Evelyn Postali é formada em Artes, professora, fotógrafa amadora e desenhista.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Começo meu dia com café da manhã, incluindo o café, mas não tenho uma rotina matinal rígida. Ela se dissolve em afazeres domésticos, serviço de banco, supermercado, padaria, entre outras coisas. Leio notícias nos jornais digitais, vejo as redes sociais, separo materiais, rascunho ideias possíveis de serem executadas em contos. Deixo um caderno próximo e o computador ligado.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Não tenho ritual de preparação para a escrita. Nem sempre tenho a tarde ou a noite para escrever. Quando tenho a parte da tarde, escrevo em intervalos de trinta minutos com espaços de uns dez ou quinze minutos. Esses espaços são para levantar, tomar um café ou um chá, ver o jardim, fotografar as flores, olhar a rua, desenhar algo. Eu gosto de escrever no silêncio. Se for à noite, então, quando a casa dorme.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Escrevo um pouco todos os dias quando não tenho períodos concentrados de forma seguida. Não tenho meta diária estipulada, mas procuro seguir alguns objetivos ligados ao tempo de término de um texto ou outro. Porque acredito que a organização sempre gera uma produção mais constante.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Algumas vezes, o processo de escrita acontece ao contrário. Primeiro vêm as ideias, os roteiros, e, depois, eu parto para a pesquisa, para ver se a ideia procede, se tem coerência, se tem possibilidade de ser algo diferente, criativo, envolvente. Eu estruturo a pesquisa em pastas. Tudo o que eu posso usar fica separado para consulta. Depois, o roteiro vai se moldando, modificando, se necessário. Muitas vezes, da ideia primeira sobra apenas um personagem, ou um cenário ou outro.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Eu desenho. Fotografo. Ouço música. Toco piano. Vou passear. Depois, eu volto e leio o que eu já escrevi e retomo o texto. Passo alguns períodos sem escrever, mas não me preocupo com isso, porque vou criando outras coisas, escrevendo pequenos textos, organizando outras ideias. Muitas vezes, é preciso não se preocupar com as travas. Não é fácil, mas com tempo, se aprende também isso.
Projetos longos são cansativos, mas tenho lidado bem com isso. Eles tendem a gerar ansiedade e isso pode prejudicar o andamento.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Eu tenho leitores beta. Sempre é melhor revisar uma, duas, três. quatro vezes. Até mais se eu sentir o texto travado, ou me sentir insatisfeita. Quando essa leitura se esgota, mando para uma revisora. Uma revisão por profissional da área é sempre algo a ser considerado com prioridade, necessidade básica. Dá segurança de que o texto vai completo, sem falhas, para o leitor.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Eu gosto da tecnologia, mas também uso cadernos para as ideias rápidas. Quando comecei a escrever, usava cadernos. Só passava a limpo quando tinha capítulos completos, ou bem estruturados. Nos últimos anos, escrevo bem mais no computador do que nos cadernos.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
As ideias vêm de todos os lugares. Eu fico observando a rua, as pessoas… Algumas ideias vêm nos momentos mais inusitados, em lugares diferentes, observando situações banais. Algumas acontecem quando leio algum artigo científico, ou alguma notícia no jornal ou revista, tanto impressa quanto digital.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Creio que, ao longo desses anos, minha técnica mudou. A estrutura dos textos mudou. Antes, escrevia do jeito que as ideias vinham. Hoje, as ideias vêm também, mas o jeito de colocar no papel é diferente. Penso mais nas palavras, em como organizar os parágrafos, em formas diferentes de dizer alguma coisa.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Tenho alguns projetos guardados. Agora que o romance policial está com a revisora, estou pensando em relê-los e decidir por um deles. Talvez esteja dentro desse grupo de projetos, o livro ainda inexistente, porque todo escritor escreve buscando mais ou menos isso: escrever o livro cuja história ainda não foi publicada.
Ao dar início a um novo projeto, você planeja tudo antes ou apenas deixa fluir? Qual o mais difícil, escrever a primeira ou a última frase?
Algumas vezes eu apenas escrevo, mas na maioria das vezes sempre há uma preparação do texto, um roteiro inicial básico, começo-meio-fim não nessa ordem. Também planejo meus personagens com um perfil básico, coisas que não podem ser esquecidas.
Um bom começo é sempre importante; ter uma primeira frase ou parágrafo bem construídos, que vai pegar o leitor e fazê-lo querer ler o restante do conteúdo, é importante, mas a minha preocupação maior é com a segunda metade do texto.
Como você organiza sua semana de trabalho? Você prefere ter vários projetos acontecendo ao mesmo tempo?
Minha semana de trabalho se divide em muitos afazeres além da escrita, então, o momento de escrever é sempre quando estiver tranquila, no meu espaço, sem qualquer pensamento que não seja escrever. Eu gosto da ideia de não ter apenas um projeto sendo desenvolvido, mas é preciso organização para não perder o foco de cada um.
O que motiva você como escritora? Você lembra do momento em que decidiu se dedicar à escrita?
O que me motiva como escritora é a criação, o desenvolvimento de ideias, roteiros com os quais eu me identifico; histórias que gostaria de ter lido.
Eu me lembro das primeiras produções, na infância – um poema que foi escolhido pela escola para ser publicada em um jornal, uma história ingênua sobre fantasmas, frases escritas em um caderno. Decidir escrever de fato, chegou bem trade na minha vida.
Que dificuldades você encontrou para desenvolver um estilo próprio? Alguma autora influenciou você mais do que outras?
Escrever se aprende escrevendo e é um aprendizado o tempo todo. A escrita se transforma à medida que evoluímos nas construções textuais. Talvez a maior dificuldade esteja na consciência de que aquilo que se está escrevendo é a sua linguagem, é o que representa você, sua maneira de mostrar o mundo.
Eu li e leio muita poesia. Então, se pensar em escritoras, Cecília Meireles, Cora Coralina, Florbela Espanca, Emily Dickinson, Alfonsina Storni, estão na lista.
Você poderia recomendar três livros aos seus leitores, destacando o que mais gosta em cada um deles?
Opisanie świata, da Verônica Stigger conta a história do polonês Opalka que sai de seu país e vai até a Amazônia. A viagem é recheada de personagens incríveis, mas não é só por isso que gostei. Ele é um livro construído diferente. A técnica utilizada para compor essas histórias cativa e prende do começo ao fim.
As cidades invisíveis, do Ítalo Calvino, porque apesar de serem textos curtos, é impossível não fechar os olhos e apaixonar-se por cada cidade mirabolante que se constrói mentalmente depois de ler.
Fábulas do tempo e da eternidade, da Cristina Lasaitis, é um dos melhores livros de contos que li sobre o tempo e a eternidade, sobre ficção científica, magia. Uma escrita primorosa, vocabulário precioso e muitas coisas presas nas entrelinhas. É maravilhoso.