Ernesto Xavier é jornalista, ator, mestrando em antropologia e escritor, autor de Senti Na Pele.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Meu dia começa bem cedo, por volta de 5h30 da manhã. Como saio de casa às 6h30, faço tudo o que preciso rapidamente. Deixo algumas coisas prontas na noite anterior. O café da manhã é um dos momentos mais importante para mim. É, com certeza, minha refeição preferida. Nesse momento olho as mensagens no celular, penso no que tenho para fazer durante o dia e parto para a produtora onde trabalho. No carro ou no metrô acabo formando pensamentos que podem se tornar um texto… ou não.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Costumava ser durante a madrugada, mas acho que o tempo me ensinou a trabalhar melhor de manhã. Escrita para mim é prática diária. Não crio um ritual. Sento e escrevo. Sempre.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Escrever é algo orgânico. Escrevo sempre um pouco sobre o que me incomoda no mundo. Não tenho metas, mas uma inquietação por querer falar sobre o que está pulsando dentro de mim diariamente. A escrita é uma necessidade e também um prazer.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Tenho cadernos sem pauta comigo onde faço anotações, lembretes, ideias. A escrita ocorre como uma urgência. Muitas vezes a necessidade nasce em um momento não apropriado. Então pego o caderno e deixo as ideias fluírem. Geralmente vem como uma tormenta, jorrando sem parar, até que eu tenha concluído. Quando dou a sorte de estar próximo ao computador ou celular para registrar, acaba sendo mais organizado. Mas não escolho o momento ou a forma que irei escrever.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Escrevendo em projetos diferentes ao mesmo tempo consigo deixar a ansiedade para trás. Quando um projeto está parado, parto para outro e depois retorno ao anterior. Prazos também funcionam bem comigo. A pressão por uma entrega é um catalizador da criatividade.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Faço muitas publicações no Facebook, no perfil pessoal ou na página Senti Na Pele. Leio no máximo duas vezes antes de publicar. A revisão mais criteriosa, geralmente, ocorre após a publicação. Vejo a reação dos leitores, releio com outra ótica, tomo gosto pelo texto e então vou modificando caso ache necessário. Costumo pensar que após a publicação o texto deixa de ser meu. Ele ganha vida própria e segue seu caminho na imaginação de cada leitor. Então busco mudar pouco. Ele é o que é.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Tenho uma boa relação com a tecnologia. Escrevo bastante no celular, leio textos no Kindle, fico sentado por horas com o notebook, mas o papel é indispensável. Pequenas ideias são alocadas sempre no papel. Não consigo fazer anotações em um dispositivo digital. O papel segue sendo meu melhor amigo.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Leitura. Leitura. Leitura. Pesquisa. Vídeos. Referências sempre. Não creio, ao menos para mim, em uma escrita isolada do que ocorre no mundo. Tenho que estar sempre conectado com o que está acontecendo para que funcione. Ah, um fone de ouvidos e muita música. Escrever ouvindo música é muito melhor. Jazz, música clássica, rap…
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar aos seus primeiros escritos?
Hoje não espero uma “iluminação” para escrever. Aprendi que a prática diária leva ao crescimento. Eu diria ao Ernesto do passado: “Não tenha medo do que vão dizer. Escreva para si. Fale sobre o que você gostaria de ouvir. Não pense no que vão achar de você. Apenas escreva.”
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Quero escrever histórias sobre as masculinidades tóxicas. Repensar meu papel como homem no mundo, sobre ser um homem negro nessa sociedade racista e machista, sobre aprender a olhar para si, sobre ter sentimentos e não ter medo de falar disso. Acho que irá por este caminho.