Evolutio é poeta, artista da produtora coletivo Universo e autor do zine Menino Malino (2018).
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
bom meu dia já começa numa correria braba, é só o tempo de acordar, escovar os dentes e quando sobrar tempo como alguma coisa. antes de sair de casa me benzo para me livrar das coisas ruins do mundão (aprendi isso com minha avó) se tiver sol fico mais feliz, se não ergo a cabeça vou da mesma forma. Sempre ando com um livro dentro da mochila, assim que entro no ônibus já vou caçando meu lugar para sentar e ler um pouco, mais depois de uns quize minutos, estou com a boca aberta dormindo com a cabeça encostada na janela. Depois tenho que pegar o metrô da linha vermelha, mais conhecido como inferno na terra, e as vezes espero uns dois metrôs passar, para tentar ir pelo menos encostado nas laterais, e mais uma vez insistir na leitura. (às vezes dá certo, às vezes durmo em pé mesmo) Não sei explicar de onde vem tanto sono. Logo depois chego no meu trabalho e fico lá até as 18hs, não é muito legal, mas é o preço que preciso pagar para investir no meu sonho em viver da minha arte. Mas juro que essa rotina acaba comigo, vim do interior da Bahia e lá a rotina matinal é sagrada, você não faz nada enquanto não senta na mesa para tomar café da manhã, isso quase nunca acontece aqui em são paulo, sinto muita falta disso, porque o dia começa bem melhor e fico muito mais disposto. Eu até tento manter um rotina matinal, que é baseada no livro o milagre da manhã, mas para dá tempo de seguir os cinco passos desse processo, preciso acordar uma hora mais cedo, e sabemos que tudo que o jovem Brasileiro quer é alguns minutinhos a mais, em baixo das cobertas.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Depende muito da época, quando eu estava no ensino médio, virava a madrugada escrevendo, e era quase certeza que nas duas primeiras aulas antes do intervalo eu passava jogado na mesa dormindo. esse ritmo me fez criar dependência de conseguir escrever só na madruga. mas depois que a vida adulta chegou, são rara as vezes que consigo ficar acordado, só quando tenho insônia ou quando estou muito eufórico para terminar alguma letra. Hoje em dia me tornei um cara muito mais matinal, mas como eu trabalho em tempo integral, costumo criar pela manhã só aos finais de semana. gosto de acordar cedo nos finais de semanas e a primeira atividade do dia é uma leitura e depois paro para escrever o que vem martelando na cabeça durante a semana. Mas nem tudo é como a gente deseja, tem vezes que o cansaço bate mais forte e acabo enrolando, tem aqueles dias que o desânimo pega você de jeito. Já durante a semana as coisa acontece de forma desordenada, como preciso ser um trabalhador formal e poeta slammer/ estudante, é bem difícil criar um ritual de escrita, o que acontece são os vários fragmentos que vão vindo durante o dia e vou anotando aquelas ideias, as vezes vem rimas completa, e vou registrando no bloco de notas no celular. Quando estou andando sozinho costumo rimar em voz alta as ideias que vão vindo e gravando no gravador de voz, as vezes costumo falar sozinho também (tipo aquelas narração de filme, bem filosófica) quem nunca neh? Eu adora minhas loucuras. (risos)
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Antigamente escrevia só por necessidade, quando estava muito triste e precisava por para fora aquilo que não conseguir falar para ninguém. Então demorava muito para escrever e quase não tinha continuidade. Depois que me apaixonei pelo Rap e decidir que ia fazer isso pro resto da vida comecei a escrever com mais frequência, mas na primeira travada eu deixava de lado e ficava pra baixo por não conseguir terminar aquela letra (muita coisa dessa época foi pro lixo). Mas um certo dia assistindo a escravista do Marcello Gugu, ele falou que escrevia todos os dias, assim como o Anderson Silva treina todos os dias. então pensei: se quero ser bom nisso, tenho que me dedicar como esses caras e fazer isso infinitas vezes para evoluir cada vez mais. Depois disso comecei a rabiscar todos os dias, uma ou duas rimas, uma frase, uma ideia, até mesmo um freestyle que poderia sair alguma coisa boa.
Eu não tenho uma meta específica, pois todas as vezes que criei uma e não conseguir alcançar me frustrava muito e ficava me martirizando por isso, hoje prefiro que o coração diga o quanto ele quer colocar pra fora. E todos os dias ele quer conversar com o mundo externo. Quando acontece de não escrever nada durante o dia, assim que deito na cama tenho uma sensação que o dia não foi proveitoso ou que parece que não observei as coisas ao meu redor a ponto de não vir uma ideia para ser depositada no papel/ bloco de notas do celular. essa sensação é horrível.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
o processo é bem aleatório, já que tenho uma rotina corrida, então isso reflete na escrita, como falei na pergunta de número dois, vou anotando tudo que vem na cabeça para não perder nada (as vezes faço a burrada de vim um rima muito foda e não anotar, dois minutos depois não lembro mais.) e sigo nesse eterno free.
É muito difícil começar uma poesia, tem uma coisa que me deixa muito puto, é quando vão vindo muitas ideias, que vão me dando muito gás e quero parar e escrever tudo aquilo, daí chego em casa e vou correndo pro caderno aí todas aquela vibe some (dá vontade de chorar mano).
Gosto de analisar minhas letras como se fosse um filho, sabe? tipo cada filho tem sua necessidade em particular, e seu temperamento. Tem vezes que esses filhos nascem de compilação de ideias, mas todas a minha letras tem um tema central, quando não tem um tema específico um tem o porque delas nascerem, seja uma fase que estou enfrentando, exemplo disso é a poesia (crise) ou até mesmo uma momento de vivência e experiência, geralmente essas poesias só ganham vidas quando estabeleço o que quero dizer com uma letra, aí vou revisitando os fragmentos anotados, os audios do gravador, coisas que me levaram aquele estado de espírito que a poesia tem que ficar. Mas tem aqueles filhos que são imediatista, que tem que sair na mesma hora, então esse geralmente não entram no processo de mudanças (acredito que ele já veio ao mundo prontos para trocar ideias com outros corações).
Como falei do temperamento da minha letrar, algumas delas (principalmente as que falam de mim) não tem um processo de pesquisa, pois eu sou o próprio material de estudo. Mas tem aquelas que quero testar minhas habilidades de rimador, aquelas que quero pesar a caneta nas referências, nas punchlines, nas metáforas, e até mesmo na métrica, foi o que fiz com poesia (nordeste). as de temas mais específico me dedico a uma profunda pesquisa, como por exemplo quando tive que fazer uma músicas sobre a da ditadura militar. Fiquei minhas férias de julho inteira escrevendo essa letra, foram cerca de uns 8 filmes, dois livros, e vários artigos. inclusive ela foi a primeira que abriu portas pra chegar em outros lugares. mas minhas pesquisas são diaria, sempre estou lendo algum livro, assistindo filmes e entrevistas e observando as coisas ao meu redor. No entanto meu maior objeto de estudo são as vivências.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
As travas da escrita é uma aflição, odeio quando isso acontece, mas para tentar fugir delas costumo sair para rua, ouvir música, ver as crianças brincando ou até mesmo ir numa cachoeira para reanimar as energias. A procrastinação é um dos meus maiores vilões, umas dessas coisas que contribui para isso é o celular ele tem o poder de roubar meu tempo de uma forma inexplicável (to aprendendo a lidar com isso) outra coisa que me faz procrastinar é quando estou na bad trip, sabe aquele momento que você está deitado na cama e fica pensando, poxa tenho que fazer isso, mas o seu corpo não reage a seus comandos e então cê fica jogado na cama com um sentimento que não sabe de onde vem. Meu amigo Miredy costuma dizer que isso pode ser cabeça cheia demais, que às vezes só tem que sentar e relaxar sem se cobrar (tenho tentado seguir esse conselho).
O medo de não corresponder às expectativas é algo que tento deixar de lado, pois se me apegar a isso vou acabar desistindo de todas as letras, a única coisa que carrego como premissa para superar o que já foi para ruas é, Tenho que dá o meu melhor. E desde 2015 venho me superando a cada dia, não tenho pressa para lançar qualquer coisa, tenho pressa só para trabalhar a ideia da melhor forma. Mas confesso que depois que ganhei uma pequena visibilidade essa expectativa às vezes vem querer roubar minha brisa, mas respiro fundo e acredito que venha o melhor. Até o Emicida fala sobre as expectativas, porque ele está tanto tempo sem lançar outro álbum, ele fala que vem tentando fazer o que supere tudo que ele já lançou (que não é fácil) e também faça sentido e dialogue com esses novas tempo. É, no dia que eu chegar perto do emicida, talvez me preocupe com isso, por hora só sou um menino tentando viver do que ama.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
não tenho uma quantidade de revisar o texto, eu vou analisando eles, gosto de ir recitando ouvindo o som das palavras e a estética que tenha menos dificuldade para pronunciar (pela minha dificuldade com adicção), então vou sentindo o texto, trocando uma ou duas palavras, vendo o que tem mais sentido dentro do contexto. Mas na real uma letra minha nunca termina, porque fica muitas ideias que poderiam entrar, e às vezes são tanta que daria uma parte 2 da letra. Mas o que faz delas “prontas” é o processo de recitar mesmo. Sempre mostro minha novas criações para alguém, gosto de mostrar para pessoas que sei que vão fazer um crítica construtivas (eu amo esse tipo de crítica) acredito que tudo ainda pode melhorar, então quando mostro para uma pessoa e ela me responde com um simples, ta foda. fico bem decepcionado, pois me parece que ela não prestou atenção em tudo, o que não se interessou de fato. Já mudei uma parte inteira de uma letra por toque de amigas, e sou muito aberto para novos concelhos e novas dicas. Mas tem coisa que só eu posso fazer a avaliação, que só depende de mim, ai é uma trata interna, que às vezes demora dias, mas nunca me decepciona quando vão às ruas.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Eu acho revolucionário todo o processo da tecnologia (tenho minhas críticas) mas ela facilitou muitas coisas. Porém ainda tenho dificuldade para lidar, principalmente as redes sociais que é onde divulgo os meus trabalhos. A solidão desse espaço é gigante, você tem mais de mil amigos em um rede, mais de 500 pessoas te seguindo em outra, mas quando você se ver no momento difícil da vida, cê não encontra ninguém ali. Até mesmo com os amigos, quando alguém te pede uma ajuda, até mesmo um abraço, e a distância ou até mesmo a correria do dia a dia não te permite estar ali presente, e a frieza das mesnsagem te ilude achando que isso é o suficiente.
Teve uma época onde eu só escrevia em me um caderninho de bolso, fiquei por uns dois anos só escrevendo dessa forma. Com o tempo minhas atividades foram aumentando e nem sempre tinha um tempo para pegar o caderno e anotar tudo que queria. Hoje eu escrevo a maioria das coisas no bloco de notas do celular, e jogo no Drive (pois perdi tudo um vez, e não lembro de nem uma das linha que estavam lá) Mas odeio ter que ficar dependente de um aparelho tecnológico, é como se eu não tive controle sobre a minha letra. Mesmo a maioria passando pelo celular tenho o cuidado de reescrever tudo a mão para guardar na minha caixa de sapato, pois todas a vezes que seguro a caneta lembro da importância disso e o quanto devo fazer com carinho e atenção. Não sou um cara que tenho inúmeras habilidades artística, mas já que Deus me deu esse dom, tenho que segurar nas minhas mãos para nunca esquecer dessa missão.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Isso é bem aleatório, pois tem vezes que leio um livro inteiro e não consigo extrair nada, mas outras vezes estou de bobeira andando pelas ruas do meu bairro, e do nada, vem aquela ideia que cê fica (oh meu Deus preciso anotar isso). O que me ajuda muito nos novos conceitos são ouvir músicas que tenha um instrumental muito bem trabalhado, escrevo a maiorias das coisas em cima de bases de outras músicas (quando não tenho meu beat). Acredito que a vida é um grande objeto de novas ideias tudo que escrevo é baseado na minha ou na vida de outras pessoas, que me permitiram vivenciar aqueles momentos.
O que mais costumo fazer para me manter criativo é aumentar o meu hábito pela leitura, quem me conhece sabe que sou fã do Rashid e tipo ele ler em média uns 3 livros por mês, então se quero chegar ao nível dos meus ídolos devo seguir algumas dicas que eles dão né, também gosto de assistir filmes, principalmente os nacionais, eu amo o cinema nacional e suas histórias. Além dos livros e filmes, meu grande hábito é a sensação de estar de fato vivendo e realizando novos sonhos, tento manter isso em alta, pois quando me pego vivendo uma vida totalmente sem sentido e distante do meus objetivos fico sem criatividade.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
há muito coisa mudou, muita mesmo. Comecei a escrever com 14 anos onde ainda não sabia quase nada sobre a vida e muito menos sobre a visão ampla de mundo, era um adolescente escrevendo como refúgio e tentando fazer uns verso legais, e sonhando em ganhar uma batalha de mc. Se fosse para classificar mesmo, o ponto mais alto desse processo é que me percebi como homem preto e entendi o meu lugar na terra, a escrita é só consequência disso.
Eu diria para não ter medo de acreditar em mim, e não pensaria duas vezes em pular de cabeça na arte, ao invés de ficar tentando criar plano B que já estavam falidos desde o começo, pois era apenas tapar o sol com a peneira, pois não tinha e nem queria nada daqueles planos B na minha vida. O resultado pela busca dessas alternativas foi que me afastei muito da minha escrita e dos meu plano A. Então diria Ao Matheus de 2013 que não precisava ter medo de nada, que ele seria capaz de derrubar todas as barreira pela frente. hoje digo isso pra me todos os dias.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
São inúmeras coisas que tenho anotado para fazer, desde as coisas que estão mais perto que vão ser mais fáceis realizarem, até as coisas que ando sonhando (se um dia meu trampo virar e solidificar). Creio que o que mais quero no momento é lançar um EP de Rap, com beat bem produzido e videoclipes para cada uma das músicas.
O livro que queria ler é o livro sobre a minha vida, é uma brisa doida, mas é isso. Ler um livro que falasse sobre como foi minha trajetória dentro da música e um pouca da minha vida pessoal. Recentemente li um trecho do livro que a esposa do Alexandre Magno Abrão escreveu sobre ele. ela conta que o Chorão pediu para falar pros moleques que é possível acreditar nos sonhos e serem realizados, que não vai ser fácil, mas se eles insistirem vão conseguir. Eu acho que queria ler esse livro sobre o meu futuro, sobre as derrotas que tive, sobre as conquista que alcancei e sobretudo se o meu grande sonho deu certo. Como não posso lê esse livro ainda, estou focado para que tudo que acredito se torne a minha realidade, para que no futuro ajude as crianças a não desistirem daquilo que elas realmente acreditam. E que esse livro encha o velho menino matheus cheio de inseguranças e diga que deu tudo certo.