Eduardo Sarquis Soares é professor de Ciências, Tecnologia e Sociedade na Universidade Federal de São João Del Rei.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Sim: um pouco de alongamento, café da manhã, molhar jardim ou varrer passeios… pequenos trabalhos. Não enfrento o computador logo que me levanto.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Costumo “embalar” no final da tarde. Às vezes, em meia hora, nesse horário, meu trabalho rende por horas gastas em outros.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Não tenho meta de escrita diária, embora as exigências de tempo às veze me obriguem a ficar mais tempo no trabalho do que eu ficaria se não tivesse o compromisso da entrega.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
A produção da estrutura do texto, antes de iniciá-lo propriamente, é um elemento muito importante para garantir coerência na escrita. Já escrevi algumas histórias infantis com essa estrutura em mente, sem colocá-la no papel previamente. No entanto, quando escrevo algo técnico, como livros de matemática para crianças ou educadores, a estrutura, normalmente feita em tópicos, serve como uma referência constante. Entender essa necessidade me custou muito trabalho e tempo. A produção do meu primeiro livro de matemática para crianças demorou cinco anos. Isso aconteceu principalmente porque escrevi sem definir de antemão todas as etapas. Em contraste, um ano bastou para a produção do quarto livro. No caso do meu doutorado, fui ao escritório do editor dos meus livros (Adilson Rodrigues) e discuti com ele, em uma manhã, todos os itens que fariam parte da tese. Depois disso, realmente foi muito fácil desenvolvê-la.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Se a ansiedade ataca, as melhores coisas a fazer são dormir e meditar. Quando estou ansioso, preciso parar; o trabalho não avança. Às vezes, deixar o texto de lado por alguns dias ajuda bastante. Enquanto estou envolvido em outras atividades, surgem soluções brilhantes para problemas da escrita.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Meus textos são necessariamente revisados muitas vezes porque precisamos tomar o máximo de cuidado com os textos de livros técnicos.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Trabalho direto no computador. Uso basicamente o editor de textos e um programa para desenhos. Em livros de matemática, é importante enviar à editora os desenhos com o máximo de detalhes. Os desenhistas, em geral, não entendem de matemática e, mesmo com minha preocupação com os detalhes, cometem inúmeros erros.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Ideias surgem de maneiras bastante diferentes. As melhores delas ocorrem quando não estou envolvido com o trabalho diretamente: em férias, fazendo atividades manuais, exercícios físicos, etc.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de sua tese?
Percebo uma mudança radical entre o mestrado e o doutorado. Para o mestrado, foi preciso contratar uma pessoa para “arrumar” meu texto. Segundo meu orientador, na época, as ideias estavam todas lá, algumas eram muito boas, mas o texto era “uma bagunça”. Na defesa da tese, a banca elogiou bastante “meu texto”. Para o doutorado, o texto final não passou por revisão de qualquer especialista. Novamente fui elogiado pela boa qualidade da escrita. Entre o mestrado e o doutorado, escrevi os livros de matemática; ou seja, aprendi a escrever.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Estou iniciando um projeto sobre uma conjectura que desenvolvi acerca do comportamento físico do planeta terra há 300 milhões de anos. Na verdade, a conjectura faz sentido, se comprovada, causaria um impacto considerável nas ciências (sem falsa modéstia). No entanto, não tenho recursos tecnológicos para investigá-la. A explicação da conjectura vale por um livro de divulgação científica para leigos.