca mais vou dormir às 3 e meia da manhã…”. Daí aperto o botão soneca e esse ciclo se repete por mais três vezes.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Trabalho bem em qualquer horário em que esteja sem sono. O duro é achar algum horário assim. Meu ritual é ver todas as atualizações do Facebook, Twitter e Instagram, depois ver todas as notícias do São Paulo (tenho abandonado esse hábito ultimamente) e conferir se realmente não tem mais nada pra ver no Facebook. Se não tiver, faço um meme e fico esperando as reações. É mais ou menos assim que me preparo para escrever (invejosos dirão que é procrastinação).
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Sempre fui mais do estilo períodos concentrados. Em geral esse período coincide com as datas de entrega. Já cansei de me frustrar e me sabotar estipulando metas diárias, semanais, mensais ou o que seja (já tenho as metas de atividade física para cumprir esse papel da frustração).
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Eu não pesquiso muito, nem faço muitas anotações. Em geral imagino uma linha base para a história, ou então algum personagem, daí vou trabalhando os “arredores”. Se alguma parte específica da história exigir detalhes técnicos, então eu pesquiso. Mas nada muito complexo. Respeito quem curte pesquisar e tal, mas pra mim literatura é uma coisa, tese de doutorado é outra (exagerei no exemplo para transmitir melhor a ideia).
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Eu nunca travo (mentira, travo sim. Era só uma referência ao filme do Pantera Negra). Tento evitar a procrastinação, mas em geral não consigo. Não tenho medo de não corresponder às expectativas, porque não há expectativas. Ninguém me pede para escrever nada e estou bem ciente (e bem tranquilo quanto a isso) que o mundo continuará girando com ou sem meus livros (e de todos os outros escritores também). Não tenho como controlar o que as pessoas vão achar da minha escrita, tudo que posso fazer é entregar o meu melhor a cada novo trabalho. Claro que é legal saber que as pessoas estão lendo e curtindo e é chato receber determinadas críticas, mas, para o bem e para o mal, tudo é vaidade e vento que passa.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Sou muito chato com revisão. Reviso até não ficar uma vírgula faltando, reviso até conferir que não deixei passar nada, até enjoar do texto. Depois passo para minha revisora profissional preferida (oi, Claudia) e, quando ela me devolve, percebo que deixei passar coisa pra cacete kkkkkkkk. Daí eu reviso a revisão e antes de pensar em publicar, reviso de novo.
Tento mostrar para o máximo de pessoas possível antes de publicar, o que em geral se traduz em… um ou dois amigos.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Tentei escrever à mão certa vez. Sem dúvida é interessante para evitar o problema da procrastinação. Mas depois acabamos tendo que passar para o computador de qualquer forma e daí vem o Facebook, especulações de contratação do Pato, etc. Sem contar que o caderno fica escorregando no teclado. Agora vou direto no computador mesmo.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Acredito que são a soma de todas as coisas que já li, ouvi, vi e vivenciei ao longo dos anos. Acho que não existe uma fórmula para estimular a criatividade, isso definitivamente não é uma ciência exata.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Hoje tenho mais facilidade de “sentir” quando encontrei a melhor solução para determinado problema na história, ou para a trama como um todo. Tipo, sei quando há uma alternativa melhor ou mais criativa, mesmo que ainda não saiba qual exatamente é essa alternativa (e às vezes acabo nunca encontrando), e sei também quando aquilo que escrevi está legal (pelo menos para o meu próprio gosto).
Acho que não diria nada, deixaria o barco correr naturalmente. Estou satisfeito com meu trabalho e faria tudo de novo do mesmo jeito. Deus sabe o tempo certo de todas as coisas.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Tenho vários contos que provavelmente renderiam um bom romance (ou talvez um romance não tão bom assim). Isso é algo que ainda quero fazer algum dia. Gostaria de ler um livro sobre o Apocalipse, com um enfoque mais bíblico e ao mesmo tempo mais humano, com uma batalha do Armagedom realmente épica e… não, péra… esse eu já escrevi e li várias vezes nas intermináveis revisões.