Fabiana Marion Spengler é professora adjunta do curso de direito da Universidade de Santa Cruz do Sul.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Em alguns dias da semana tenho aula na universidade. Esses dias de aula costumam variar de acordo com o semestre. Nos dias em que não tenho aula acordo, tiro meus filhos da cama, tomo meu café da manhã, levo os filhos para a escola, vou para academia e depois do banho começo a minha rotina de trabalho (normalmente às 9h30). Primeiro baixo e respondo e-mails, faço leituras ou dou andamento em algum texto que estou escrevendo. Almoço com minha família e depois a rotina continua e de noite, se não tenho aula na universidade, janto com meus filhos, supervisiono temas e preparo a agenda para o dia seguinte.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Prefiro ler e escrever pela manhã, rende mais. Mas, se estou com algum texto ou livro atrasado, ocupo o dia todo com essa tarefa. Para escrever costumo colocar o celular no silencioso, ouço música, preparo um chimarrão (uma térmica de água significa um turno de estudo/escrita bem proveitoso) e peço que não me interrompam, o que nem sempre é possível.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Leio todos os dias, sempre. Escrevo todos os dias, exceto quando viajo ou quando tenho alguma outra atividade tal como banca, seminário, etc. Se tenho algum texto para entregar ou um livro com prazo para envio para a editora sim, organizo metas e as cumpro, à risca. Mas a leitura e a escrita são rotinas diárias.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Depois do material organizado, dou início à escrita sem maiores problemas. Mas só começo a escrever quando tenho mínimo dos materiais lidos, anotados e fichados. Se durante o processo preciso de mais alguma informação, então paro, volto a ler, a anotar e a fichar, e depois finalizo. Mas, como regra, leio tudo antes, busco o máximo de informações, o processo de leitura, organização e fichamento é tão detalhado e criterioso quanto o da escrita.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Eu não procrastino. Desse mal eu não sofro. Aprendi que procrastinando não se chega a lugar nenhum, mesmo. Medo de não atender às expectativa sempre existe, por isso eu penso que escrever seja um ato de coragem, um ato no qual nos expomos, nos desnudamos, sabendo que seremos criticados. Por melhor que seja o texto, mesmo que ele seja elogiado por alguns, também será criticado por outros. É inerente ao processo, é preciso lidar com a crítica. Quanto à ansiedade de trabalhar em projetos longos, aprendi que se fatiarmos as tarefas e pensarmos somente no objetivo/meta imediata, tomando distanciamento do todo, fica mais fácil de lidar. Então, trabalho no item ou no capítulo como se ele fosse o único e/ou último, me esgoto, me “atiro” e depois de finalizá-lo, faço o mesmo com o seguinte. Essa é minha técnica.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Leio e reviso meus textos pelo menos três vezes, inclusive o tempo de revisão é calculado no tempo para entrega do trabalho. Não costumo pedir que outras pessoas leiam e não consulto a opinião de ninguém.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Tudo no computador, à mão faço apenas anotações à margem dos textos lidos e anoto alguma ideia se porventura estou em local onde o computador é inacessível, mas de resto escrevo só no computador.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Com o tempo e com a maturidade os medos (especialmente da crítica) diminuem. Sinto que nos últimos anos eu fiquei mais ousada, comecei a flertar com outras áreas, a misturar textos áridos e legais com ideias abertas sobre livros, filmes e músicas, etc. Acredito que os resultados podem ser mais criativos.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de sua tese?
O início dessa resposta está na questão anterior. Se eu pudesse voltar à escrita da minha tese diria a mim mesma para sofrer menos, pois agora eu sei que “existe vida depois da tese”.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Tenho vários projetos que eu gostaria de levar a cabo. Procuro me organizar para listá-los e desenvolvê-los por ordem de preferência/importância. Eu gostaria muito de escrever um romance, mas por hora estou muito envolvida com os textos da minha área, que pesquiso e produzo em função da minha docência. Um dia, quem sabe, mais adiante, o romance nasça. Tenho muitos livros que existem e que eu não consigo dar conta de ler. Por isso, eu me daria por satisfeita se conseguir ler estes, de modo que não ficarei esperando por aqueles que ainda não existem.