Elciana Goedert (Ciça) é poeta e professora.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Não tenho uma rotina fixa, pois trabalho na Secretaria de Educação de meu estado além de ser escritora. Essa rotina atualmente está mais ligada ao meu trabalho (onde exerço função técnico-pedagógica). Nele não me desvinculo do papel de escritora, pois acabo escrevendo também, apesar de ser uma escrita técnica (tutoriais, orientações, planos de curso, etc).
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Para escrever preciso estar com a “cabeça boa”, sem estresses. As ideias surgem em minha cabeça de acordo com alguma situação inspiradora que vivencio, podendo estar relacionadas comigo mesma ou com algo que acontece à minha volta (fatos regionais, nacionais ou mundiais). Às vezes escrevo “por encomenda”, quando algum amigo me pede pra homenagear alguém. Já acordei durante a noite com ideias, e tive que anotar em meu celular.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Como já mencionei, escrevo quando a “inspiração” surge. Até escrevi algo sobre isso:
AGRADÁVEL COMPANHIA
Essa danada da inspiração
É uma menina caprichosa
Se forçada, é uma aflição
Atrapalha até nossa prosa
Há dias em que se esconde
Por capricho, ou por receio
Noutros, vem de não sei onde
E mostra a todos a que veio
Torna a nossa vida especial
Tê-la conosco como companhia
Anseio de quase todo mortal
E se instituída a parceria
Inicia-se um fértil ritual
Com o poeta, cria poesia.
Elciana Goedert (Ciça)
(In: Poesias Escolhidas: O Melhor de Mim Vol. II, pg 118)
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Não sou muito de ficar pesquisando e anotando pra depois organizar o poema, por exemplo. Inicio uma linha de pensamento e ela vai fluindo na construção do poema.
“A inspiração é assim:
Tem dias que não larga do meu pé
Em outros, foge de mim…”
Elciana Goedert (Ciça)
In: Nutrisia (2017)
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Não tenho preguiça de escrever e tampouco fico neurótica se enfrento um período de travamento da escrita. Tenho uma boa reserva de paciência e não meu preocupo em corresponder as expectativas alheias. Muitas vezes acho que escrevo pra mim mesma… (risos) Talvez porquê eu não escreva sob demanda, pois sou uma escritora independente.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Ao término de uma escrita, releio e vou lapidando. Algumas vezes mostro para quem está próximo, quando termino de escrever, para observar a reação.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Minha formação acadêmica está diretamente ligada com a tecnologia: tenho especialização em tecnologias educacionais, e por isso ela sempre me acompanha nas escritas. Faço anotações no computador do trabalho, no notebook pessoal e principalmente no aplicativo de Notas do meu celular. Mas na ausência destes, uso a tecnologia primitiva da caneta e papel… (risos)
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
As ideias surgem motivadas principalmente por um gatilho emocional. Tenho o hábito de pesquisar imagens que me direcionam pra algum tema de escrita.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Escrevo poemas e pequenos textos desde a adolescência, mas somente em 2010 comecei a publicar o que escrevia em blogs e na minha página pessoal do Facebook. Logicamente que com o tempo vamos aperfeiçoando a escrita, mas é interessante notar que o nosso estilo permanece. Quando retorno aos meus escritos percebo que atualmente sou mais sintética nas ideias.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Meu projeto mais aguardado é poder dedicar-me mais à literatura: ter mais tempo para ler, pesquisar, escrever e até dedicar-me a projetos de diagramação/publicação de outros escritores. Faço parte do Coletivo Marianas, onde publicamos escritos de mulheres que geralmente não seriam publicadas por editoras e não teriam condições de bancar uma publicação sozinhas. Mas este é um projeto que está aguardando minha aposentadoria. Então ainda vai demorar um pouquinho…
O livro que gostaria de ler e ainda não existe? Hum… o livro das minhas memórias! (risos)