Emerson Ademir Borges de Oliveira é doutor em Direito Constitucional pela Universidade de São Paulo e professor assistente na Universidade de Marília.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Não costumo acordar muito cedo. Para mim, o dia, em geral, começa por volta das 9 horas. Como tenho o hábito de trabalhar até muito tarde e prezo por minhas oito horas de sono, então prefiro acordar mais tarde e ter um rendimento melhor e mais adequado ao longo do dia.
Quando acordo, primeiro costumo dar uma olhada no celular, incluindo e-mails, mensagens e redes sociais. Após, vou até meu escritório, ligo o computador e leio alguma coisa. Em seguida, já começo a escrever ou produzir algo para a universidade em que trabalho.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
No período da noite. Como disse, não gosto de acordar muito cedo e como geralmente dou aulas no período noturno, então esse costuma ser o turno mais ativo do meu dia, o que faz com que a escrita também seja melhor desenvolvida no mesmo período.
Não tenho ritual de preparação para a escrita. Em regra, trata-se de uma organização pessoal. Quando preciso escrever sobre algo ou pretendo fazê-lo, eu coloco na minha lista de afazeres e o faço. Ligo o computador e começo a trabalhar.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Isso depende da obrigação. Por exemplo, quando tenho algo para escrever com prazo ou brevidade, faço de forma concentrada. Mas quando os escritos são feitos “sem pressa”, opto por fazê-los aos poucos, por dias ou semanas.
Não tenho metas diárias. Como disse, tudo depende da necessidade e da obrigação com a escrita. Nesses dias mesmo, uma editora pediu que eu e um amigo produzíssemos um material em coautoria, para uma determinada prova. Esse material exige que a escrita seja feita em menor tempo e é essa necessidade que direciona o ritmo da escrita.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
É um processo absolutamente natural. Faço como se estivesse fazendo qualquer outra coisa. Quando quero dirigir, entro no carro e dirijo. Quando quero escrever, sento no computador e escrevo. Sempre digo que escrever é uma prática. Aprende-se escrevendo e, principalmente, lendo. A partir de muita leitura e do costume com a escrita, o processo torna-se simples e automático. Basta querer escrever e o resultado ocorre.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Os principais entraves para mim são a falta de tempo, em vista de outras ocupações e os projetos longos, principalmente estes últimos. Atualmente, estou trabalhando em quatro projetos longos, que são desenvolvidos de forma lenta e paulatina. São os que mais me tiram o sono, justamente em vista da ansiedade em esgotá-los antes que outros apareçam. Não há remédio para isso, a não ser esforçar-se o máximo para tentar adiantá-los ou, como costumo fazer, dedicar um tempo mais concentrado a apenas um projeto longo, no intuito de finalizá-lo mais rapidamente, ao invés de ficar trabalhando na mesma velocidade em todos.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Uma vez. Não acho muito útil reler o texto que eu mesmo escrevi mais do que uma vez, pois dificilmente encontraria algo para mudar. Em geral, não costumo mostrá-los para outras pessoas, além dos próprios avaliadores, no caso de artigos ou livros. Algumas vezes, em vista da importância o faço, mas não é comum.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Sou totalmente tecnológico. Não escrevo nada à mão. Tudo que desenvolvo é no computador ou no celular. Para mim, a tecnologia é um grande ganho, em tempo e em informação. É claro que é preciso saber separar o joio do trigo, assim como jamais dispenso uma boa leitura manual. Mas o mundo atual exige adequação e preparo tecnológico para trabalhar e para divulgar o trabalho.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Da leitura e da docência. A leitura é uma fonte óbvia para alimentação de ideias. E quanto à docência sempre digo que aprendo muito com os alunos, tanto nos métodos e formas de explicação, quanto nas perguntas que recebo. Isso me alimenta para tentar ser mais criativo em meus escritos.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de sua tese?
A qualidade aumenta, sem dúvida. Como disse, só se aprende a escrever, escrevendo. Em vista das minhas atribuições na pós-graduação, meus textos tornaram-se mais rigorosos em termos científicos. De outro lado, em vista da docência na graduação e cursinhos, tiveram que ficar mais claros e de leitura agradável. Busco hoje escrever de forma científica e didática ao mesmo tempo.
Quanto à minha tese de doutorado, confesso que o resultado foi muito aquém do que eu mesmo esperava. De fato, o ineditismo que se espera de uma tese ficou bastante prejudicado pela exposição e pelo excesso de citações e referências. Não que não houvesse, mas sua identificação não foi muito precisa. Eu creio que a reescreveria totalmente nos dias atuais.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Na realidade, estou começando um projeto muito longo e complexo destinado aos estudantes de direito de uma maneira geral. Trata-se da coordenação, em conjunto com um colega, de algumas obras e a criação de uma nova metodologia de estudo. Este projeto irá me tomar bastante tempo pelos próximos meses e se constituirá em um dos maiores desafios de minha carreira.
Atualmente, não imagino nenhum livro que eu gostaria de ler e não existe. Na área do direito já se publicou sobre tudo.