Elaise Lima é escritora.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Começo o dia levantando sempre às 6h. É um hábito adquirido há anos. Por mais que algumas vezes eu tente dormir até mais tarde, simplesmente não consigo.
Minha rotina matinal inclui cuidar em primeiro lugar das necessidades dos filhos e dos animais que crio. Organizo todo o meu dia logo nas primeiras horas da manhã e gosto de seguir o roteiro. Anoto tudo o que preciso fazer em uma agenda. Não fico satisfeita com imprevistos, por isso evito-os ao máximo.
No geral meus dias começam tranquilos, também gosto de reservar um tempo para me conectar com o lado espiritual. Orações também fazem parte da minha rotina, me sinto mais fortalecida assim.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Eu adoraria poder escrever pela manhã, com a mente descansada e a casa silenciosa, mas raramente isso é possível, por isso tenho que me conformar em escrever “quando puder…” É algo que desejo mudar mais adiante, quando meus filhos forem maiores, mas, no momento, não posso fazer muito a esse respeito.
Minha preparação para a escrita inclui refletir muito sobre os personagens, a vida que levam, as características físicas, a personalidade… Quando sento para digitar já tenho praticamente tudo em mente. É claro que, ao escrever, outras coisas vão surgindo, a história parece ir criando vida própria em algumas situações. É algo mágico mesmo. É o personagem criando a sua própria vida.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Adoraria poder escrever todos os dias. Tenho muitas histórias em mente. Mais histórias do que tempo disponível para escrevê-las. Costumo imaginar que quando eu for velhinha, não ficarei ociosa, pois pretendo escrever muito. Mas desejo sinceramente não precisar ter que esperar até lá. Alguns projetos preciso escrever logo.
Não faço metas em relação à escrita, pois se não cumpri-las posso ficar frustrada. Prefiro amadurecer tudo em minha mente, fazer pequenas anotações para não perder algumas ideias e escrever quando tiver tempo disponível. A boa notícia é que escrevo muito rápido. Por já ter organizado muita coisa em mente, o processo de escrever acontece de forma fácil.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Depois de compilar as notas que inclui pesquisas sobre lugares, costumes, não é difícil começar. Eu gosto de pesquisar imagens que possam me ajudar a visualizar ambientes em que posso inserir na história. Ouvir música também me ajuda bastante. Através da letra da música posso imaginar situações que me levam a criar uma história. Tudo se torna fonte de inspiração, partes de uma conversa, algo que vejo na rua… Vou esclarecer isso melhor adiante.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Ainda não tive travas para escrever, exceto a falta de tempo mesmo. Ansiedade e medo tive apenas ao escrever uma série. Os livros únicos são mais fáceis. É só escrever, revisar, publicar e ponto final. No caso da série que escrevi tive medo de não corresponder às expectativas porque os primeiros livros foram muito elogiados e eu me preocupei imensamente em dar aos leitores um final que correspondesse bem a tudo o que foi escrito anteriormente.
Agora estou escrevendo uma nova série e às vezes penso em só publicar o primeiro livro quando os demais já estiverem prontos. Isso é bem relativo porque a opinião do leitor às vezes pode lhe dar um novo olhar, mas às vezes pode bloquear a sua escrita devido ao desejo do autor de querer agradar a seus leitores.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Não gosto de revisar o que escrevo. Trabalhei alguns anos com revisão de livros. Revisar o que o outro escreve é muito melhor do que revisar o que você escreve. Não tenho paciência. Mas, é óbvio que passar por algumas revisões antes da publicação é fundamental. No que se refere à ortografia, eu procuro fazer a revisão à medida que vou escrevendo. Termino um ou dois capítulos e já reviso. Quanto ao contexto, mudo apenas algo que tenha ficado solto, mas raramente modifico a história.
Não tenho o hábito de mostrar a outras pessoas a história enquanto escrevo nem quando finalizo. Claro que opiniões são importantes, mas tenho receio de mudar as histórias para agradar e acabar perdendo a essência daquilo que acreditei desde o início.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Meu computador está sempre ligado durante o dia. Estou sempre conectada. Como trabalho em home-office isso não é algo difícil. Então, os rascunhos são feitos no computador mesmo, apenas se for uma frase, algo pequeno e aleatório que me vem em mente eu rabisco no papel mais próximo.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Leio muito. Leio livros desde pequena e isso facilita em termos de criatividade. Quando ouço música e assisto a vídeos musicais sempre surgem grandes ideias para escrever. Mas isso pode acontecer até mesmo quando participo de alguma conversa e alguém fala algo interessante. Pode acontecer até mesmo com posts divulgados em redes sociais. Vou citar exemplos. Outro dia vi um post no Facebook que falava sobre ser honesto. Dizia que ao encontrar um aparelho celular na rua deveríamos mantê-lo ligado e esperar o dono entrar em contato. Quando vi esse post, imaginei uma garota encontrando um celular na rua e guardando-o para esperar o contato do dono. O dono nada mais seria que um rapaz por quem ela logo sentiria uma conexão. O princípio de uma paixão surgiria ali, no encontro para devolver o aparelho. Não sei se tenho uma imaginação muito fértil, mas essas coisas simplesmente surgem em minha mente.
Outro dia eu estava caminhando na rua e ao passar por um supermercado vi um caminhão descarregando a mercadoria. Ao observar o caminhão, logo imaginei uma jovem mãe com seu pequeno filho fugindo de um esposo abusador. Ela pegaria carona com um caminhoneiro desconhecido que passaria pela cidade onde seus pais moravam. No longo percurso de volta à casa de seus pais, ela e o caminhoneiro se tornariam amigos, trocariam confidências. Passariam por estradas tranquilas com paisagens exuberantes… Tudo contribuindo para um belo romance.
Então, é isso. As ideias simplesmente surgem em minha mente.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Com certeza, assim como amadurecemos, a nossa escrita amadurece também. Tento me concentrar no que acho que seja importante para a história, no que caracteriza os personagens sem pensar se isso será popular ou não. Tento não pensar em um público-alvo, e sim tornar a escrita pura, sem interferências de mercado. Tento ser fiel às minhas ideias.
Algo que eu aprendi foi a não ter pressa, a esperar as ideias amadurecerem. A parar uma história e se dedicar a outra se isso for preciso e deixar que no tempo certo tudo se concretize.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Sempre gostei de romances com personagens bem próximos da realidade. Gosto de histórias que se assemelhem a de pessoas normais. Mas também acho interessante o gênero Fantasia e sempre quis criar algo referente a vampiros, anjos. Na verdade esse projeto se concretizou e eu achava que tinha colocado um ponto final nele. No entanto, foi com esse tipo de livro que consegui alcançar mais leitores e os mesmos me pediram para continuar escrevendo sobre vampiros e anjos.
Ainda tenho muito o que aprender sobre o gênero da fantasia. Quero criar algo que mesmo sendo irreal faça o leitor sentir que faz parte desse universo. Eu gostaria de criar um ser sobrenatural inédito. Enquanto ele ainda não surge, vou trabalhando com uma nova espécie de vampiros e seres angelicais.