Elika Takimoto é vencedora do Prêmio Saraiva de Literatura, doutora em Filosofia, mestre em História e professora de Física.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Não. Como sou professora e coordenadora de física do CEFET um dia jamais é como o que passou. Mas sempre que posso, começo o dia fazendo exercício físico. Pilates ou corrida. Quando não consigo pela manhã, procuro me exercitar pela tarde.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Não tem hora. Quando leio ou vejo algo que me inspira. Posso estar cansada, mas se algo despertar o interesse, desperta o corpo como um todo.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
“Não tenho meta. Mas quando alcanço, procuro dobrar a meta”. Essa frase famosa dita pela Dilma faz muito sentido para mim. Não tenho objetivo nenhum e nem compromisso já que não sou uma escritora, digamos, profissional. Mas há dias que bate aquela inspiração e escrevo por horas (já fiquei mais de doze horas sentada sem ao menos comer e nem beber nada tamanha foi a concentração). Depois que termino, prometo a mim mesma que escreverei com tanta dedicação todos os dias da minha vida. Mas nunca acontece por N motivos diferentes que passam desde a falta de tempo até a ausência total de inspiração.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
O mais difícil sempre para tudo que envolve demanda de energia seja ela física seja mental é começar. Mas quando recebemos, digamos, O Chamado, enquanto aquilo tudo não sai de dentro da gente em forma de palavras, sentimo-nos incomodados tal como se estivéssemos com uma dor. A gente adia, mas chega um momento que não aguentamos e pegamos o remédio, no caso, uma página em branca de um editor de texto.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Não lido com isso. Não tenho travas porque não considero a escrita uma obrigação. Sei que motivos jamais me faltarão para escrever. Não tenho medo de não corresponder às expectativas porque escrevo sobretudo para mim mesma. E ainda que fique ruim para muitos, quando termino um texto, dou-me por satisfeita tal como aqueles que saem de uma sessão de terapia. Os projetos longos não me geram ansiedade, pelo contrário. Trabalhar para mim é sinônimo de prazer. Se me proponho a fazer uma viagem, não tenho pressa de terminar. Quero aproveitar cada momento, cada paisagem que vai se fazendo na minha frente. Não me agita, pelo contrário, me acalma.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Depende do texto. Ler o que escrevo é a pior parte. Faço uma revisão rápida para ver se não há erros de português, cacofonias ou palavras repetidas. Já aconteceu muitas vezes de editar depois do texto estar já publicado.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Não sei escrever no papel mais. Escrevo muito no celular mesmo já que está literalmente na palma de nossa mão e, muitas vezes, a inspiração bate no meio da rua. Quando consigo, sento no escritório e escrevo no meu computador. Mas não é sempre que a vontade de escrever coincide com meus horários dentro de casa.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
As ideias vêm do mundo. Se olharmos qualquer coisa com atenção, veremos como tudo é interessante. Acho que o melhor hábito é ler. A leitura sempre me deixa mais atenta para essas delicadezas ou grosserias que nos tangenciam a todo momento. Quando digo ler, falo principalmente da literatura.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de sua tese?
Não acho que mudei por nunca ter tido um processo claro de escrita. Meu estilo é não ter estilo. Se estou feliz e lendo coisas leves, escrevo de forma leve. Se estou lendo Proust (por exemplo) e, portanto, com a concentração em alta, começo a escrever frases longas promovidas pela apneia treinada e incentivada pela leitura. Se pudesse voltar, diria a mim mesma: “Isso aí. Continue escrevendo sobre o que quiser.”
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Eu não sou de “querer fazer”. “Querer fazer” e “fazer”, para mim, são sinônimos. Portanto, todos os projetos que queria fazer já estão acontecendo. São vários, diga-se de passagem: peça de teatro infantil, livro de física de partículas para crianças, livro de filosofia para adolescentes, romance, livro de crônicas sobre meus filhos, livro sobre “sofrências”, livro sobre minha vida pelo subúrbio carioca…
Gostaria muito de ler Clarice Lispector, Rubem Alves, Zélia Gattai, Carlos Drummond, Rubem Braga… post mortem. Deve ser bem interessante, se houver vida além dessa que temos, a visão deles dessa nova experiência. Olha aí, acabei de ter uma ideia…