Fabiano Engelmann é professor de Ciência Política da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Em geral inicio com leituras e organização da “agenda de trabalho”. Começo por jornais e revistas nacionais/estrangeiros e textos relacionados à atividade acadêmica e pesquisas em andamento.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Trabalho mais concentradamente durante a tarde e início da noite. A preparação vai depender do objetivo do texto, se é voltado para um periódico científico ou para difusão mais ampla.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Em períodos concentrados, mas nem sempre é possível. Tendo os dados organizados, faço um rascunho completo do texto e depois vou revisando até chegar a algo publicável. Não tenho metas diárias.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
No caso da produção de textos voltados para periódicos ou coletâneas científicas, trata-se mais de organizar material empírico, tabelas, quadros, ou outras espécies de dados. No caso de textos voltados para público geral, retiro conclusões de textos mais técnicos e tento adequar para circular mais amplamente. Ou seja, o resultado final é sempre produto de algo pré-existente.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Observo rigorosamente os prazos. Essa organização do tempo permite períodos de maior concentração no objetivo de escrever um artigo. No caso de projetos mais longos faço textos intermediários com análise parcial de dados. Ao final do projeto esses textos podem gerar artigos individualmente, serem agrupados ou descartados. Então o texto que surge é uma conjugação de rascunhos parciais. Também o exercício de escrever textos preliminares ajuda a avaliar o andamento do projeto.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Essa é uma questão difícil. Há a parte da revisão da coerência lógica da demonstração, argumentos, hipóteses, problemas, etc. e a parte da revisão da linguagem. Releio muitas vezes o texto para chegar a algum ponto razoável. Dificilmente o texto fica bom. É quase impossível conciliar as exigências técnicas de demonstração com um texto que seja “agradável” de ler. Depois tem a revisão da linguagem que precisa ser feita por um técnico. Às vezes retorno ao texto algumas semanas depois para rever a escrita. O texto nunca está pronto. Mesmo depois de submetido à revisão técnica e edição. Se ler depois de publicado vou sempre encontrar problemas.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Escrevo obviamente no computador, não há como ser diferente, recorro todo o tempo a referências e textos que estão online, assim como arquivos contendo dados.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Vêm de linhas de pesquisa que desenvolvo já há quase duas décadas. Também a busca permanente por leituras e contato com trabalhos científicos nessa linha, o diálogo com especialistas nacionais e estrangeiros e a participação em redes e grupos temáticos no âmbito de associações científicas, etc.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de sua tese?
Talvez maior aperfeiçoamento na escrita, pela experiência. A tese foi escrita da mesma forma como escrevo hoje. Foi realizado o trabalho de campo, organizados os dados e depois redigido o texto. Obviamente na época tinha a possibilidade de dedicar-me com exclusividade à redação da tese, o que permitia maior concentração no trabalho. A rotina da atividade acadêmica nem sempre favorável à atividade de pesquisa exige maior organização para obter a concentração necessária para escrever.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Iniciar uma pesquisa sobre tema que não represente mera continuidade ou prolongamento de problemas já trabalhados é para mim um desafio importante.