Elson de Souza Ribeiro é historiador, escritor, professor e membro da União Brasileira de Escritores (Goiás).

Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Aprendi a “duras penas” romper com o estigma de geminiano, que geralmente é visto como alguém muito livre e sem planejamento. Eu tenho um cronograma diário, não só de escrita, mas também das atividades profissionais, que começam com o meu café as 05h30min da madrugada e minha caminhada no Parque.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Apesar de acordar cedo, acho mais proveitoso escrever no período da tarde e um pedaço da noite. Não tenho exatamente um ritual, entretanto, não abro mão do silêncio absoluto, uma música clássica num volume mínimo e uma caneca de café.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Tenho um envolvimento diário com a escrita, pois, semanalmente, escrevo uma resenha de uma obra literária, geralmente às segundas feiras. Escrevo crônicas e artigos de opinião para o Jornal do Tocantins e estou escrevendo meu segundo romance. Além disso, estou diariamente envolvido com as atividades da escola onde sou professor de História, envolvido com escrita. Tento sempre manter a meta de escrever uma página por dia.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Eu sempre considerei o começo de uma história como uma das etapas mais difíceis, pois o escritor precisa conquistar o leitor no primeiro parágrafo. Este movimento de transição da pesquisa para a escrita do enredo, talvez seja o tormento inicial para todos os escritores. Contudo, tenho conseguido algum êxito graças a um roteiro previamente elaborado, que inclui, além de toda a pesquisa realizada, as características dos personagens, a ambientação, a trama e uma trajetória pré-estabelecida que a história deva percorrer.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Eu tenho duas reações em relação aos momentos de bloqueios criativos e a procrastinação: primeiro eu faço uma pausa curta e depois retorno para aquela atividade, caso contrário, corro sério risco de acomodar e não retornar tão cedo. Afinal, o cérebro também adora uma sombra e água fresca. Durante o processo da escrita do meu primeiro romance, “A menina de Araxá”, eu passei todo o tempo ansioso e com este receio de não corresponder às expectativas do projeto que eu tinha proposto. Eu sou cronista e estava familiarizado com narrativas curtas, trabalhar com uma narrativa longa foi desafiador, pois eu não podia perder o fôlego.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Inicialmente, eu tive muita dificuldade em passar os meus textos para um leitor Beta, pois eu fazia uma idéia equivocada de que o meu texto podia sofrer amputações. Atualmente, mostro os meus textos para alguns professores de literatura dar uma avaliada inicial e recebo com atenção as suas observações. Posteriormente o material é enviado para uma leitura crítica e em seguida ele passa por quatro revisões ou mais.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
A tecnologia é minha parceira! Desde as primeiras anotações, os conteúdos das entrevistas e os rascunhos são executados no notebook. Quando estou na rua ou em convívio com outras pessoas, utilizo o bloco de notas do smartphone para anotar as curiosidades e os trejeitos que considero importantes na construção de um texto.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
As minhas ideias vêm, sem sombra de dúvidas, das observações de comportamentos alheios e dos meus próprios. As situações do cotidiano, a vida real e os dramas humanos são minhas matérias primas para as histórias que escrevo.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Muita coisa mudou no meu processo de escrita, afinal, quando escrevi o meu primeiro romance, não tinha o aprendizado adquirido através de cursos e leituras sobre escrita criativa. Hoje as minhas noções e percepções foram bastante ampliadas. Se eu pudesse voltar atrás nos primeiros escritos, certamente eu iria frear a minha ansiedade e não iria me preocupar em publicar com tanta pressa, negligenciando detalhes que podem empobrecer a obra.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Hoje, um pouco mais maduro, gostaria muito de escrever um romance de formação, explorando vários aspectos da minha família sem ficar com aquele rótulo de autobiografia. Explorar a História do Brasil e do mundo como pano de fundo, com personagens sofrendo na pele os impactos do momento histórico. Já comecei. No entanto, não tem prazo para conclusão. Talvez eu desejasse também ler um livro assim, embora, acho que este livro já existe.